Quando inaugurado há 25 anos, o Santa Clara Eco Resort, em Dourado (SP), não havia frigobar, telefone, ar condicionado ou televisão nos quartos. Mesmo assim já foi considerado o melhor hotel da região de Brotas.
Hoje, o resort de 146 apartamentos de luxo – equipados com oito piscinas e até máquinas Starbucks – é o irmão mais velho do Clara Ibiúna Resorttambém no interior de São Paulo, com 164 acomodações e parte da Clara Resorts.
Além deles, o grupo liderado pelo CEO Taiza Krueder investirá um número acima de R$ 300 milhões nos próximos seis anos com duas novas propriedades no entorno do Instituto Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo, em Brumadinho (MG), a 60 km de Belo Horizonte.
“Esta é a primeira vez que tenho um hotel em um destino. Normalmente as pessoas vão para os resorts Clara e ficam uma semana, então vou usar as mesmas estruturas e encantamento que já tenho em outros hotéis do Inhotim, pois acredito que é um lugar que deve ser saboreado aos poucos”, diz Taiza, que, além de CEO, é proprietária do grupo hoteleiro.
Inauguração no Inhotim
A primeira fase do projeto está prevista para ser inaugurada em final de novembro este ano, pois a estrutura já existia, mas estava ociosa desde 2014. O novo hotel de luxo terá 46 bangalôs, duas piscinas, sauna, spa, dois restaurantes, brinquedoteca, academia e espaço para eventos.
Todas as acomodações possuem varanda com lareira, banheiras esculpidas em pedra-sabão, cama de casal, sofá, copa para bebês e adega. A aposta da Taiza é ser fiel ao estilo dos apartamentos família chique dos balneários de Dourado e Ibiúna. As tarifas também serão semelhantes às já praticadas nesses imóveis, com preços a partir de cerca de R$ 2 mil no Santa Clara Eco e R$ 2,3 mil no Clara Ibiúna.
“Não é uma diária barata, mas é pensão completa. Há bebidas Starbucks durante as refeições, máquinas com café, cappuccinos e chocolates gratuitos nos quartos, muita monitoria e muitos shows. Entregamos o que o cliente comprou e vou levar essa mentalidade para o Inhotim”, revela o CEO.
Novo resort até 2029
Uma das vantagens prometidas aos hóspedes do Inhotim é a utilização dos jardins e demais espaços nos horários em que não estão abertos ao público em geral. Segundo Bernardo Paz, fundador do Inhotim, o museu recebe até cinco mil pessoas por dia.
“Estou construindo um hotel para os mineiros, então eles voltam com frequência. Na Clara as pessoas voltam de cinco a sete vezes por ano, mas dificilmente um paulistano retornará ao Inhotim com essa frequência”, confessa a empresária. Para isso, os restaurantes devem incorporar a culinária mineira e todo o projeto foi realizado com a ajuda de artesãos locais.
Além desta primeira etapa, expansão com mais 60 acomodações Deve ser entregue até o ano que vem, completo com spa no meio da mata e centro de eventos. Parte do investimento milionário também será destinada a um outro resort planejado para 2029com 150 acomodações a 700 metros do museu.
Brinco que o maior investidor do Inhotim não é a Vale, sou eu. Fazer algo bem custa caro. Temos uma operação muito saudável, não temos sócio, não temos investidor, então operamos com renda própria de forma saudável e do tamanho das nossas pernas
Taiza Krueder
De olho no turismo brasileiro
Se os mineiros são o foco da futura operação do Inhotim, os paulistas já são figura marcante entre a maioria dos hóspedes do Santa Clara Eco e Clara Ibiúna, principalmente famílias que se mudam da capital paulista durante férias e feriados.
Mas e os turistas estrangeiros? Eles ainda representam uma pequena parcela dos turistas nacionais. Para se ter uma ideia, quase seis milhões de visitantes estrangeiros foram registrados no Brasil em 2023, segundo dados divulgados pela Embratur em parceria com o Ministério do Turismo e a Polícia Federal.
“O que temos que entender é que o Brasil é lindo, mas também tem que ser fácil. Tem que ser seguro, tem que ter uma imagem construída ali. Aqueles que têm menos são mais flexíveis. Acho que temos que flexibilizar um pouco a entrada de estrangeiros, melhorar a segurança e a estrutura para o turismo. Hoje em dia existe um ‘custo Brasil’ muito caro para o turismo”, aponta Taiza Krueder.
Segundo o CEO, a viabilidade do turismo deve ocorrer seguindo aspectos estruturais, como maior flexibilidade nas leis trabalhistas no setor de serviços, e também na educação. “Existem pouquíssimas faculdades no país que formam essa mão de obra. Cerca de 92% da minha equipe de Ibiúna trabalhava na fazenda antes de ir para o hotel. Não há pessoas preparadas”, argumenta.
Para reverter isso, a Clara Resorts conta com uma academia que oferece treinamento para funcionários de todos os setores e, para quem quiser ir mais longe, oferece auxílio de 50% do custo dos estudos em outras instituições.
Na visão do profissional, o A tendência é que os padrões gerais melhorem, principalmente com a chegada de grandes grupos hoteleiros em solo nacional, que deverão injetar R$ 5,7 bilhões no país até 2027. “Grandes marcas virão para cá, então tudo eleva o nível. Mas o Brasil não é para amadores. Tanto que as melhores redes do país não são as internacionais, mas as nacionais, como Fasano, Emiliano e até nós”.
Uma preocupação, porém, permanece no ar. “Espero que tomem cuidado com os destinos que viraram moda para que não sejam destruídos. Minha conversa com o Inhotim é que vou ajudá-los em tudo que precisarem. Não adianta ter um hotel à beira-mar e deixá-lo poluído, por exemplo.”
Sustentabilidade como valor indiscutível
Aqui também entra a questão sustentabilidadeo que, na opinião do CEO, não é uma tendência, mas sim um valor que veio para ficar.
“Acredito que grande parte do nosso sucesso se deve à nossa mentalidade sustentável. Mas não faço isso pelo lucro de volta. Eu faço isso porque é certo. Qualquer marca que não entenda isso terá um problema. Fico horrorizada com a quantidade de plástico quando vou para outros hotéis”, categoriza.
Estimativas do grupo Clara Resorts indicam que 200 mil garrafas plásticas por ano deixam de ser jogadas fora em cada hotel devido à implementação de filtros de água em todas as acomodações. “Desisti de vender água nos quartos. A conta vale a pena? É um princípio que, para mim, fecha. Infelizmente, não é uma situação em que todos ganham”, diz ele.
Cada vez mais o luxo será o contacto com a natureza e o contacto com as nossas raízes. Significa ter verdadeiro cuidado com a sustentabilidade e trazer conforto aos hóspedes
Taiza Krueder
Ó contato com a natureza É um dos principais atrativos que os hóspedes procuram nos resorts Taiza, tanto que ambas as propriedades em São Paulo são cercadas por 70% de floresta. Há quase uma década, Taiza trocou uma plantação de cana-de-açúcar no hotel Dourado pelo plantio de 50 mil seringueiras em sistema agroflorestal. O resultado é muito satisfatório: hoje há vários tucanos e macacos que se alimentam de frutas e até o látex deverá ser extraído em breve.
Outra iniciativa alinhada à agenda ESG foi a criação de um imposto social de R$ 24 destinado a ONGs e instituições ambientais como APAE e GRAACC. Apesar de voluntário, Taiza afirma que 97% dos hóspedes aderem ao valor. “É também despertar um pouco do poder da doação brasileira. Doamos muito pouco, principalmente quem pode”, argumenta.
Projetos futuros
Sobre Foram investidos R$ 150 milhões em melhorias nos hotéis da marca em São Paulo no ano passado, o que não significa que os imóveis serão abandonados num futuro próximo. Para o próximo ano já estão previstas a construção de um salão de eventos em Dourado e uma pequena ampliação do salão Ibiúna, com salas voltadas para um público eventos premiumcom marcas como Iguatemi, Dior e Land Rover no mix.
As mudanças acompanham o Aumento de 21% no faturamento da Clara Ibiúna com eventos corporativos em 2023, nicho que o grupo está de olho. “Tenho que atender um público multifacetado. É muito comum uma pessoa vir com um evento e voltar com a família e vice-versa. Tenho uma alta taxa de retorno de ambos os públicos”, relata Taiza.
Outros quatro quartos do mesmo hotel estão na mira da empresária para serem transformados em suítes presidenciais, completas com piscinas privativas. A primeira ala de quartos construída em Ibiúna, inaugurada no final de 2017, também passará por reformas.
Além dos planos de expansão do grupo para os próximos anos, com novas áreas e hotéis, Taiza não exclui a ideia de um nova propriedade. “Tenho conversas com o Nordeste, mas ainda não encontrei nada que me chame a atenção. Mas acho que inevitavelmente acabaremos por ter um hotel na praia”, confessa.