Ó Japãopaís de cultura milenar localizado no Oceano Pacífico, se tornou um dos destinos da moda em 2024, segundo especialistas ouvidos por CNN. Várias celebridades, como Bruna Marquezine, Sasha Isso é João Guilherme, visitou a ilha e partilhou os momentos nas redes sociais. Mas será que só isso foi suficiente para que o destino se tornasse um sonho de consumo dos brasileiros?
Segundo dados da Agência de Turismo do Japão, o Japão quebrou este ano um recorde histórico de turistas, recebendo mais de 17 milhões de visitantes em seis meses. No ano passado, de janeiro a dezembro, foram cerca de 10 milhões. A impressão que dá é que o lugar virou moda de repente — mas, na verdade, não foi bem assim.
O especialista Tatiana Marodinum estudante de doutorado em turismo da Universidade de Caxias do Sul, comentou CNN Viagens e Gastronomia sobre o que chama a atenção dos brasileiros no Japão. Para ela, a cultura exótica, o modo de viver, as construções antigas, a religião e a gastronomia são alguns dos atrativos da ilha.
A empresária Patrícia Bianco e o chef Tadashi Shiraishi, o casal à frente do grupo Omotebako, de São Paulo, que inclui o popular restaurante japonês Kanoe, também percebe os mesmos interesses dos clientes que levam anualmente ao Japão. Um dos principais focos das viagens, aliás, é a gastronomia.
“Para nós, a alimentação é um meio de conectar nossos clientes com o Cultura japonesa holisticamente: seus hábitos, seus valores, sua reverência e respeito ao processo, à alimentação e aos profissionais”, afirma.
Os empresários também afirmam que o interesse e a procura por este tipo de viagem aumentaram Nos últimos anos. “A tal ponto que atendemos outras agências de viagens, turistas que nunca sentaram no balcão Kanoe — e têm interesse em orientação especializada, curadoria e experiência prévia no Japão para minimizar erros, riscos e aproveitar a viagem com o conceito personalizado que criamos” , afirmaram.
Esse foi o caso do influenciador Lu Ferreira, que decidiu visitar o Japão após anos admirando a cultura do país, em 2024. Durante 22 dias na ilha, ela visitou cidades como Tóquio, Osaka e Kyoto. Na reportagem, ela disse que era o destino dos seus sonhos desde a faculdade de design gráfico.
“A primeira vez que vi as embalagens de um supermercado japonês, na Liberdade, em São Paulo, fiquei fascinada em como a comunicação visual deles é muito diferente da nossa”, disse ela. “Chegou esse ano, achei que era hora de realizar esse sonho que estava adiando há muito tempo. Afinal, é uma viagem que exige muito planejamento, além de ser mais cara.”
De tudo, o que mais chamou a atenção de Lu foi a diferença cultural entre o Brasil e o Japão — distinção que ela via até em shopping centers. “Tudo é tão diferente que até coisas banais são interessantes, como o ambiente de uma loja, que aqui costuma ser muito barulhento, enquanto ali [a prioridade] É silêncio”, comenta.
Embora os influenciadores desempenhem um papel fundamental neste cenário, os especialistas entrevistados pelo CNN Viagens e Gastronomia discutir como o fim do visto entre Brasil e Japão, no final de 2023, incentivou o público a conhecer o país. Para eles, motivos históricos também inspiram, principalmente, os brasileiros a visitarem a ilha.
Fim dos requisitos de visto
Buscas por viagens ao Japão aumentam 135% para brasileiros após isenção de visto, segundo pesquisa de 2023 do metabuscador Kayak, em comparação a 2022. O professor Tatiana Marodin salienta que esta medida foi essencial para o boom turístico — já que o processo de obtenção de autorização de entrada era mais difícil do que para países como os Estados Unidos e o Canadá.
“O Japão teve um dos processos de visto mais burocráticos que conhecemos”, afirma o especialista. “Era necessário um cronograma do que você faria diariamente – e isso era desanimador.”
Agora o professor Thiago Alisespecialista em turismo e mobilidade da EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP), diz acreditar que o fim da necessidade de visto japonês para brasileiros teve certo impacto na escolha do país japonês como país destino, mas afirma que é preciso ter cuidado com essa leitura.
“Arrisco dizer que o Brasil não é um mercado prioritário para o Japão. A política de vistos tende a melhorar ou ampliar as possibilidades de mais brasileiros irem ao país, mas eu diria que para o Japão não”, afirmou.
Ele comenta que as nações que mais enviaram passageiros ao Japão foram as vizinhas, como China, Hong Kong, NÓS. Isso ocorre pela proximidade geográfica dessas nações com a ilha — sendo a distância um dos motivos que impede o Brasil de ter mais sucesso para os japoneses.
“A diversidade de opções que os japoneses podem ter além do Brasil para turismo é outro motivo, e o tipo de produto que o Brasil oferece pode não ser exatamente o que os japoneses mais procuram nas férias”, aponta Thiago.
Mesmo assim, ele vê a medida de vistos interessante para o Japão — pois envolve menos gastos e burocracia. Ele também defende que a relação histórica entre os dois países, ocorrida principalmente após a migração japonesa para o Brasil, há mais de um século, cuja comunidade é a maior fora da ilha, é outro motivo para explicar esse boom.
“[O visto] É uma facilitação de um grupo específico, os brasileiros, que pode aumentar o número de visitantes ao país. Especialmente porque estes dois países [Japão e Brasil] estão intimamente ligados do ponto de vista político e cultural há mais de um século”, explica o especialista.
Cenário econômico mundial
Marodin ainda analisa o cenário econômico mundialcom o Guerra Rússia e Ucrânia e o período pré e pós-pandemia, como uma das razões do atual sucesso do Japão como destino turístico. Isto porque os preços dos hotéis, por exemplo, eram mais baratos em todo o mundo antes destes acontecimentos históricos. Depois, ficaram mais caros — enquanto os preços no Japão, que já eram elevados, permaneceram praticamente os mesmos.
Dados recentes do Eurostat apontam para um crescimento superior ao esperado da economia europeia nos três meses até Junho, mas mesmo assim, as perspectivas para 2024 permanecem pessimistas.
“Só para você ter uma ideia: há hotéis em Amsterdã, na Holanda, que são mais caros que no Japão. Ou seja, caro por caro, as pessoas estão aproveitando para conhecer o Japão. A ilha tem um inflação muito baixa — as coisas estão praticamente na mesma faixa de preço de 10 ou 15 anos atrás”, disse ele.
Esta consistência inflacionária não ocorreu na Europa, especialmente depois da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, diz Marodin — mas estes destinos continuam a ser alvo de procura excessiva. “Com o medo de cortar gás e energia para ar condicionado, [os preços] acabou aumentando”, acrescentou.
O Japão não é o único destino no momento, dizem os dois especialistas entrevistados pela CNN. Outros locais, como Itália Isso é Espanhacontinuam a ser uma tendência – e enfrentando outro problema: o Turismo em massa, cujo excesso de viajantes atrapalha a qualidade de vida dos moradores locais. Por enquanto, isso ainda não acontece em toda a ilha, mas algumas ruas já foram fechadas para preservar o bem-estar dos japoneses. Este é, então, o ponto que o governo precisa prestar atenção com o atual sucesso turístico.
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