A relação entre o vinho e madeira remonta a séculos. Este link nos faz olhar para as formas mais “eficazes” de armazenar e movimentar a bebida da história.
Com a chegada da tecnologia e de novas técnicas, a madeira passou a ser utilizada em “doses programadas” e tornou-se um certo indicativo da origem dos rótulos que costumamos experimentar.
Há 80 anos, apenas os Grand Crus franceses submetiam as bebidas a esse processo, que se tornou “comum”, utilizado em demasia pelos grandes produtores.
Sabe aquele copo que você serve e rapidamente sente aromas de defumado, torrado, tabaco ou até mesmo de chocolate? Aí o efeito da madeira no vinho está presente com as principais características expostas: aromas empireumáticostambém chamado de terciário.
A madeira pode ser dividida em pelo menos três funções. O primeiro destina-se ao envelhecimento dos vinhos, aqueles que são considerados os melhores (cerca de 5% da produção mundial) e que irão melhorar com o tempo. Aqui a bebida “descansa” durante meses.
Para vinhos envelhecidos, este processo é como um “descanso” para a bebida acabada. Aqui, os elagitaninos (propriedade derivada da tosta da barrica) estabilizam a “rusticidade” do vinho jovem e tornam-no mais elegante e duradouro, mas com alguma perda de aromas e sabores frutados. Na verdade, é importante destacar que menos de 5% dos vinhos produzidos em todo o planeta são adequados para envelhecer.
Para vinhos recomendados para consumo de curto a médio prazo, a barrica serve como um “aditivo” que dá corpo e dá uma certa “força” aos rótulos.
Outra função da barrica, mas específica para os vinhos brancos, é a fermentação. Em vez de utilizar grandes cubas de inox ou ovos de concreto, o processo de fermentação é feito na própria madeira. A opção é difícil, envolve grandes perdas por oxigenação, mas confere ao vinho uma integração entre a madeira e a bebida difícil de conseguir.
Sei que os conceitos muitas vezes são enfadonhos de entender, mas eles nos ajudam a compreender a complexidade e o valor dos procedimentos quando usados com sabedoria.
A questão é que, com o passar dos anos, beber “vinho amadeirado” virou sinônimo de beber “bom vinho”. Nesse sentido, fica claro que as vinícolas que possuem uma proposta mais comercial usam e abusam de recursos e “educam” o paladar dos novos consumidores brasileiros.
É difícil não encontrar um selo do novo mundo, principalmente da Argentina e do Chile, que não tenha essa proposta de “porrada” no uso da madeira. Mesmo com tipos de uvas diferentes, a sensação é que os vinhos são praticamente iguais.
Quando participo de feiras de vinhos, voltadas ao consumidor final, sempre observo as conversas da clientela e ouço algumas frases como “não, não, esse aqui é muito fraco, não dá nem para sentir a adstringência na boca”, ou outras ousadas afirmações, como “pinot noir parece vinho aguado”.
Eu sei que não se pode discutir gosto, mas não estamos falando disso aqui. As conclusões resultam de associações erradas sobre como deveria ser um vinho.
Aliás, fica aqui também a ressalva de que muitos vinhos de qualidade inferior ou que são “restos da prensa” passam pela madeira para esconda problemas e ganhe mais valor na hora da venda.
Quando você chegar aqui, você vai me perguntar: “Vinho com madeira faz mal, então?” A resposta será: não! Vinhos envelhecidos em barricas são maravilhosos, mas na hora certa!
A explosão de sabores e aromas são uma das minhas maiores paixões no mundo do vinho, sendo ideais para partilhar à mesa com churrascos, preparações com carnes vermelhas e até massas com muito molho num dia frio.
Sem falar nos clássicos da Borgonha, da Toscana ou do Ródano que dispensam apresentações e são como uma “obra de arte” para os conhecedores.
Porém, você não quer fazer uma roda de amigos em volta da piscina apenas com vinhos “amadeirados”. É preciso diversificar, valorizar rótulos que enchem o seu copo de aromas florais, frutados e frescos. Assim saberemos que o vinho é a bebida mais versátil que temos à nossa disposição!
Sobre Stêvão Limana
Stêvão Limana é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com pós-graduação em enologia, candidato a sommelier profissional e maratonista nas horas vagas. Na TV fala de política e eleições, enquanto na internet se concentra em vinho e gastronomia.
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