Algumas pessoas adoram, algumas pessoas odeiam. Contudo, o que não se pode negar é que o frio vai bem com sopas e caldos.
A arte de misturar carnes, legumes, grãos e água está presente no cotidiano das famílias brasileiras há séculos, mas principalmente nas lembranças das receitas das avós que são — cá entre nós — as mestras na hora de preparar a iguaria.
Então, porque não aproveitar os dias frios e acompanhar sopas com vinho? Existem combinações que são irresistíveis.
Para oferecer as melhores sugestões, perguntamos a sommeliers de restaurantes renomados e importadores de todo o país quais são as melhores combinações.
1. Sopa Capeletti em brodo
Capeletti em sopa de brodo, também chamado de agnoline, é um cozinha italiana clássica e as casas das “nonnas” da Serra Gaúcha.
Essa foi a combinação que fez o sommelier Tiago Locatelli, da Importadora Decanter, “adotar” uma harmonização que traz na taça o vinho Valpolicella, corte clássico da região de Veneto, norte da Itália, composto pelas uvas Corvina, Corvinone e Rondinella.
“Esta é uma sopa que traz tantas boas lembranças de infância. Para harmonizar minha sugestão é um Valpolicella da vinícola Ca’ La Bionda. É uma empresa que admiro muito e que entrega um vinho muito elegante e requintado, com aromas a pequenos frutos vermelhos, violetas e rosas.”
Segundo Tiago, os aromas complementam o perfume de “um brodo bem executado”, além da acidez fresca e taninos delicados equilibrando a textura da massa e os sabores complexos.
2. Sopa de cebola francesa gratinada
Servido com queijo Gruyère e pão torrado, Sopa de cebola exala cremosidade e intensidade de sabores.
Para harmonizar perfeitamente, a dica vem direto da França com a sommelière da loja Divvino Paris, Marina Giuberti.
“Precisamos de um vinho que equilibre os aromas marcantes deste prato. A escolha, então, é um branco suave com untuoso e aromático como os vinhos da Alsácia ou das uvas desta região, como Gewürztraminer, Moscato e Pinot Gris. Um Torrontés argentino ou um Viognier do norte do Ródano também funcionam muito bem.”
Marina destaca que, além dos vinhos europeus, as mesmas variedades produzidas no Brasil vão muito bem, principalmente neste momento difícil vivido pelos viticultores gaúchos. As sugestões são:
- Luiz Argenta – LA Gewurztraminer (Flores da Cunha/RS);
- Valparaíso – Naturo Torrontés (Barão/RS);
- Maison Blanche – Nature Montagne-Saint-Émilion 2012 (Bordéus/França).
3. Caldo verde com pedaços de linguiça
O Caldo Verde é um prato genuinamente português, mas que se espalhou pelo mundo e criou raízes e temperos típicos do Brasil. A receita leva repolho, pimenta verde, alho, mandioca, bacon e linguiça.
Porém, para ter uma combinação deliciosa com vinho, a sommelière e educadora de vinhos, Paula Daidone, dá a dica de preparar a refeição com os ingredientes em pedaços. Dessa forma, é possível “elevar a textura” do prato.
Apostar em ingredientes crocantes, como croutons, bacon, couve crocante, alho-poró frito e batata palha, é uma ótima opção. Esses itens “dão mais peso na hora de mastigar”.
“Para o caldo verde com linguiça grossa, a harmonização exige um vinho tinto de corpo médio, com taninos suaves e notas herbáceas, como um Cabernet Franc ou Carmenère. Para uma harmonização regional sugiro um vinho tinto do Tejo ou de Lisboa.”
4. Puchero
Originário da Espanha, Puchero é um guisado feito com grão de bico e carne de porco como base. acompanhado de verduras, legumes, tubérculos, ovos cozidos e temperos diversos. Em Portugal é conhecido como “cozido” e em algumas partes do Brasil como “sopão”.
Para Raphael Sena, sommelier da importadora Qualimpor, a melhor combinação é com um blend tinto que exala as uvas mais tradicionais de Portugal, o Esporão Reserva Tinto.
O lote contém Alicante Bouschet, Trincadeira, Touriga Nacional, Aragonez e Cabernet Sauvignon. O resultado é um rótulo com aromas a frutos pretos maduros, especiarias e um sabor harmonioso, persistente e equilibrado.
5. Minestrone
Os “legumes que você tem na geladeira” podem virar sopa, mas isso não é invenção sua, não!
A minestra ou minestrone é uma sopa italiana clássica feita com caldo de carne e vegetais, finalizado com queijo. É ideal para grandes porções em dias muito frios.
Para o enólogo Eduardo Valduga, da Famiglia Valduga, a melhor combinação é com um vinho que tenha estrutura frutada e taninos presentes para fazer com que prato e bebida se complementem.
A opção sugerida é um vinho da casa, chamado Terroir Exclusivo Syrah/Viogner, que mistura uvas tintas e brancas e proporciona corpo e refrescância.
Cuidado com a temperatura do vinho
Se você gosta de cozinhar enquanto “bebe” seu vinho, preste atenção na temperatura.. Não deixe a garrafa perto do fogão, pois as sopas fervem por horas, as panelas e o calor emanado das chamas podem atrapalhar a experiência.
Então, mantenha o seu vinho entre 14 ºC e 18 ºC e terceirize o “serviço”. Afinal você já está cozinhando, nada mais justo que a empresa cuide do vinho!
*Os textos publicados por Insiders e Colunistas não refletem necessariamente a opinião da CNN Viagem & Gastronomia.
Sobre Stêvão Limana
Stêvão Limana é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com pós-graduação em enologia, candidato a sommelier profissional e maratonista nas horas vagas. Na TV, ele fala sobre política e eleições; na internet, sobre vinho e gastronomia.
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