Quando um atleta sobe ao pódio em Olimpíadas de Paris 2024, ele está subindo em cima do lixo. Todos os pódios da competição são resultado da reciclagem de garrafas, potes e tudo mais feito de plástico. A iniciativa, mais uma para tornar esta edição a mais ecológica da história dos Jogos Olímpicos, é um projeto de uma pequena startup, Le Pavélocalizado na região metropolitana de Paris.
“Fomos contactados para os Jogos Olímpicos de 2019, quando a empresa ainda era jovem, tínhamos apenas um ano, então o nosso grande desafio foi assumir um projeto que representava uma carga de trabalho enorme”, afirma Lucas Philliponneau, diretor de pessoal da Le Pavé.
Desde então, a pequena fábrica de reciclagem tornou-se um silo de produção incessante: além de produzir todos os pódios das Olimpíadas, a empresa fabricou cerca de 11 mil assentos para a Arena Porte de la Chapelle e o Centro Aquático Olímpico, estruturas que não serão desmontado no final da competição. “Isso representou cerca de 100 toneladas de materiais reciclados”, explica Philiponneau.
Para conquistar o posto de fornecedor ecológico dos Jogos Olímpicos, a empresa atendeu uma demanda antiga – a reciclagem de plástico – com uma nova abordagem. Na Le Pavé, o plástico é transformado pela termocompressão, ideia que começou com um forno de pizza e criatividade do arquiteto Marius Hamelot e do administrador de empresas Jim Pasquet, fundadores da empresa.
“Recebemos plástico triturado e transformamos esse material em placas sem adição de cola, usando apenas um pouco de calor para dar coesão”, diz Philiponneau. A ideia também favorece a continuidade do ciclo de reciclagem do produto, já que apenas um único material faz parte de sua composição. “Cada tipo de plástico possui características específicas”, afirma o diretor da empresa.
O detalhe está presente nos pódios que aparecem em TV, sites e redes sociais. Modular, de cor clara, o púlpito não é uma bagunça de uso único (veja mais fotos na galeria acima). “Não adicionamos cola, ligantes ou aditivos aos nossos produtos; é 100% reciclado e também 100% reciclável”, diz Phliponneau. “A ideia é aceitar que os materiais têm pontos fortes e fracos e encontrar a aplicação adequada sem adicionar componentes que comprometam a reciclabilidade. Isso é o que chamamos de eco-concepção.”
A linha de produção é enxuta. O plástico triturado chega diariamente à fábrica. Uma máquina é responsável por misturar e garantir a uniformidade da matéria-prima. Outra máquina realiza o processo de termocompressão, que transforma uma massa granulada em placas. A sequência termina com a finalização destes painéis: lixamento e corte.
“O que sai da nossa fábrica são exclusivamente placas grandes, com espessuras que variam entre 8 e 15 mm”, diz Philiponneau, que há alguns anos registra pedidos de outras empresas. “Essas placas são então enviadas para designers, arquitetos e empreiteiros para serem elaboradas de acordo com suas necessidades.”
Na preparação para os Jogos Olímpicos de 2024, Le Pavé aumentou o seu número de funcionários de 3 para 35, alguns deles provenientes de meios desfavorecidos – imigrantes vulneráveis e ex-prisioneiros. A fábrica também se expandiu: a fábrica de Paris, que atualmente mede pouco mais de 100 m², terá uma unidade três vezes maior na Borgonha, longe da capital parisiense.
A oportunidade olímpica impulsionou a startup a um feito único. Philiponneau e seus colegas de trabalho não subiram ao pódio, mas foram convidados a sentar-se nos assentos que criaram na inauguração da Arena Porte de la Chapelle. “Ficamos muito orgulhosos de ver nossos produtos utilizados durante os Jogos Olímpicos”, lembra o diretor. “Esta é uma chance rara, algo que só aconteceu há mais de cem anos.”
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