A Anvisa decidiu manter, em abril, a proibição da venda de dispositivos eletrônicos para fumar. No entanto, os cigarros eletrónicos e vaporizadores permanecem à disposição da população, ainda que ilegalmente.
“Só temos um caminho e esse é recorrer à ilegalidade”, diz Miguel Okumuraativista de redução de danos, em entrevista ao CNN. Miguel fuma vapes há sete anos e critica a decisão da agência. “Nós, como vaporizadorele se sente completamente desamparado”, diz.
“Nós questionamos essa hipocrisia. Por que existe regulamentação para um produto? [cigarros convencionais] que temos plena consciência de todos os malefícios que isso traz ao organismo, mas o cigarro eletrônico tem isso negado aqui no Brasil”, finaliza.
Entre os meios utilizados pela ANVISA para avaliar se os dispositivos eletrônicos deveriam ou não ser regulamentados, estava a abertura de consulta pública para levar o debate à população. Das milhares de contribuições, cinquenta e nove por cento dos que participaram disseram que pensavam de forma diferente sobre a proibição.
A discussão sobre a regulamentação de dispositivos eletrônicos é global. No Canadá, por exemplo, vaporizadores adultos são permitidos. Segundo o sistema de saúde canadense, os aparelhos podem ser considerados uma alternativa para quem deseja parar de fumar – apesar de não serem classificados como tratamento terapêutico (como é o caso do Reino Unido).
Um dos especialistas que concorda com a legislação canadense é David Swanor, especialista em saúde pública e professor da Universidade de Ottawa. Para Sweaner, reconhecido por seus estudos no controle do tabagismo, o uso de aparelhos eletrônicos deve ser levado em consideração dada a gravidade das doenças causadas pelos cigarros tradicionais. Chama-se “redução de danos”.
“No Canadá, fumar mata 48 mil pessoas por ano. Esta é uma emergência de saúde pública. Estamos analisando a rapidez com que podemos reduzir isso. E como os danos são causados pela inalação de fumaça, a mudança para formas de nicotina que podem substituir os cigarros para adultos que, de outra forma, fumariam é um enorme avanço na saúde pública”, afirma o professor.
“Como tudo o que fazemos na saúde pública, queremos limitar as consequências não intencionais. Queremos limitar a utilização destes produtos por pessoas que de outra forma nunca fumariam cigarros, e estamos a encontrar formas de o fazer. Nunca será perfeito, mas em geral a Saúde Pública pode alcançar resultados enormes ajudando as pessoas que fumam cigarros a deixar de fumar e a substituí-lo por um produto que é muito menos perigoso do que fumar cigarros”, conclui o Professor Sweanor.
Segundo a OMS, oito milhões de pessoas morrem todos os anos de doenças ligadas ao tabagismo. No Brasil, ocorrem 161.853 mortes anualmente. Segundo o governo brasileiro, o consumo de cigarros convencionais causa mais de 125 bilhões de reais em danos ao sistema de saúde e à economia do país.
Compartilhar: