Diante de eventos climáticos extremos, como as recentes ondas de calor e enchentes que vitimaram milhares de famílias no Rio Grande do Sul, um novo termo busca caracterizar as ansiedades relacionadas ao meio ambiente: ecoansiedade. Também chamado “ansiedade climática“, o termo já foi incorporado pelo dicionário Oxford e é definido pela American Psychological Association como “medo crônico de catástrofe ambiental“.
“Ecoansiedade é um termo novo, não existia antes, mas com esse aumento na frequência de catástrofes ambientais, criou-se esse neologismo”, explica Marcos Gebara, especialista em psiquiatria clínica e presidente da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro , para CNN.
A psiquiatra explica que, apesar de ser um termo recente, muitas pessoas já o utilizam para se referir a ansiedades relacionadas às recentes mudanças climáticas. Na verdade, preocupações com o meio ambiente e os recentes desastres climáticos surgiram na prática clínica de Gebara. “Hoje em dia, com inundações massivas, muito maiores que as anteriores, as pessoas ficam traumatizadas e com razão”, afirma.
O que é ecoansiedade?
O termo ecoansiedade começou a ser utilizado na literatura ecopsicológica na década de 1990. No entanto, à luz das recentes alterações climáticas, o tema está a ganhar maior destaque.
Um estudo publicado em 2021 na revista científica The Lancet Planeta Saúderealizado com mais de 10 mil crianças e jovens (entre 16 e 25 anos) de dez países, incluindo o Brasil, mostrou que a preocupação com as mudanças climáticas era comum entre os entrevistados.
De acordo com o questionário, 59% disseram que estavam muito ou extremamente preocupados com as alterações climáticas; 89% estavam pelo menos moderadamente preocupados. Mais de 50% dos entrevistados relataram cada uma das seguintes preocupações: tristeza, ansiedade, raiva, desamparo, desamparo e culpa. Mais de 45% dos entrevistados afirmaram que os seus sentimentos em relação às alterações climáticas afetaram negativamente as suas vidas quotidianas.
Além disso, 75% dos entrevistados disseram que acham que o futuro é assustador e 83% disseram achar que as pessoas não conseguiram cuidar do planeta. “Há uma necessidade urgente de mais investigação sobre o impacto emocional das alterações climáticas nas crianças e jovens e de que os governos validem a sua angústia, tomando medidas urgentes sobre as alterações climáticas”, escreveram os autores no estudo.
As redes sociais e as notícias podem aumentar a ansiedade climática
Do ponto de vista de Gebara, o ansiedade climática Pode ser potenciado pelas notícias e pelos meios de comunicação social, pois conduzem a um excesso de informação sobre eventos adversos relacionados com o clima. “É claro que quem sofre diretamente com esses acontecimentos sente muito mais essa ansiedade, mas quem acompanha a situação de longe também sofre muito”, afirma.
A presidente do CRPRS (Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul), Miriam Alves, reforça, em artigo publicado anteriormente no CNN, que catástrofes ambientais, como as enchentes no RS, podem impactar negativa e indiretamente outras pessoas além das vítimas das enchentes. “Vivemos numa situação em que todos somos afetados, de diferentes maneiras”, afirma.
O presidente do CRPRS explica que, nestes casos, o cuidado em saúde mental passa também pela escuta ativa por parte dos profissionais.
“Aqueles que estão seguros também deveriam poder falar sobre isso. Você não pode ignorar o que está acontecendo. Colocar em palavras esses sentimentos é fundamental para a sociedade como um todo, para que seja ainda possível construir estratégias para minimizar esses impactos no futuro, pois vivemos uma situação que, infelizmente, se repetirá”, completa.
Como mitigar os impactos na saúde mental?
Com as alterações climáticas e os eventos extremos recorrentes, as formas de aliviar a ansiedade ecológica podem incluir, além da procura de fontes fiáveis sobre estes temas, ajuda prática. “Por exemplo, no caso do RS é possível ajudar as vítimas fazendo doações. O ato de ajudar alivia muito a ansiedade gerada pelas imagens”, sugere Gebara.
Além disso, é importante buscar fontes confiáveis de informações sobre o assunto e evitar o compartilhamento notícias falsas ou notícias sensacionalistas sobre o assunto.
Nos casos em que o sofrimento pode estar afetando a qualidade de vidaprocurar ajuda profissional é essencialcomo um psicólogo ou psiquiatra.
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