Um novo estudo, publicado na revista científica Biological Psychiatry no final de agosto, mostrou que meditação de atenção plena pode ajudar a reduzir a dor através de mecanismos cerebrais específicos diferentes daqueles que ocorrem no “efeito placebo”. A descoberta diverge da ideia anteriormente difundida de que os benefícios da técnica para o sintoma estavam relacionados com uma ativação de mecanismos relacionados ao efeito placebo no cérebro.
O trabalharliderado por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, usou técnicas avançadas de imagem cerebral para comparar os efeitos redutores da dor da meditação mindfulness, um creme placebo e uma meditação mindfulness “farsa” em participantes saudáveis.
Os pesquisadores descobriram que a técnica produziu reduções significativas na intensidade e no desconforto causado pela dor, ao mesmo tempo que reduziu os padrões de atividade cerebral associados ao sintoma e às emoções negativas. Por outro lado, o creme placebo apenas reduziu o padrão de atividade cerebral associado ao efeito placebo, sem afetar a experiência de dor da pessoa.
“A mente é extremamente poderosa e ainda estamos trabalhando para entender como ela pode ser aproveitada para o controle da dor”, diz Fadel Zeidan, professor de anestesiologia e professor titular de Pesquisa em Empatia e Compaixão no Instituto de Empatia e Compaixão da UC Sanford. San Diego, em Comunicado de imprensa.
“Ao separar a dor do eu e abrir mão do julgamento avaliativo, a meditação mindfulness é capaz de modificar diretamente a forma como vivenciamos a dor de uma forma que não utiliza medicamentos, não custa nada e pode ser praticada em qualquer lugar”, acrescenta.
Qual é o efeito placebo?
O efeito placebo é um fenômeno conhecido cientificamente como um mecanismo pelo qual o cérebro pode buscar formas de aliviar um sintoma mesmo quando não há uso de medicamentos ou técnicas de tratamento para esse fim.
Em ensaios clínicos, que avaliam a eficácia de um medicamento no tratamento de uma doença específica, o efeito placebo é comumente observado em grupos controle (que não recebem a substância em teste). Essas pessoas recebem uma pílula falsa e espera-se que ninguém no grupo veja benefícios em receber esse tipo de tratamento. Afinal, ele não contém a molécula com potencial efeito benéfico sobre um sintoma ou condição de saúde específica. Ainda assim, alguns participantes relatam benefícios.
No caso da meditação mindfulness, a técnica milenar tem sido usada há muitos anos para controlar a dor em diferentes culturas. Porém, por muito tempo, sua resposta ao sintoma foi considerada um “efeito placebo”. O estudo atual mostra que isso pode ser um erro.
Como foi realizado o estudo?
O estudo incluiu 115 participantes e consistiu em dois ensaios clínicos separados. Eles foram colocados aleatoriamente em grupos para receber quatro intervenções: uma meditação guiada de atenção plena, uma meditação simulada que consistia apenas em respiração profunda, um creme placebo (vaselina) que os participantes foram treinados para acreditar que reduz a dor e, como controle, um grupo ouviu para um audiolivro.
Os pesquisadores aplicaram um estímulo térmico doloroso, mas inofensivo, na parte de trás da perna e examinaram os cérebros dos participantes antes e depois das intervenções. A atividade cerebral foi analisada por meio de análise multivariada de padrões (AFMV), uma técnica que usa aprendizado de máquina para desembaraçar mecanismos neurais complexos subjacentes à experiência da dor.
A partir disso, os cientistas conseguiram identificar se a meditação mindfulness e o placebo envolvem processos cerebrais semelhantes ou distintos. Embora o creme placebo e a meditação simulada de atenção plena tenham reduzido a dor, os pesquisadores descobriram que a meditação consciente foi significativamente mais eficaz na redução da dor em comparação com o creme placebo, a meditação simulada de atenção plena e os controles.
Além disso, descobriram que o alívio da dor proporcionado pela meditação mindfulness reduziu a sincronização entre áreas cerebrais envolvidas na introspecção, autoconsciência e regulação emocional. Juntas, essas partes do cérebro constituem o sinal neural de dor (NPS), um padrão documentado de atividade cerebral que pode ser comum à dor em diferentes indivíduos e em diferentes tipos de dor. Em comparação, o creme placebo e a meditação simulada não demonstraram mudanças significativas nesta mesma área.
“Há muito que se supõe que o efeito placebo substitui os mecanismos cerebrais desencadeados por tratamentos activos, mas estes resultados sugerem que, quando se trata de dor, este pode não ser o caso”, observa Zeidan. “Em vez disso, estas duas respostas cerebrais são completamente distintas, o que apoia o uso da meditação mindfulness como uma intervenção direta para a dor crónica, em vez de uma forma de envolver o efeito placebo.”
Os investigadores acreditam que, a longo prazo e com mais estudos, será possível criar intervenções mais eficazes e acessíveis que utilizem os benefícios do mindfulness para reduzir a dor em pessoas com diferentes problemas de saúde.
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