Bronquiolite é uma palavra que causa arrepios em muitas mães e pais. Um dia, o bebê começa a ter coriza, tosse e tudo parece não passar de um resfriado. Mas, de repente, a respiração fica difícil, com sensação de chiado no peito. Esses são os principais indícios de que os bronquíolos, as passagens mais estreitas dos pulmões, estão inflamados, quadro que pode piorar rapidamente.
Apesar de ser mais comum no inverno, a bronquiolite não é causada pelo frio, como muitos pensam, mas por agentes infecciosos, que circulam mais nesse período. E um deles, de nome difícil, se destaca: o vírus sincicial respiratório, ou VSR. Atualmente, o VSR é a principal causa de hospitalização e morte de crianças pequenas por complicações após sintomas gripais no Brasil, a chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave.
Segundo dados da plataforma Infogripe da Fiocruz, até o dia 20 de julho eram mais de 22 mil casos em crianças de até 2 anos. E infelizmente, quase 200 deles morreram.
A pesquisadora do Infogripe, Tatiana Portella, destaca que houve aumento neste ano. No mesmo período de 2023, foram registados cerca de 1500 casos a menos nesta faixa etária. Mas Tatiana ressalta que apesar da bronquiolite ser uma velha conhecida de famílias e pediatras, foi somente após a pandemia de Covid-19 que a testagem viral mais ampla em pacientes com síndrome respiratória se tornou comum. Depois o RSV começou a aparecer com números mais expressivos.
“Se você olhar a série histórica de casos internados de VSR, parece que foram poucos casos. Mas a verdade é que isso não importava e ninguém sabe dizer quantos casos havia naquela altura. E também durante a pandemia, de diversas doenças, o conhecimento era muito baixo e como tudo foi cancelado, isso acabou quebrando o ciclo de outras doenças, inclusive do VSR.”
Por enquanto, não existe vacina infantil para o vírus RSV. Mas a Anvisa já autorizou o uso no Brasil de uma vacina destinada a gestantes, justamente para proteger os bebês, à medida que os anticorpos são transmitidos ao feto. No início de julho, a farmacêutica Pfizer solicitou à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao SUS que avaliasse a inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunizações. O Ministério da Saúde não informou quando esse pedido será analisado. A Pfizer informou ainda que a vacina deve chegar às clínicas privadas ainda neste semestre.
A diretora médica da Pfizer no Brasil, Adriana Ribeiro, explica que a vacina teve 82% de eficácia na prevenção de formas graves da doença em bebês de até 3 meses.
“A vacina continua protegendo 69% até os seis meses de idade. Tem sustentabilidade ao longo do tempo. Foram mais de 7 mil gestantes de 18 centros de pesquisa espalhados pelo mundo e quatro delas estavam aqui no Brasil. Não houve efeitos colaterais inesperados e os eventos adversos mais comuns, que foram super fáceis de controlar, foram dor no local da infecção, dor de cabeça e dores musculares.”
A vacina da Pfizer também foi autorizada para uso em idosos. E os dados do Infogripe mostram que o VSR é uma infecção importante também nessa faixa etária: só neste ano, foram quase 800 casos de síndrome respiratória aguda grave com diagnóstico positivo para VSR entre pessoas com mais de 65 anos. O valor já supera os casos de todo o ano passado.
Até o dia 20 de julho, 202 idosos haviam sucumbido às complicações. Para esse público já existe outra vacina disponível no Brasil, mas, por enquanto, apenas no sistema privado. Lessandra Michelin, líder médica da farmacêutica GSK, afirma que a prevenção nesta população também pode prevenir outros problemas, além da síndrome respiratória.
“78% da população com mais de 60 anos tem comorbidade. Então, geralmente, quando a gente pega a infecção pelo VSR, essa comorbidade é descompensada. Se a pessoa for diabética, o diabetes descompensa. Quem tem insuficiência cardíaca descompensa. Então, o vírus não atinge apenas os pulmões, hoje acaba descompensando o organismo como um todo e atinge outros órgãos também.”
A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Mônica Levy, explica que a análise para inclusão das vacinas no Calendário do SUS pesa não só o risco da doença, mas também o custo-benefício da vacina e o impacto de sua aplicação na saúde pública . Por isso, ela acredita que a prevenção dos bebês será discutida com maior prioridade. Mas outros grupos também devem ser considerados.
“Entre os idosos há aqueles que correm um risco muito maior, que são os cardiopneumopatas crónicos. Isso aumenta muito o risco de o VSR levar à morte.”
Mônica acrescenta ainda que o SUS oferece outra opção de prevenção para casos de grande vulnerabilidade: os chamados anticorpos monoclonais, que ajudam o organismo a combater o vírus, em caso de infecção. Porém, no SUS, elas são aplicadas apenas em bebês prematuros extremos e bebês com algumas doenças específicas. O medicamento também pode ser solicitado nos planos de saúde, ou adquirido mediante prescrição médica especial.
*Editado por Sayonara Moreno e Pedro Lacerda
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