Encontrou medicamentos vencidos ou que não são usados há muito tempo em sua casa? Descartá-los no lixo comum ou no vaso sanitário é contraindicado e pode trazer riscos ao meio ambiente e à saúde de outras pessoas e animais.
Isso acontece porque todo medicamento é composto por uma substância química, que é o seu princípio ativo. Esse componente pode causar reações bioquímicas fisiológicas nos organismos vivos, o que pode trazer riscos à saúde de diversos animais e pessoas, conforme explica Bagnólia Costa, membro do conselho de administração da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE), ao CNN.
“Precisamos entender que os animais são seres irracionais que, ao entrarem em contato com esses medicamentos, podem consumi-los acidentalmente, e isso pode causar danos a esses organismos”, afirma o farmacêutico. “Existe também um risco direto para as pessoas que trabalham em aterros, que podem entrar em contacto com estas substâncias”, acrescenta.
Além disso, as substâncias químicas presentes nos medicamentos podem ser nocivas ao meio ambiente e contaminar a água e o solo, comprometendo a fauna e a flora. “O risco é ainda maior para medicamentos líquidos, como xaropes, porque se dissolvem muito facilmente na água”, afirma Costa.
Segundo o especialista, as estações de tratamento de esgoto no Brasil não estão totalmente preparadas para eliminar os princípios químicos ativos dos medicamentos. Portanto, esse tipo de medicamento não deve ser descartado em pias, ralos ou vasos sanitários.
“Entre os medicamentos que mais causam danos ao meio ambiente por serem descartados incorretamente estão os anticoncepcionais, que podem causar problemas reprodutivos nos peixes; antibióticos, que estão aumentando a resistência das bactérias a esses medicamentos, e antiinflamatórios e analgésicos, como o diclofenaco, que pode causar disfunções renais em animais e humanos”, afirma Costa.
Como descartá-lo corretamente?
Desde 2020, com o Decreto nº 10.388, o Governo Federal regulamenta que o descarte correto dos medicamentos deve ser feito em farmácias e drogarias com pontos de coleta para logística reversa. Isso significa que os medicamentos descartados pelos cidadãos terão seu fluxo revertido, retornando ao longo de sua cadeia de produção e distribuição para o descarte final adequado, sem agredir o meio ambiente.
“O programa de logística reversa estabelece um conjunto de ações, procedimentos e técnicas destinadas à coleta e destinação final adequada de medicamentos”, explica Costa. Existem dois destinos possíveis para os medicamentos: a incineração e os aterros seletivos e específicos para descarte de medicamentos.
Com a instituição do Sistema de Logística Reversa, segundo o Ministério da Saúde, as drogarias e farmácias deverão disponibilizar e manter, em seus estabelecimentos, pelo menos um ponto fixo de acolhimento para cada 10 mil habitantes. Alguns municípios também disponibilizam pontos de coleta de medicamentos em Unidades Básicas de Saúde (UBS).
O que deve ser descartado?
O descarte de medicamentos deve incluir comprimidos e cápsulas, bem como embalagens de medicamentos. Segundo Costa, as embalagens de comprimidos e frascos de medicamentos líquidos têm contato direto com as substâncias químicas presentes no medicamento e, por isso, também podem contaminar o meio ambiente e oferecer riscos à saúde geral.
Materiais cortantes e pontiagudos, como seringas e agulhas, também podem ser descartados em pontos de coleta específicos. A recomendação é que sejam armazenados em embalagens resistentes para evitar riscos de acidentes.
As caixas de papel e bulas são embalagens secundárias e não têm contato direto com o medicamento. Portanto, não são tóxicos ao meio ambiente e podem ser descartados como lixo reciclável.
Por que é importante descartar medicamentos vencidos ou fora de uso?
O descarte de medicamentos vencidos é essencial para reduzir riscos à saúde. Segundo Costa, os medicamentos vencidos tendem a ter menor concentração do princípio ativo. “Essa substância química acaba se transformando em outra e, na maioria das vezes, pode se tornar uma substância tóxica”, explica.
Os medicamentos que não são utilizados, ou que sobraram, também devem ser descartados, principalmente se não foram armazenados adequadamente. Isso porque, dependendo do local e da forma como são armazenados, eles também podem sofrer alterações químicas.
“Existem três fatores externos que podem alterar quimicamente o medicamento: calor, umidade e luz”, diz Costa. “Então, ao guardar um medicamento em local com muita luz, seja solar ou artificial, com temperatura elevada ou em local muito úmido, como o banheiro, ele pode estragar”, completa.
Portanto, é fundamental ficar atento às orientações do laboratório que desenvolve o medicamento, presentes na bula, quanto ao armazenamento adequado do medicamento. “Há até medicamentos que devem ser guardados na geladeira, por exemplo, como insulinas, supositórios e suspensões de medicamentos infantis”, destaca Costa.
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