O número de brasileiros que precisam de óculos ou lentes de contato para dirigir quase dobrou nos últimos 10 anos, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) analisados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). A pesquisa destaca a importância dos cuidados oftalmológicos para evitar acidentes em pistas e rodovias.
Segundo a pesquisa, até 2014, havia 14,4 milhões de registros na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) que obrigavam seus titulares a dirigir veículos com uso de óculos ou lentes graduadas. Este grupo também incluiu aqueles impedidos de dirigir após o pôr do sol e aqueles com visão monocular observada (quando a pessoa tem visão igual ou inferior a 20% em um olho).
Em 2024, o número de registros dessa modalidade na CNH subiu para 25,4 milhões, representando um aumento de 77% em relação a 2014. No mesmo período, o crescimento no número total de condutores habilitados foi de 33%. Segundo a pesquisa, as restrições visuais respondem por 91% de todas as anotações aplicadas nas 27,9 milhões de carteiras de habilitação emitidas atualmente no Brasil.
“Os dados mostram a relevância da saúde ocular para a população e reforçam a necessidade de prevenção e diagnóstico precoce de doenças como mecanismo para melhorar a qualidade de vida e a segurança das pessoas”, avalia Wilma Lélis, presidente do CBO, em comunicado.
Fatores que podem prejudicar a visão do motorista
Na avaliação da entidade, entre os fatores que podem contribuir para o aumento da necessidade do uso de óculos e lentes de contato pelos motoristas estão: o envelhecimento da população; exposição prolongada às telas de celulares e computadores; o aumento da incidência de doenças crónicas (diabetes, hipertensão, obesidade e stress); nutrição inadequada e estilo de vida sedentário.
“Doenças sistêmicas como diabetes e hipertensão podem levar a doenças oculares como retinopatia diabética e retinopatia hipertensiva; doenças autoimunes e doenças congênitas também podem alterar a retina e aumentar o risco de problemas de visão”, explica Henrique Rocha, oftalmologista e presidente da Sociedade Goiana de Oftalmologia (SGO), ao CNN. Ele não esteve envolvido na análise realizada pelo CBO.
Além disso, o especialista explica que atividades que exigem muita atenção, como dirigir, ou que geram entretenimento, como assistir TV, fazem com que as pessoas pisquem menos. “Quando estamos muito entretidos, piscamos até 30 vezes menos que o normal”, diz Rocha. “Piscar renova o filme lacrimal e a lágrima evapora no olho, o que normalmente leva de 10 a 15 segundos. Então, quando você para de piscar, sua visão fica prejudicada e embaçada”, explica.
Para agravar o problema, muitos motoristas têm o hábito de dirigir com o ar condicionado do veículo ligado, o que pode drenar a umidade do ar e aumentar o ressecamento dos olhos. O mesmo vale para pessoas que trabalham o dia todo em ambientes fechados e climatizados. “Consequentemente, você fica com o olho mais cansado, que está enxergando menos, mais vermelho e ardendo”, completa.
O uso de telas é outro fator de risco preocupante. “Existem dois tipos de luz azul que a tela emite. Uma delas é a turquesa, que aumenta o cortisol, que é o hormônio do alerta; e a outra é azul-violeta, que aumenta a chance de degradação das células da retina”, explica o oftalmologista.
Exames de rotina são importantes para avaliar a saúde ocular
Na visão de Rocha, exames de rotina importantes para avaliar a saúde ocular incluem:
- Biomicroscopia: analisa os detalhes do olho, incluindo esclera, íris, cristalino e pupila;
- Fundoscopia: dilata a pupila do olho, para ver o nervo óptico, mácula e retina.
- Medição da pressão intraocular: avalia a pressão ocular e é importante para detecção de glaucoma;
- Acuidade visual: analisa a qualidade da visão e a capacidade do paciente de distinguir contornos, cores e formas de objetos, letras e números.
“Esses exames são essenciais para que o oftalmologista tenha um caminho de diagnóstico e prevenção antes do desenvolvimento de uma doença mais grave”, afirma o especialista.
Como fortalecer a visão e prevenir doenças oculares?
Além de manter uma rotina de consultas periódicas com o oftalmologista, realizando os exames citados acima, é fundamental prevenir o surgimento e a evolução de doenças oculares, segundo Rocha. No caso de motoristas que tenham restrição na habilitação para dirigir após o pôr do sol, o uso de medicamentos para dilatar a visão pode ser recomendado pelos oftalmologistas.
Outra medida importante é corrigir problemas de visão que surgem na infância, para evitar complicações futuras na idade adulta. “A visão é cerebral, não ocular. O olho é apenas um receptor de imagem que posteriormente é decodificado no cérebro. Então, se houver alteração da visão até os sete anos de idade, que é a faixa etária em que a visão cerebral está totalmente desenvolvida, é fundamental corrigir essa alteração o mais rápido possível”, destaca.
“Se não for corrigida na infância, a alteração pode levar à ambliopia, condição em que o olho é estruturalmente normal, mas cerebralmente não tem potencial de visão; e o impacto disso na sociedade é grande”, afirma Rocha.
Descubra como as pessoas com diferentes problemas de visão veem
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