Um estudo publicado na revista “Science” aponta que compostos derivados de uma planta medicinal chamada Artemísia anual pode trazer novas perspectivas para o tratamento de Síndrome dos ovários policísticos (SOP), um distúrbio hormonal que afeta entre 8% e 13% das mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo. O composto desta planta já é bastante conhecido pelas suas propriedades contra a malária.
O estudo foi desenvolvido por cientistas da Universidade Fudan, na China. Segundo eles, os primeiros resultados do uso da planta no combate aos sintomas da doença são positivos.
No estudo, o composto derivado de plantas foi testado em ratos e pacientes humanos.
Em testes em animais, os cientistas analisaram que as artemisininas induziam a degradação do CYP11A1, uma enzima crucial para a produção de testosterona. Como resultado, reduziu a produção de testosterona e outros hormônios relacionados à SOP. Como resultado do teste, os animais tiveram ciclos menstruais mais regulares e tornaram-se mais férteis.
Em seguida, 19 mulheres receberam diidroartemisinina, um medicamento comum para a malária, e após 12 semanas foi observada uma redução significativa nos níveis de testosterona e de outros hormônios relacionados à SOP. Como resultado, começaram a ter ciclos menstruais mais regulares e não sentiram quaisquer efeitos secundários.
“No geral, nossas descobertas destacam o potencial promissor de artemisininas como medicamentos eficazes para o tratamento abrangente da SOP”, avaliaram os pesquisadores.
O ginecologista Luiz Brito, que também é professor da Faculdade de Medicina da Unicamp e especialista em cirurgia ginecológica, lê o estudo feito por pesquisadores internacionais e afirma que ainda é cedo para afirmar que a artemisinina tem papel importante na tratar a doença. .
“Esse medicamento aparentemente melhora a resistência à insulina em pacientes com ovários policísticos, tem efeito metabólico e atua reduzindo a produção de andrógenos, o que tem efeito benéfico no tratamento. Mas, como diz o próprio artigo, ainda é cedo para afirmarmos que o composto tem papel importante no tratamento porque precisamos de estudos com um número maior de pacientes. Assim saberemos se esse medicamento realmente se tornará uma nova opção para o tratamento da síndrome dos ovários policísticos”, avalia.
O que é a Síndrome dos Ovários Policísticos
A causa do ovário policístico ainda não está bem definida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, predisposição a alterações hormonais e resistência à insulina, associados a fatores ambientais.
A principal característica da doença é a alteração do ciclo menstrual, onde as mulheres apresentam anovulação, ou seja, não ovulam regularmente. Isso impacta no ciclo menstrual, fazendo com que sejam menos frequentes e até mesmo a ausência de menstruação.
Outros sintomas muito comuns estão associados ao aumento dos hormônios masculinos, como aumento de pelos e acne.
“Não ovular com frequência pode levar à infertilidade, o que também pode afetar a sua vida. Além disso, muitas pacientes com ovários policísticos, por resistência à insulina, também apresentam obesidade associada, o que pode impactar ainda mais na qualidade de vida”, explica Mariana Cocuzza, ginecologista e obstetra.
A melhoria do estilo de vida, da alimentação e da prática de exercícios físicos, bem como o uso de anticoncepcionais e a indução da ovulação, além de tratamentos específicos para excesso de pelos e acne, podem melhorar a qualidade de vida da paciente.
“Os tratamentos mais comuns costumam envolver o bloqueio dos ovários, caso a paciente não esteja tentando engravidar, o que ajuda a melhorar os sintomas relacionados ao aumento dos hormônios masculinos. Para sintomas mais leves, mudanças na dieta e exercícios físicos também podem ajudar. Se a paciente desejar engravidar, o tratamento se concentrará na estimulação da ovulação. Esse tratamento tem sucesso em até 70% das pacientes com ovários policísticos”, acrescenta a ginecologista.
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