Em sua delação premiada a respeito do assassinato do vereador Marielle Franco (PSOL-RJ)Aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Ronnie Lessa – réu confesso do crime – afirmou que, além da própria Marielle, outros políticos ligados ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) estavam sendo espionados pelo grupo criminoso.
Em seu depoimento à Polícia Federal (PF) sobre o caso, cujos principais detalhes foram revelados em reportagem publicada no Fantásticode TV Globona noite de domingo (26), Lessa afirmou que os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão – identificados pelas investigações como dois dos supostos mandantes do assassinato – decidiram “infiltrar” Laerte Silva de Lima e sua esposa, Erileide Barbosa da Rocha, no PSOL.
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Segundo as investigações, o casal era um “braço armado” da milícia Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro.
“Os Domingos [Brazão], por exemplo, não mede palavras. Ele simplesmente diz que… colocou, por assim dizer, um espião no PSOL, no partido de Marielle. E o nome desse espião seria Laerte, que é um cara de Rio das Pedras, que depois fiquei sabendo que era miliciano. Uma pessoa responsável por diversas atividades da milícia ali. E essa pessoa trouxe informações para os irmãos em relação ao PSOL”, disse Lessa.
“Não só em relação à Marielle. Ele sempre falava de Marcelo Freixo. Ele falou do Renato Cinco, do Tarcísio Motta… Ele falou dessa pessoa. E ele demonstrou assim um interesse diferente por essas pessoas, pelo povo do PSOL”, afirmou o autor do assassinato de Marielle.
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Laerte e Erileide ingressaram no PSOL em abril de 2017, mesmo período em que Lessa começou a pesquisar o nome do então deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), uma das figuras mais conhecidas do partido na época. Hoje, Freixo é membro do PSB e presidente da Embratur.
Segundo o PSOL, o casal foi expulso do partido em dezembro de 2020. “Suas reais ações eram do conhecimento do partido desde meados de 2019, mas nenhuma iniciativa foi tomada porque estavam sob investigação. Os factos mostram que as milícias não têm limites na sua actividade criminosa e contam muitas vezes com o apoio de agentes do Estado, quando eles próprios não o têm”, afirmou o partido, em nota.
“O PSOL continua lutando por justiça até que todos os envolvidos no assassinato de Marielle e Anderson sejam julgados e condenados”, finalizou o partido.
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Ainda em seu depoimento, Ronnie Lessa afirma que Larte “enfeitou o pavão” e levou os irmãos Brazão a fazerem uma avaliação equivocada sobre o desempenho de Marielle.
“Naquele momento, cogitou-se a possibilidade de ele ter supervalorizado ou mesmo inventado informações para dar conta de sua atuação como infiltrado”, diz o relatório da PF.
Segundo investigações policiais, essa animosidade entre Brazão e Marielle estava relacionada à oposição do vereador a um projeto de autoria de Chiquinho na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
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A proposta tratava da flexibilização das regras de regularização fundiária na zona oeste da cidade, o que prejudicava os interesses da família Brazão na região. Na ocasião, toda a bancada do PSOL na Câmara votou contra o projeto.
Mesmo aprovado, o texto foi vetado pelo então prefeito do Rio Marcelo Crivella. O projeto foi então considerado inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ).
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Detalhes sobre a “ordem” do crime
Em seu depoimento, Ronnie Lessa detalhou como os irmãos Brazão “ordenaram” o assassinato de Marielle Franco.
Segundo o criminoso, a dupla teria oferecido a ele e a um de seus cúmplices, Macalé (ex-policial militar Edimilson de Oliveira), um loteamento clandestino (e milionário) na zona oeste do Rio.
“Havia muito dinheiro envolvido. Na época, custaria mais de US$ 20 milhões. Não estamos falando de pouco dinheiro. Ninguém recebe oferta para receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa”, disse Lessa.
“Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino profissional. Fui chamado para uma sociedade”, afirmou o arguido confesso.
Segundo depoimento de Ronnie Lessa, houve três reuniões entre ele e os mandantes do crime. Na conversa, afirma Lessa, Marielle foi citada como entrave ao esquema.