Horas antes da votação do projeto de lei 914/2024 — que incluía uma tartaruga com o fim da isenção para compras internacionais de até US$ 50 no e-commerce, os lobbies se intensificaram e uma sucessão de estudos com conclusões opostas chegou à Câmara.
Manifesto de sete entidades — como Proteste (associação de defesa do consumidor), Instituto Millenium e Conselho Empresarial Brasil-EUA — defende que a alteração do projeto, se aprovada, deixaria o Brasil com os impostos mais altos do mundo para esse tipo de comércio .
Na carta aberta divulgada pelas sete entidades, nesta quarta-feira (22), argumenta-se que 74% das classes C/D/E utilizam sites estrangeiros para realizar suas compras.
“De acordo com Ipsos [instituto de pesquisa], esses consumidores representam aproximadamente 90% das compras realizadas em plataformas estrangeiras. Segundo dados da Receita Federal, os brasileiros têm feito compras em sites estrangeiros no valor de cerca de R$ 72, realizando uma compra a cada 30 dias”, afirma trecho do manifesto — também assinado por Livres, Instituto Livre Mercado, Euroconsumers Brazil e Abraec ( associação das empresas de transporte expresso de carga).
Na terça-feira (21), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi na direção oposta e divulgou pesquisa que mostra que apenas 18% da população com renda de até dois salários mínimos fez compras online internacionais de produtos isentos de até US $ 50. .
Na população com renda acima de cinco salários mínimos esse percentual sobe para 41%. Os dados mostram, segundo a CNI, que quem mais se beneficia do benefício fiscal concedido às importações de até US$ 50 são as pessoas com renda mais elevada.
Esses números foram rapidamente citados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais apoiadores da votação da emenda incluída no projeto de lei —que originalmente trata do Mover (novo regime automotivo).
Recentemente, a CNI e outras confederações patronais — CNC (comércio) e CNA (agricultura) — bem como sindicatos de trabalhadores, manifestaram-se publicamente a favor da tributação.
Empregadores e sindicatos sustentam que as importações de comércio eletrónico menos tributadas criam concorrência desleal e já não empregam 226 mil pessoas.
“É claro que a isenção fiscal nas compras de até US$ 50 não beneficia quem ganha menos e, consequentemente, sofrerá mais com o desemprego e a falta de oportunidades devido às perdas de negócios no Brasil”, diz o presidente da CNI , Ricardo Albano.
A Shein, uma das principais plataformas de comércio eletrônico, divulgou nesta quarta-feira um comunicado no qual também ataca a alteração e faz referência à pesquisa da Ipsos.
“Num momento em que o que está em jogo é o poder dos brasileiros de acessar e adquirir produtos internacionais de qualidade e acessíveis, a pesquisa realizada mostra o verdadeiro retrato dos consumidores na plataforma e aponta ainda que apenas 11% dos consumidores pertencem a classes A e B”, diz Shein.
“Ainda no âmbito da investigação, segundo o Plano CDE, outra instituição de referência no mercado de investigação, num inquérito recente junto de consumidores de diversas plataformas internacionais, constatou-se que 61% do público vê os sites internacionais como uma possibilidade para os mais pobres população tem acesso ao consumo – e que o abandono das compras no momento da cobrança de impostos é maior entre as classes C, D e E (37%) do que nas classes A e B (32%).”
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