O acordo firmado entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Congresso Nacional que culminou na aprovação do projeto de lei (PL 1847/2024) de reposição gradual da folha de pagamento foi tratado pelos membros da equipa económica como o entendimento “possível”.
Internamente, a avaliação é que sancionar as novas regras com vetos, com medidas compensatórias pela perda de arrecadação, não evitará a necessidade de novas negociações num futuro próximo.
Por outro lado, acredita-se que o movimento fortalece o Poder Executivo para as próximas discussões e abre um precedente importante para o equilíbrio das contas públicas.
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Segundo fonte, as medidas compensatórias aprovadas pelos parlamentares não representam o “pacote dos sonhos” da equipe econômica, que entende que o nível de arrecadação não responderá como esperado pelo Congresso Nacional em 2025 e 2026.
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A avaliação é que há grandes chances de frustração de receitas com medidas como a nova rodada de repatriação de recursos mantidos no exterior e a regularização de ativos imobiliários.
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Portanto, a insistência em tentar manter algum gatilho automático em caso de novas frustrações, como o esperado aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e da alíquota do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) incidente sobre os Juros sobre o Capital Próprio (JCP ) ─ o que foi recusado pelos congressistas.
O ceticismo já foi compartilhado pelo próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Em entrevista ao programa “Bom dia, ministro”, do canal EBC, na semana passada, ele disse acreditar que a solução encaminhada pelos parlamentares resolveria o desequilíbrio gerado pela redução de impostos em 2024, mas foi muito mais cauteloso em relação para os anos subsequentes.
Para compensar a perda de arrecadação durante o “phase out”, os parlamentares aprovaram a captura de depósitos esquecidos em contas judiciais há mais de 5 anos, a abertura de um novo período para repatriação de recursos ao exterior com taxas menores e um programa de descontos para empresas com multas vencidas de agências reguladoras (“Desenrola Agências Reguladoras”). Além da possibilidade de atualização dos valores declarados com bens imobiliários mediante pagamento antecipado de taxa reduzida.
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“Há uma expectativa no Senado de que a receita desse programa atenda às necessidades de compensação. Vamos ver. Esperamos que tudo corra bem para não termos que revisitar o assunto”, disse Haddad na entrevista.
Na ocasião, o ministro disse que a regulamentação das medidas deverá sair no prazo de 60 dias e, caso haja falta de recursos em compensação, “disse esperar que tudo corra bem, mas que, “na falta de compensação, “voltaremos à mesa de negociação”.
Mesmo assim, integrantes do governo federal esperam que, de forma geral, o acordo criado gere um legado positivo de respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determina que novas despesas ou renúncias de receitas devem ser acompanhadas de fontes compensatórias. E que a regra se aplica aos Três Poderes.
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Para uma fonte, o episódio vira a página de um ciclo vicioso em que “[Congresso] aprovar, [governo] veto, [parlamento] derrubar o veto e está tudo bem.” Além de indicar uma luz no fim do túnel para 10 anos de desoneração da folha de pagamento para 17 setores econômicos (e um benefício recentemente concedido a municípios com até 156 mil habitantes) ─ medidas que respondem por parcela significativa dos gastos tributários correntes .
“Não poderíamos perder essa discussão jurídica sobre a necessidade de indenização, ela deixa um legado gigantesco pela frente”, explicou sob condição de anonimato. “Consolidou o precedente de que a renda não pode ser perdida sem compensação. Ter isso materializado no STF é um marco que consolida a LRF.”
“Chegamos a um momento em que tivemos que fazer uma escolha”, disse ele. “É ideal? Não. É o acordo do que é possível”, resumiu a fonte.
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Na equipe econômica, há o entendimento de que a inclusão nos cálculos de “recursos esquecidos” em contas bancárias não reclamadas pelos titulares gerou ruído entre os agentes do mercado financeiro, apesar da redação final ter preservado as estatísticas fiscais do Banco Central dos efeitos de mudanças.
A versão aprovada pelo Senado Federal dizia que, decorridos 30 dias da publicação da lei (que se refere a valores mantidos há mais de 25 anos), os saldos não reclamados remanescentes em instituições depositárias passariam a ser de domínio da União e seriam apropriados por o Tesouro Nacional como receita orçamentária primária para todos os efeitos de estatísticas fiscais e cálculo do resultado primário (que inclui as bases de dados próprias do BC).
Após reação negativa da autoridade monetária, o texto foi ajustado pela Câmara dos Deputados, o que permitiu apenas ao Tesouro Nacional apropriar os recursos como receita orçamentária primária e considerá-los para fins de verificação do cumprimento da meta de resultado primário, sem referência para outros fins estatísticos.
Apesar do ruído, membros da equipa económica sinalizam que o montante proveniente de “recursos esquecidos” não deve ser utilizado para fazer a diferença no cumprimento da meta de défice zero.
Sobre a esperada retomada das negociações com o Congresso Nacional caso as medidas compensatórias se mostrem insuficientes nos próximos dois anos, as fontes evitam apontar as alternativas, mas lembram que já estão em cima da mesa mudanças na tributação do JCP e aumento da alíquota da CSLL, de acordo com o projeto em andamento.
Nos bastidores, também foi discutida a possibilidade de alterações nas alíquotas cobradas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Mas, como já sinalizou o alto escalão do parlamento durante o debate sobre a nova oneração, há pouca vontade de discutir qualquer aumento de impostos. Cenas para um próximo imbróglio.
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