Desentendimentos dentro da base governamental motivaram, na semana passada, o adiamento da votação do projeto de lei que cria o programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover).
Relatado pelo deputado Átila Lira (PP-PI), o texto tratava inicialmente de incentivos à descarbonização na indústria automobilística brasileira. Lira, porém, incluiu uma “tartaruga” em seu relatório que acaba com isenções fiscais para importações abaixo de US$ 50.
O assunto foi incluído na pauta da Câmara ao longo da semana, mas não foi votado porque diversas bancadas se opuseram à inclusão da nova seção.
Uma das alas insatisfeitas é a bancada do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parlamentares do partido propõem retirar o jabuti do texto e analisar outro projeto que trate exclusivamente de isenção tributária e flexibilize regras.
O Projeto de Lei 2339/22 tramita na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara e é de autoria de Félix Mendonça Júnior (PDT-BA). Relatado pelo petista Paulo Guedes (PT-MG), o texto estabelece regras para pessoas físicas e jurídicas na comercialização de mercadorias estrangeiras, por meio de sites, quando se tratar de remessas postais internacionais.
No relatório, Guedes sugere que as remessas internacionais de até US$ 50 continuem isentas de impostos de importação e propõe que compras entre US$ 50 e US$ 100 tenham alíquotas de 40%. Para remessas acima de US$ 100, a proposta de Guedes é que o imposto seja de 60%.
Pela regra atual, todas as compras com valor superior a US$ 50 estão sujeitas a 60% de imposto de importação. Na prática, o projeto de Guedes flexibiliza ainda mais a legislação vigente.
A CNN O deputado afirmou que a bancada petista trabalha para derrubar o jabuti Mover e orientar o projeto relatado por ele na Comissão de Finanças e Tributação, presidida por Mário Negromonte Jr.
“Em relação às importações, a nossa bancada encerrou a questão e não é a favor do jabuti. Estamos trabalhando para que esse assunto continue na CFT”, afirmou Guedes. O deputado acredita que o PT conseguirá chegar a um acordo para retirar a tartaruga do texto do Mover, já que até partidos de oposição são contra a questão.
“Os brasileiros que viajam para fora do Brasil podem comprar US$ 1 mil sem pagar nenhum imposto nas lojas Duty Free. Muitos gastam até nenhum limite no exterior. Por que vamos tributar os mais pobres? E o próprio governo já deu uma resposta importante ao comércio varejista ao lançar a Remessa Compliance (leia mais abaixo)”, afirmou Guedes.
Segundo o deputado, o presidente do CFT será procurado na terça-feira (14) para discutir o assunto. “O meu parecer já foi publicado e, se o presidente da comissão quiser, podemos votar na quarta-feira”, disse CNN.
Controvérsia interna
O tema gera polêmica interna no governo Lula desde 2023. No ano passado, o Ministério da Fazenda chegou a sinalizar que encerraria a isenção no início do ano. Após pedido do presidente Lula, o departamento chefiado por Fernando Haddad recuou.
A isenção de até US$ 50 foi mantida e, em contrapartida, as empresas internacionais tiveram que aderir ao programa Conform Remittance da Receita Federal. Para compras de qualquer valor, a incidência do ICMS foi fixada em 17%.
No final de abril deste ano, durante a entrega do texto que regulamenta a reforma tributária, o secretário extraordinário de reforma tributária, Bernard Appy, afirmou que as compras internacionais, incluindo remessas de até US$ 50, serão tributadas com a mudança de o sistema tributário.
Oposição também critica jabuti
O pedido de retirada do jabuti do texto do Mover não é só da ala petista. A Frente Parlamentar pelo Mercado Livre também criticou a inclusão do trecho no projeto.
Na semana passada, o deputado Luiz Philippe Orleans (PL-SP), presidente da frente, apresentou uma emenda ao projeto Mover, propondo a retirada do trecho que eliminaria a isenção tributária para importações abaixo de US$ 50.
Para o parlamentar, a questão do jabuti não tem relação com o objetivo principal do projeto.
“Não tem absolutamente nenhuma ligação com este projeto. É um benefício estendido ao consumidor que pode comprar qualquer item no comércio global, esse item chega pelo correio e paga imposto de até US$ 50. Foi incluído lá porque imaginam que sozinho vai sofrer resistência”, disse o parlamentar, em entrevista ao CNN.
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