A Comissão de Anistia deu um passo importante no sentido de reparar parte das violações históricas que o povo indígena Kaiowá, da Terra Indígena Sucuruíy, localizada no Mato Grosso do Sul, sofre há cinco séculos.
O colegiado aprovou, nesta quinta-feira (25), um pedido de desculpas à comunidade em nome do Estado brasileiro.
O fundamento é o reconhecimento oficial de que, entre as décadas de 1980 e 1990, com a conivência do Estado brasileiro, os Kaiowá da Terra Indígena Sucuruíy foram alvo de perseguições e violência.
A comissão também aprovou o pedido de anistia política coletiva para os kaiowá de Sucuru´y, admitindo que a comunidade foi afetada por atos excepcionais decorrentes de motivação exclusivamente política.
Por se tratar de um pedido coletivo, a anistia política, com caráter de reparação constitucional, não inclui compensações econômicas – diferentemente dos casos individuais.
Conforme estabelece a Lei 10.559, de 2002, serão considerados prejudicados aqueles que, entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, tenham sido prejudicados por atos institucionais, complementares ou excepcionais, bem como aqueles que tenham sido punidos ou perseguidos por motivos exclusivamente políticos.
“Esperamos, nesta sessão, em relação a esta comunidade Kaiowá, que comece a haver alguma reparação por parte do Estado brasileiro”, disse a presidente da comissão, Enéa de Stutz e Almeida, durante a terceira sessão de julgamento dos pedidos de anistia coletivo mantido pelo colegiado, órgão de assessoramento autônomo do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
“Mais uma vez nos colocamos à disposição da Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas] e o Ministério dos Povos Indígenas [MPI] por tudo em que possamos colaborar na luta dos povos indígenas – que já existe há séculos – em prol [conquistarem] melhores condições de vida e reparações por mais de cinco séculos de violações dos direitos humanos”, acrescentou Enéa antes de pedir perdão à comunidade, ajoelhando-se diante dos representantes Kaiowá. “Em nome do Estado brasileiro, quero pedir desculpas, pelos séculos de violações de seus corpos e de suas terras, e por tanta perseguição, barbárie e sofrimento. E obrigado pela sua resistência, prestando homenagem aos seus antepassados.”
Presente na sessão, a presidente da Funai, Joênia Wapichana, classificou o caso dos Kaiowá da Terra Indígena Sucuruíy como “muito emblemático”. “Este é apenas um dos casos de violência e violação dos direitos dos povos indígenas e é importante que as pessoas conheçam esses casos que, muitas vezes, a sociedade não pode ter conhecimento”.
Uma das lideranças da comunidade Kaiowá presente na sessão, Jety Jagar Guasu relembrou fatos que afirma ter presenciado quando criança, época de expansão da agricultura na Região Centro-Oeste. Com a ajuda de um intérprete, Jety disse que os produtores rurais já estabelecidos no estado, além dos que chegam de outras partes do país, atraídos por incentivos públicos, contam com o apoio das autoridades locais.
“Lembro-me agora de imagens de agricultores avançando nos nossos campos, passando tratores e atirando alfaias agrícolas sem nos perguntar se queríamos ou não, se aquele era o nosso território. E então chegaram cada vez mais agricultores até que, um dia, nos mandaram sair do nosso território, que passaria a ser deles. Começamos a sentir medo quando ameaçaram queimar nossas casas, nossa casa de oração e destruir tudo relacionado às nossas tradições. Ao perceber que não tínhamos escolha, tivemos que sair do nosso território e acampar à beira da rodovia, de onde também fomos expulsos por policiais”, disse a liderança indígena.
Histórico
Localizada na cidade de Maracaju (MS), a Terra Indígena Sucuruíy já foi nomeada “símbolo do absurdo” pelo Conselho Indígena Missionário (Cimi), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). .
É um exemplo da luta dos povos indígenas pela reconquista de parte de seus territórios originais, principalmente no centro-oeste do país.
A Funai reconheceu e delimitou a área em 1996, destinando cerca de 533 hectares para uso exclusivo dos Kaiowá. Cada hectare corresponde aproximadamente às medidas de um campo oficial de futebol.
A portaria declaratória que reconhece o direito territorial dos Kaiowá foi assinada em 1996. Apesar disso, os produtores rurais e a prefeitura recorreram da decisão, impedindo o retorno imediato dos indígenas à área, obrigando-os a permanecer acampados às margens de rios próximos. estradas.
Como forma de pressionar o poder público para retirar os não indígenas da área e concluir o processo de demarcação, um grupo indígena ocupou parte da reserva em 1997.
A intermediação do Ministério Público Federal (MPF) foi necessária para que os kaiowá ocupassem apenas 65 hectares da área total. Em 1999, a reserva foi aprovada pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
No mesmo ano, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região rejeitou, por unanimidade, o recurso que tentava impedir a fixação dos Kaiowá na área, mantendo decisão judicial anterior que determinava o desmatamento de Sucuruíy.
“A partir daí, trata-se de proteger [a área e a comunidade]. Porque os direitos dos povos indígenas não se esgotam com a conclusão dos procedimentos de demarcação, que estabelecem limites territoriais para que o Estado brasileiro possa incluir no seu planejamento o exercício de outros direitos, como programas de desenvolvimento sustentável”.
O pedido de perdão aos índios Kaiowá segue o mesmo apelo feito, em abril deste ano, aos indígenas Krenak, do leste de Minas Gerais, e aos Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, por graves violações dos direitos dos comunidades indígenas. cometidos principalmente durante o regime militar (1964/1985).
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