Segundo investigação da Polícia Federal (PF) que investiga o caso das joias sauditas, o grupo envolvido na venda ilícita das peças milionárias, recebidas como presente, teria agiu para enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O sigilo do caso das joias sauditas foi retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (8). O valor total da operação é de US$ 1.227.725,12 ou R$ 6.826.151.661. Inicialmente, a PF mencionou o valor de R$25.298.083,73, mas corrigiu para um valor inferior.
A PF solicitou o indiciamento de Bolsonaro e de outras 11 pessoas. A investigação aponta ainda que Mauro Lourena Cid pai de Mauro Cid teria transferido em dinheiro para Bolsonaro o valor de US$ 25 mil.
Veja trecho: Diante do exposto, a análise parcial dos dados analisados revelou que MAURO CESAR LOURENA CID o teria guardado em sua residência, na cidade de
Miami, objetos (barco dourado e árvore) que possivelmente foram dados como presentes oficiais de autoridades estrangeiras a JAIR MESSIAS BOLSONARO em viagem internacional. Depois, MAURO CESAR LOURENA CID e seu filho MAURO CESAR BARBOSA CID encaminhou os objetos desviados, pertencentes ao acervo público brasileiro, aos estabelecimentos comerciais especializados, ser avaliado e vendido (diretamente e/ou em leilão).”
“Além disso, os elementos provas colhidas, demonstraram que MAURO CESAR LOURENA CID recebeu, em nome e em benefício de JAIR MESSIAS BOLSONARO, no mínimo 25 mil dólares, que teria sido repassado em espécie ao ex-Presidente, visando, de forma deliberado, não passar pelos mecanismos de controle e pelo sistema financeiro formal. Os dados também indicam a utilização de uma conta bancária, provavelmente vinculada ao LOURENA CID, para movimentação de valores, que poderão advir de da venda de outros itens ainda não identificados, recebidos pelo ex-presidente JAIR BOLSONARO e desviado do acervo público brasileiro, pelos investigados.
A CNN tenta contato com as defesas de Jair Bolsonaro e da família Cid para comentar a investigação da PF. O texto será atualizado posteriormente.
“Uso do Estado para obter vantagens”
O relatório da Polícia Federal aponta que o objetivo principal do grupo era promover o enriquecimento ilícito de Jair Bolsonaro. O grupo teria utilizado o Estado para obter vantagens com o desvio de brindes de alto valor do acervo público brasileiro. Doze nomes, incluindo Bolsonaro, aparecem na lista da PF.
Veja trecho: Diante do exposto, MAURO CESAR BARBOSA CID, JAIR MESSIAS BOLSONARO, MARCELO DA SILVA VIEIRA, JULIO CESAR VIEIRA, MARCELO COSTA CAMARA, BENTO COSTA LIMA LEITE DE ALBUQUERQUE JUNIOR, OSMAR CRIVELATTI, FABIO WAJNGARTEN, FREDERICK WASSEF, MAURO CESAR LOURENA CID, JOSÉ ROBERTO BUENO JUNIOR e MARCOS ANDRE DOS SANTOS SOEIRO foram indiciados pela prática do crime de associação criminosa, previsto no art. 288 do Código Penal, por terem se associado desde outubro de 2019 até dezembro de 2022 à prática dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro, com o objetivo de promover o enriquecimento ilícito do então Presidente da República JAIR BOLSONARO”.
“Apurou-se que o grupo investigado agiu para desviar do acervo público brasileiro diversos presentes de alto valor recebidos em razão de seu cargo pelo ex-presidente da República JAIR BOLSONARO e/ou por delegações do governo brasileiro, que atuavam em seu nome , em viagens internacionais, entregues por autoridades estrangeiras, para posteriormente serem vendidos no exterior e posteriormente, após atos de lavagem de dinheiro, devolvidos ao patrimônio de JAIR BOLSONARO, com aparência legal”.
Bolsonaro usou recursos para pagar estadia nos EUA
A Polícia Federal (PF) aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria utilizado os recursos das joias para custear sua estadia nos Estados Unidos. Veja o que diz o relatório da PF sobre o aproveitamento do valor obtido com as joias:
“Esse fato indica a possibilidade de que os recursos obtidos com a venda ilícita de joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, ao patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para cobrir despesas em dólares para JAIR BOLSONARO e sua família, enquanto permanecessem em solo norte-americano. A utilização de dinheiro para pagar as despesas do quotidiano é uma das formas mais comuns de reintegrar o “dinheiro sujo” na economia formal, com aparência legal.”
Transferência de 80% do patrimônio
A PF indica que Bolsonaro transferiu quase 80% do valor depositado em suas contas no Brasil para os EUA. O relatório indica que esse movimento fez parte de uma estratégia.
“O ex-presidente JAIR BOLSONARO decidiu deixar o país e ir para os Estados Unidos. Como parte de sua estratégia, o ex-presidente levou para o exterior quase todos os seus recursos financeiros, que estavam disponíveis para movimentação imediata, transferindo 80% do valor depositado em contas bancárias no Brasil para sua nova conta no Banco BB Américas, com sede em Miami/ Flórida.”
Cid foi aos EUA para tentar recuperar “kit ouro branco”
Segundo a Polícia Federal, foram encontradas mensagens de WhatsApp em um celular apreendido que mostram que Mauro Cid fez uma viagem aos Estados Unidosem 27 de março de 2023, para tentar recuperar o chamado “kit ouro branco”, que foi entregue a Bolsonaro em sua visita oficial à Arábia Saudita, em outubro de 2019.
O material foi vendido em estabelecimento especializado na cidade de Miami.
Veja trecho: Vale ressaltar que nesta data, MAURO CESAR CID não trouxe o relógio em ouro branco e diamantes, da marca Rolex, que também compunha o referido Kit apresentado ao ex-presidente porque, como já explicado, o relógio estava separado do os demais itens do Kit e enviados para a loja Precision Watches da cidade de Willow Grove, no estado norte-americano da Pensilvânia. Até o momento da análise parcial dos dados, os diálogos demonstram que a “operação de resgate” envolveu MAURO CID, OSMAR CRIVELATTI e MARCELO CAMARA. No mesmo contexto, MAURO CID sacou a quantia de 35 mil dólares no Banco BB Américas, possivelmente de sua conta bancária, trazendo os recursos em espécie para o Brasil. Ao chegar na cidade de Brasília/DF, as joias possivelmente foram entregues ao assessor de JAIR BOLSONARO, OSMAR CRIVELATTI, que aguardava MAURO CID no aeroporto, e posteriormente devolvidas à Caixa Econômica Federal.
“Selva”
Conversa no WhatsApp obtida pela Polícia Federal revela que Bolsonaro foi informado diretamente sobre o leilão de joias. Mauro Cid ainda enviou link do leilão de uma das peças. O ex-presidente respondeu: “Selva”.
Segundo a PF, análise do celular do ex-presidente indica que ele navegou nas páginas da empresa Leilão Fortuna, responsável pelo leilão do KIT OURO ROSÉ.
Veja trecho: Os cookies foram registrados por volta de “2023-02-04T20:36:26Z” (4 de fevereiro às 17h36min26s horário de Brasília, aproximadamente 21 minutos após MAURO CID enviar o link do leilão.
Após aproximadamente um minuto de abertura da página, o ex-presidente envia a mensagem “Selva” para MAURO CID.
Bolsonaro pode ser condenado?
A investigação investiga se Bolsonaro e ex-assessores desviaram peças valiosas do acervo presidencial que lhe foi entregue quando estava no cargo.
Se condenado, o ex-presidente poderá pegar entre 10 e 32 anos de prisão pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos (peculato). O caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde o relator é o ministro Alexandre de Moraes.
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