Áreas para fumantes, espaços reservados a fumantes em locais públicos ou privados, em espaços fechados, poderão reabrir no Brasil por meio de projeto de lei que tramita no Congresso Nacional.
Isso porque a proposta que legaliza os jogos de azar – que foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado no último dia 19 – inclui a devolução desses locais aos estabelecimentos autorizados a funcionarem cassinos e bingos.
Ainda não há data marcada para que a votação no Senado ocorra, mas não deve ser antes do recesso parlamentar, que começa no dia 18 de julho.
Diante da resistência, o senador Irajá (PSD-TO), relator que trabalha para aprovar a matéria, disse à CNN que a implantação de áreas para fumantes precisará de regulamentação e que o Ministério da Saúde será ouvido.
Ele disse ainda que o entendimento é que a autorização desses espaços depende de decisão do Poder Executivo, que tem competência para tratar do assunto por meio de decreto.
Procedimento polêmico
A proposta é criticada por parlamentares da bancada evangélica e entidades ligadas ao setor saúde.
O texto foi enviado ao plenário da Câmara para análise, mas um pedido pedia que a discussão fosse adiada para que pudesse ser debatida em audiência na Comissão de Assuntos Sociais.
O autor do pedido, senador Carlos Viana (Podemos-MG), citou o vício em jogos, principalmente entre pessoas vulneráveis, como idosos.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que estaria sob pressão do Palácio do Planalto, surpreendeu os senadores ao demonstrar que pretende levar o assunto diretamente ao plenário sem que o texto passe por mais comissões, como era esperado.
Áreas para fumantes não existem em ambientes fechados há mais de 10 anos
A lei antitabagismo, aprovada em 2011 e regulamentada em 2014, extinguiu as áreas para fumantes no Brasil.
Segundo a norma, “é proibido o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em espaços coletivos fechados, sejam privados ou públicos”.
A lei anterior, de 1996, permitia área exclusiva para fumantes, desde que isolada e com ventilação adequada.
No momento da mudança, mais de um milhão de empresas foram afetadas e tiveram de se adaptar.
Dados de 2019 da Pesquisa Nacional de Saúde, da Fiocruz, apontam o percentual total de adultos fumantes no Brasil em 12,6%. Em 1989, esse número era de 34,8%.
Tabagismo passivo e gastos públicos
Além dos fumantes, a preocupação é com o consumo passivo por parte dos demais visitantes e trabalhadores desses locais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo passivo é a 3ª maior causa de morte evitável no mundo, perdendo apenas para o tabagismo ativo e o consumo excessivo de álcool.
Mariana Pinho, da ONG Tobacco Control Alliance, disse CNN que a aprovação da medida, tal como está, “constituiria um retrocesso, pois não existem níveis seguros de exposição ao fumo tóxico do tabaco”.
E “mecanismos de engenharia, como ventilação, troca de ar e utilização de áreas destinadas exclusivamente ao fumo, não protegem contra a exposição”, segundo ela.
A organização também alerta para o ônus extra que recairia sobre o sistema de saúde brasileiro caso as fumódromos reabrissem.
Projeto também lança o jogo do bicho
O Projeto de Lei 2.234/2022, que autoriza o funcionamento de cassinos e bingos no Brasil, também legaliza os jogos de azar e permite apostas em corridas de cavalos.
Segundo o texto, seria permitida a instalação de cassinos em centros turísticos ou complexos integrados de lazer, como hotéis de alto padrão, restaurantes, bares e locais para reuniões e eventos culturais.
O projeto também propõe a emissão de licença para cassino em cada estado e no Distrito Federal. Alguns estados teriam exceção, como São Paulo, que poderia ter até três cassinos, e Minas Gerais, Rio de Janeiro, Amazonas e Pará, com até dois cada, devido ao tamanho da população ou território.
Segundo os defensores, a maior justificativa seria o crescimento social e econômico, com aumento do fluxo de turistas.
Estimou-se que seria arrecadada uma receita anual de R$ 22 bilhões, dividida entre os estados, municípios e União, além da geração de cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos.
A exploração de jogos de azar no Brasil está proibida desde 1946.
Atualmente, as práticas de jogos de azar, jogos de azar e apostas em corridas de cavalos fora do hipódromo ou local autorizado são classificadas como “contraordenações criminais”, passíveis de prisão simples e multa.
*Com informações de Renata Souza
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