A Polícia Federal anunciou que utilizará dados genéticos do Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), administrado pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), para ajudar pessoas adotadas a encontrar seus familiares biológicos.
O pastor evangélico Eduardo Pires, 45 anos, é filho adotivo e sempre conheceu sua história, mas nunca se interessou em conhecer suas origens até ser pai pela primeira vez, em 2009.
“Naquele momento, uma chave virou na minha cabeça, porque comecei a pensar que também fui gestada por alguém, assim como minha mãe biológica, que me deu à luz. Tudo isso começou a levantar algumas questões”, diz Pires.
Pires tem um ótimo relacionamento com os pais que o criaram. Cresceu em um lar com amor, respeito e admiração, sempre quis ter as mesmas atitudes dos pais, por isso, além do filho biológico, adotou mais cinco filhos.
Para encontrar seus pais biológicos, Pires tentou usar as poucas informações que tinha sobre sua mãe, além de recorrer a bancos privados de DNA, mas até o momento não obteve sucesso em sua busca.
Não estará descartada a oportunidade de tentar a reunificação através do BNPG.
“Todas as ferramentas que facilitam a busca pela origem são importantes. O direito de procurar as nossas origens é essencial para todos os adoptados. Se houver possibilidade, serei um dos primeiros a participar.”
Toda pessoa adotada tem o direito de conhecer o seu passado e esta é uma escolha pessoal. De acordo com a legislação brasileira, ninguém pode se opor a isso.
“Qualquer pessoa adotada tem direito à busca de sua origem biológica, isso está expressamente previsto no ECA. Os pais biológicos não podem rejeitar este direito. Eles não podem dizer que não querem ser encontrados ou que não querem que seus filhos os procurem. Então, não há possibilidade de os pais biológicos se oporem a esse direito”, explica Iberê de Castro Dias, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, titular do Juizado Especial de Infância e Juventude de Guarulhos (SP).
O possível reencontro com sua árvore genealógica faz Pires refletir sobre o que espera ao conhecer sua mãe.
“Gostaria de encontrá-la para amá-la e dizer-lhe que a culpa que talvez ela carregue não é necessária, que estou aqui, estou bem e resolvido.”
Eduardo Pires, filho adotivo
O BNPG também poderá ajudar pessoas que foram adotadas e levadas para o exterior numa época em que as regras de adoção não eram tão claras.
“Tem brasileiros na Holanda, na Alemanha, na França, na Itália, em Portugal, enfim, em vários países europeus. Muitas adoções nas décadas de 70, 80 e 90 foram completamente irregulares. Era um sistema completamente diferente e acho que, para esses casos, o banco será bastante eficaz”, comenta o desembargador Iberê.
Embora tenha sido tomada a decisão de utilizar o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) para ajudar os adotados a encontrar seus familiares biológicos, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal ainda precisam definir detalhes do plano de trabalho, como o fluxo de chegada de solicitações e entrega de resultados, além de esclarecer se as solicitações serão feitas ao MJ ou à PF.
A busca de Pires pelas raízes familiares continua, uma lacuna que espera preencher em breve.
“Quando falamos em conhecimento das origens, esse também é um direito nosso. Não adianta dizer que está tudo bem, porque mesmo que esteja, existem algumas lacunas que precisam ser preenchidas em nossos corações. Essa é uma delas: conhecer minha mãe, meu pai e meus parentes biológicos”, finaliza Pires.
Compartilhar: