Homens e mulheres negros são os mais hospitalizados e mortos em decorrência de casos de agressão no Brasil. É o que aponta o “Boletim de Saúde da População Negra”, novo estudo realizado pelo Instituto de Estudos de Políticas de Saúde (IEPS) em parceria com o Instituto Çarê.
Ao investigar as principais diferenças em relação aos perfis raciais relacionados à saúde da população brasileira, a pesquisa analisou dados, de 2012 a 2022, que comprovam e revelam maior vulnerabilidade e indicadores desfavoráveis de saúde da população negra em comparação à população branca.
Em geral, segundo a pesquisa, os homens negros são hospitalizados com mais frequência por disparos de arma de fogo e as mulheres negras são hospitalizadas por ataques envolvendo objetos cortantes e penetrantes.
A maioria dos casos de internação por agressão
Para o levantamento, os autores da pesquisa, Rony Coelho e Manuel Mahoche, fizeram uma análise das taxas de internações por agressão e as segmentaram por raça/cor da pele.
O perfil foi verificado para cada caso de internação de pessoa negra em uma população de 10 mil habitantes.
Segundo o Boletim, na média móvel de 12 meses de dezembro de 2012, a taxa de internação de pessoas negras era de 0,107 (por 10 mil habitantes). Em dezembro de 2022, 10 anos depois, os negros representavam 0,228 dos índices, o que corresponde a um aumento de aproximadamente 113%.
Em números absolutos, em 2022, para cada 10 mil habitantes, os negros foram responsáveis por 1.146 das internações, em 2022 foram 2.745. Ou seja, num período de 10 anos, o número de negros hospitalizados por agressão mais que dobrou.
Em relação às causas das internações, os homens negros são internados mais frequentemente por disparos de arma de fogo, enquanto as mulheres negras são internadas mais frequentemente por ataques envolvendo objetos cortantes, penetrantes ou contundentes, segundo a pesquisa.
Em 2012, o número absoluto de internações mensais de homens negros por disparos de arma de fogo variou de 206 a 334, com média de 272 casos. Em 2017, a média de 12 meses chegou a 747 ocorrências, quase triplicando o número em relação a 2012. Em 2022, essa média diminuiu para 580, indicando mais de uma internação diária de homens negros por disparos de arma de fogo.
Pernambuco, Pará e Roraima são os estados onde mais homens negros foram internados por agressão, quando comparados aos homens brancos.
Em relação às mulheres negras, a maioria das internações é causada por força física e objetos perfurocortantes. Em 2012, tiveram uma média mensal de 45 internamentos, que subiu para 104 em 2022, um aumento que corresponde a mais de 130%.
Mortalidade por agressão é maior entre negros
Segundo dados divulgados pela pesquisa, ao analisar os casos de mortalidade no país, os negros ainda são os que mais morrem em decorrência dos ataques.
Em dezembro de 2012, a taxa média móvel para negros era de 3,03 mortes por 100 mil habitantes e de 1,31 para brancos. Neste primeiro ano da pesquisa, em média mensal, 3.188 pessoas negras morreram em agressões, em comparação com 1.196 pessoas brancas.
Em 2017 ocorreu a maior média mensal de óbitos. Foram 4.008 inscrições para negros e 1.166 para brancos. No último ano da série, 2022, esses números fecharam, respectivamente, em 2.712 e 747.
Como se pode verificar pelos dados, a diferença entre as taxas de mortalidade de negros e brancos ainda é significativamente grande.
A qualquer hora do dia, os negros também são a maioria dos mortos por agressão. Porém, o período entre 21h e 23h é onde a população negra mais morre.
Além disso, o estudo também aponta que as taxas de mortalidade de homens negros são muito maiores na faixa etária de 18 a 24 anos, em comparação com homens brancos da mesma idade.
Ainda segundo a pesquisa, homens negros morreram mais em vias públicas, seguidos de incidentes em hospitais e residências, principalmente por disparos de arma de fogo. Até 2018, as mortes de homens negros por tiros em vias públicas eram mais que o dobro das mortes de homens brancos.
No caso dos tiros, as mulheres negras apresentam taxas de mortalidade consistentemente mais elevadas em comparação com as mulheres brancas. Em 2012, ocorreram 814 mortes de mulheres negras em vias públicas, 631 em casa e 654 em hospitais. Para as mulheres brancas, foram 302, 422 e 342, respectivamente.
Em 2022, esses números eram 629, 603, 437 para mulheres negras e 207, 349 e 166 para mulheres brancas, respectivamente, para armas de fogo disparadas em vias públicas, residências e hospitais.
No que diz respeito às mulheres, observa-se que, em geral, apresentam taxas de mortalidade inferiores às dos homens, mantendo-se relativamente estáveis. No entanto, as mulheres negras apresentam taxas mais elevadas em comparação com as mulheres brancas.
Ao abordar o objetivo central para a existência do estudo, os autores da pesquisa afirmam que além de documentar as internações, também buscam contribuir para a formulação de estratégias eficazes de combate às desigualdades.
“Com a inclusão sistemática da questão raça/cor nos registros de saúde e a formação de profissionais conscientes, pretendemos promover uma assistência à saúde mais justa e equitativa”, finaliza o boletim ao final do estudo.
*Sob supervisão de Bruno Laforé
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