Grupos de pesquisa de sete universidades da Amazônia se uniram para criar o Instituto Mercúrio da Amazônia (Iamer) com o objetivo de unir esforços para estudar a contaminação por metais na região. A ideia é produzir pesquisas científicas, capacitação profissional e engajamento comunitário para enfrentar o problema que afeta o meio ambiente e a saúde pública das comunidades.
O instituto envolve pesquisadores das universidades federais do Pará (UFPA), Oeste do Pará (Ufopa), Amapá (Unifap) e Rondônia (Unir), além da Universidade de Gurupi, no Tocantins (UnirG) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
“As ações do Iamer facilitam o trabalho de muitos grupos na Amazônia, porque traz visibilidade e capacidade de coordenação na obtenção de recursos. Melhorará o desempenho da despesa pública nestas ações. A ideia é apoiarmos uns aos outros, aqui na Amazônia”, explica a coordenadora do Iamer, Maria Elena Crespo López, que também é professora da UFPA.
O mercúrio é um metal que, à temperatura ambiente, apresenta a forma líquida utilizado na mineração, para separar o ouro de minerais sem valor comercial. Nesse processo, o mercúrio acaba se espalhando pela água, pelo solo e pela atmosfera (já que também se volatiliza no processo de separação do ouro).
Isso não só gera poluição ambiental, mas também contamina plantas, peixes e, consequentemente, as pessoas que os consomem.
Uma das primeiras propostas do instituto é criar pelo menos um centro para testar pessoas quanto à contaminação por mercúrio em cada estado amazônico. Outra proposta é reunir dados confiáveis e realistas para subsidiar políticas públicas com efeitos duradouros na Amazônia, como a aprovação do Projeto de Lei 1011/2023, que tramita no Senado e que visa instituir a Política Nacional de Prevenção à Exposição para Mercúrio no Brasil.
“O impacto do mercúrio na população amazônica vai muito além dos problemas neurológicos em casos de intoxicações agudas. Mas o grande problema é que, mesmo em quantidades baixas, quando uma pessoa está continuamente exposta, isso começa a afetar o coração, o aprendizado das crianças e há também custos previdenciários.”
Maria Elena alerta, porém, que o problema ultrapassa as fronteiras amazônicas, pois uma vez na água e na atmosfera, o mercúrio pode percorrer grandes distâncias. “A ciência já demonstrou que o mercúrio gerado na América do Sul — 80% dele tem origem na Amazônia — chega a regiões tão distantes quanto o Ártico. Se o mercúrio gerado na Amazônia está chegando ao Ártico, está chegando a todo o Brasil.”
Além disso, produtos alimentícios contaminados com mercúrio poderão ser vendidos em outros locais. O Iamer começa a funcionar nesta terça-feira (21) e conta com o apoio da organização não governamental WWF-Brasil e do Ministério da Justiça.
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