Seis em cada dez indígenas que vivem em áreas urbanas do país convivem com pelo menos uma doença crônica. O cenário foi revelado após pesquisa inédita da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicada na revista “Saúde em Debate”.
Entre os principais diagnósticos estão hipertensão, problemas na coluna, colesterol alto e depressão. Cerca de 35% dos indígenas que vivem fora das aldeias no Brasil, com 20 anos ou mais, têm duas ou mais doenças.
O estudo trouxe um levantamento inédito do perfil de saúde da população indígena brasileira não aldeada com base em dados de 651 indivíduos, da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. A idade média entre homens e mulheres indígenas que vivem fora das aldeias é de 45 anos. A maioria tem renda de até um salário mínimo (66%) e ensino fundamental completo (67%), índice de escolaridade crescente em relação aos censos demográficos anteriores.
Cerca de 90% vivem em áreas urbanas e não possuem seguro de saúde privado. Ou seja, dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o estudo, entre mulheres e idosos, a hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, é a mais prevalente. Os indígenas com mais de 60 anos também são os que mais apresentam problemas de coluna (29%) e de controle do colesterol (26%).
Para a coautora do estudo, Deborah Malta, da Escola de Enfermagem da UFMG, o mapeamento revela uma mudança no estilo de vida da população indígena que vive nos centros urbanos, bem como de outros grupos populacionais. “A alta prevalência de doenças crônicas não transmissíveis nesse grupo pode ser decorrente de mudanças no estilo de vida, piora na alimentação, aumento da expectativa de vida e aumento da obesidade”, acrescenta.
Em relação à população indígena em todo o Brasil, o artigo cita dados do Sistema de Informação de Saúde Indígena, que registrou cerca de 42 mil casos notificados de doenças crônicas entre 2015 e 2017.
Diante dos dados revelados, Malta destaca a importância da ampliação de estudos envolvendo a população indígena do Brasil, que depende de políticas de inclusão, como o Sistema Único de Saúde, especialmente aqueles que vivem em aldeias e áreas isoladas, como os Yanomami. “A situação desta população está a agravar-se devido às invasões das suas terras, destruição de rios e florestas e agravamento da sua saúde, com aumento da desnutrição, malária e doenças infecciosas, por falta de políticas de proteção”, diz Malta.
Segundo ela, ainda há um longo caminho a percorrer em termos de equidade, embora o governo federal tenha adotado iniciativas importantes para reduzir essas desigualdades, como, por exemplo, a criação do Ministério dos Povos Indígenas.
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