Considerado um dos cinco principais biomas do Brasil, o Cerrado sofreu com a devastação de 88 milhões de hectares nos últimos 39 anosaponta relatório do MapBiomas divulgado nesta quarta-feira (11). Entre 1985 e 2023, a área média anual queimada foi de 9,5 milhões de hectares.
Hoje, dia 11, é comemorado o Dia Nacional do Cerrado.
Segundo o estudo, a área queimada equivale a 43% de toda a extensão do bioma e ultrapassa o território de países como Chile e Turquia. O Cerrado é um bioma brasileiro caracterizado por savanas, vegetação arbórea, arbustos amplamente espaçados e rica biodiversidade. Seu clima é considerado tropical com estações secas e chuvosas.
De acordo com o estudo, Além das queimadas, o Cerrado também enfrentou, ao longo desses 39 anos, altos índices de desmatamento. A pesquisa mostra que nos últimos 39 anos foram derrubados 38 milhões de hectares de vegetação nativa, o que representa uma redução de 27% na cobertura original do bioma.
O estudo mostra que atualmente cerca de metade da área total do Cerrado já foi alterada pelas atividades humanas. Isto se deve principalmente ao cultivo da soja, que ocupa cerca de 19 milhões de hectares. O bioma é responsável por quase metade da área cultivada com grãos no Brasil.
Aumento de incêndios
Embora possua tipos de vegetação que evoluíram para lidar com as queimadas, o aumento das secas e das temperaturas extremas, aliado ao uso indiscriminado das queimadas, agravou as queimadas no bioma, colocando em risco a sua biodiversidade.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nesta terça-feira (10) o Brasil registrou 5.132 focos de incêndio em apenas 24 horas. O aumento no número de focos ocorreu no bioma Cerrado, que ultrapassou a Amazônia em frentes de fogo e registrou 2.489 focos.
O estudo MapBiomas aponta que entre janeiro e agosto de 2024, o Cerrado já perdeu 4 milhões de hectares pelo fogo, um aumento de 85% em relação ao mesmo período de 2023. O mês de agosto deste ano registrou a maior área queimada desde 2019, com mais de 2,4 milhões de hectares afetados, destacando a urgência de medidas de prevenção e controle para proteger o bioma.
“É fundamental implementar políticas públicas que promovam a conscientização, reforcem o monitoramento e combatam com rigor as queimadas ilegais”, destaca Vera Arruda, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Impactos ambientais
A região do Matopiba, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, contém 48% da vegetação remanescente do Cerrado e viu sua área agrícola aumentar 24 vezes em 39 anos. Porém, o Matopiba também foi responsável por 41% do desmatamento do bioma nas últimas décadas.
“O desmatamento nesse ritmo terá graves consequências para a regulação climática e para setores econômicos, como o do agronegócio, que depende dos recursos hídricos e do clima do Cerrado”, alerta Dhemerson Conciani, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Para tentar reduzir esse desmatamento, o Código Florestal Brasileiro exige que as propriedades rurais do Cerrado mantenham pelo menos 20% de sua área preservada como Reserva Legal. Porém, áreas que ultrapassam essa proporção podem ser desmatadas legalmente, o que ameaça ainda mais a conservação do bioma.
Por outro lado, 14,7% da vegetação preservada está em áreas protegidas de uso coletivo, como unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas. Nessas áreas, mais de 93% da vegetação nativa permanece intacta, mas o desmatamento em terras indígenas do Cerrado aumentou 188% em 2023.
Seco
O A crise hídrica atinge também o Cerrado, agravada pelas mudanças climáticas e pela imprevisibilidade do regime de chuvas. Segundo o estudo, a superfície natural da água no bioma caiu 53% desde 1985, passando de 1,6 milhão para 696 mil hectares em 2023.
Embora o Cerrado seja a fonte de nove das doze principais bacias hidrográficas do Brasil, apenas 37% de sua água está em áreas naturais, enquanto 51% são áreas hidrelétricas.
O estudo aponta que as áreas úmidas do Cerrado, essenciais para a manutenção dos recursos hídricos e da agricultura, perderam 500 mil hectares em 39 anos. Este declínio representa 7% de todas as zonas húmidas do bioma, comprometendo ainda mais o abastecimento de água e aumentando a vulnerabilidade aos desastres climáticos.
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