O papel dos catadores é crucial na cadeia de reciclagem e na chamada economia circular. E o trabalho de um dos primeiros catadores de lixo da Argentina serviu de exemplo para toda a comunidade de Buenos Aires.
É o caso que Cristina Leicaroque ficou desempregada em meio à hiperinflação na Argentina em 1989 e começou a coletar papelão para alimentar seus filhos. Daí surgiu a ideia de se juntar a outros catadores para exigir melhores condições de preço dos materiais. Cerca de 35 anos depois, a cooperativa El Ceiboa primeira organização do gênero na capital Buenos Aires, emprega cerca de 300 pessoas. Matias LeicaroFilho de Cristina e que assumiu a cooperativa após a morte da mãe, preside os trabalhos da empresa.
Na Argentina, a recolha de produtos recicláveis ganhou impulso com a crise de 2001, que empurrou milhares de argentinos para a pobreza. A participação de muitos em busca de meios de subsistência impulsionou o reconhecimento da atividade, a criação de novas cooperativas e o apoio de organizações ambientalistas. Hoje, estudos indicam que existem cerca de 200 mil catadores de materiais reciclados na Argentina.
“A verdade é que quando estávamos a mexer nos sacos do lixo não pensámos no ambiente, não nos apercebemos disso. Principalmente os fundadores da cooperativa procuravam alimentos para dar aos filhos, à família”, afirma Matías.
“Mas com o tempo, tanto a Cris quanto o restante das cooperativas perceberam que a nossa contribuição para o cuidado do meio ambiente em nível global é muito grande, então precisamos muito da ajuda dos moradores para conscientizar para que a inclusão funcione social, como o que você vê, e o cuidado com o meio ambiente continua crescendo”, continua.
O trabalho da cooperativa El Ceibo foi apresentado em um Luciana Taddeo para o Sustentabilidade CNNPrograma da CNN apresentado pelo âncora Márcio Gomes e pelo analista de Meio Ambiente e Clima, Pedro Cortes. A edição exibida neste sábado (31) discutiu os desafios e perspectivas para impulsionar a economia circular e a reciclagem, além de destacar algumas iniciativas já presentes no nosso dia a dia.
O trabalho organizacional e cooperativo na Argentina ainda não está difundido. Mas a situação é diferente na capital Buenos Aires. Lá, todos os bairros possuem cooperativas – como é o caso de El Ceibo, que fica no bairro de Palermo.
Na última década, a prefeitura de Buenos Aires investiu em máquinas, o que ajudou os recicladores a trabalhar com mais eficiência e segurança. A capital argentina tornou-se referência em reciclagem.
Catadores de materiais recicláveis dizem que com o agravamento da crise os resíduos gerados diariamente aqui em Buenos Aires diminuíram. Mas uma das características de El Ceibo é o vínculo com os moradores do bairro e o boca a boca que faz com que cada vez mais pessoas queiram reciclar. Então, apesar da queda no consumo, a quantidade de material que chega aqui na cooperativa aumentou.
Todos os meses, cerca de 350 toneladas de resíduos passam pelos armazéns de El Ceibo. Uma obra que conta também com a dedicação de moradores e zeladores de prédios, escolas e hospitais, principalmente na correta separação dos materiais.
A cooperativa conta atualmente com grupos de promotores ambientais, que por telefone ou nos pontos de coleta explicam ao povo de Buenos Aires o que deve ou não ser colocado na sacola de reciclagem e que ela deve estar limpa, sem nenhum tipo de alimento. Um cuidado que facilita o trabalho de separação e garante que os materiais não tenham cheiro de resíduo.
“A relação que você tem com seus vizinhos no dia a dia. Conhecer as necessidades em relação à reciclagem, saber quantas sacolas estão sendo separadas, ter um diálogo constante tanto para treinar quanto para enviar os caminhões. Acho que com o tempo conseguimos isso, de ter um vínculo muito, muito forte, eles nos ligam, pedem o serviço, acho que a chave está aí”, acrescenta Matías.
CNN Sustentabilidade – sábados, às 22h45, e domingos, às 18h45 (horário alternativo) na CNN Brasil.
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