A pior temporada de incêndios em 17 anos. A seca mais severa em 20 anos. Rio Solimões com menor nível da história para o mês de agosto. A fumaça dos incêndios se espalhou por dez estados brasileiros até agora.
A Amazônia corre o risco de entrar em um processo de “savanização” e as autoridades estão tentando encontrar formas de incentivar o desenvolvimento sustentável que mantenha a floresta em pé.
“O grande desafio é controlar o desmatamento. E isso é básico, se não reduzir o desmatamento ilegal nada vai prosperar”, afirma João Paulo Cabopianco, Secretário do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.
“Mas é preciso implementar alternativas que permitam às comunidades locais, à economia local, operar numa perspetiva diferente”, defende.
A entrevista foi exibida no Sustentabilidade CNNPrograma da CNN apresentado pelo âncora Márcio Gomes e pelo analista de Meio Ambiente e Clima, Pedro Cortes. O programa exibido neste sábado (24) discutiu as perspectivas da maior floresta do mundo – num momento em que dados mostram que, nos últimos 50 anos, cerca de 17% do bioma foi devastado.
“E há sinais alarmantes de que isso já pode estar acontecendo. Este ponto de viragem não acontecerá da noite para o dia. Já começa a dar sinais, porque a redução das chuvas na Amazônia é um sinal importante de que há menos circulação de umidade dentro da floresta”, afirma Pedro Côrtes.
Numa área onde vivem aproximadamente 22 milhões de pessoas, falar em desmatamento envolve também oferecer opções econômicas viáveis para esta população.
“Se tenho alternativas econômicas que geram resultados econômicos por meio da conservação, obviamente estou mudando a lógica da ocupação. Em vez de retirar a biodiversidade original e introduzir monoculturas ou pecuária, por exemplo, vou mantê-la e obter renda com isso”, reforça o secretário.
As iniciativas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia colocam o Brasil como uma potência ambiental – mas é necessário um esforço de todas as esferas de poder, além das comunidades da região, para se adaptar a um novo modo de crescimento econômico aliado à preservação.
“Hoje o Brasil desenvolve uma Política Nacional de Bioeconomia para dar valor. Hoje temos a ferramenta das concessões florestais, que visam promover o uso sustentável da floresta, o que não tínhamos na época.”
“Estamos aumentando essa possibilidade que gera empregos e renda em milhares de hectares, com a floresta ainda de pé. Temos agora coordenação com municípios e estados para propor soluções de regularização ambiental de propriedades rurais, ou seja, um conjunto de ferramentas econômicas positivas para fazer a transição”, explica Capobianco.
O Brasil é o país com maior biodiversidade do planeta – em grande parte graças ao bioma Amazônia, com mais de 30 milhões de espécies animais e mais de 16 mil espécies de árvores.
E o controle da biopirataria também é um dos pontos de atenção na proteção das florestas da região – especialmente no que diz respeito à fiscalização e regulamentação de ativos oriundos da floresta na indústria farmacêutica.
“Muito do que se faz em termos de pesquisa de produtos cosméticos, plantas medicinais, óleos essenciais, baseia-se em grande parte no conhecimento das comunidades, ou dos povos indígenas ou dos povos tradicionais que utilizam determinados produtos há gerações”, afirma Capobianco.
“Hoje a legislação brasileira prevê que esse conhecimento precisa ser remunerado”, explica o secretário, mencionando a SisGenSistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e Conhecimentos Tradicionais Associados, criado pelo Governo Federal em 2016 para catalogar e controlar o patrimônio de conhecimentos tradicionais.
“Existe um processo que permite monitorar e monitorar que garante que um produto que vai para a prateleira paga por todo o conhecimento tradicional associado e pelo uso da biodiversidade que deu origem a esse produto”, continua Capobianco, destacando a importância da valorização dos povos indígenas , detentores de patrimônio histórico relacionado à biodiversidade e à floresta.
“É mais que um royalty, é um reconhecimento de que o conhecimento tradicional é ciência. Hoje, o conhecimento dos povos indígenas, junto com a ciência acadêmica… quando isso se junta, tem um potencial enorme”, finaliza.
CNN Sustentabilidade – sábados, às 22h45, e domingos, às 18h45 (horário alternativo) na CNN Brasil.
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