A destruição do Rio Doce fez da tragédia de Mariana o maior desastre envolvendo barragens do mundo, nos últimos cem anos. Os dados são da consultoria Bowker Associates. Após o rompimento da barragem de Fundão, há 9 anos, a lama de rejeitos percorreu mais de 675 quilômetros. As obras de recuperação da bacia, que concentra cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo, são um ponto-chave para reparar a maior tragédia socioambiental da história.
Era sobre 11 toneladas de peixes mortosalém de 860 hectares de mata atlântica degradada. Foi necessária uma enorme ação de reparação ambiental no Rio Gualaxo do Norte, em Mariana, um dos primeiros afluentes afetados pela lama e que deságua no Rio Doce, o cenário que era de destruição, agora é completamente diferente.
Segundo Juliana Bedoya, gerente geral socioambiental e responsável pelos trabalhos socioambientais da Fundação Renova, instituição criada para liderar as obras, “esta foi uma região extremamente afetada, houve deposição de lama e a partir daí começou nosso trabalho de restauração . silvicultura. Aqui já trabalhamos há alguns anos e vocês podem ver o resultado com essa vegetação formada.”
“Temos outros trabalhos de recuperação da bacia, que são ações de compensação. E aí estou falando de restauração florestal. São 40 mil hectares a serem implantados, dos quais já temos 35 mil hectares em implantação, com processo de cercamento, plantio… 5 mil nascentes”, acrescentou Bedoya. A Fundação mantém parcerias com universidades, consultorias e outras organizações.
A ONG “Instituto Terra” trabalha há 26 anos com projetos socioambientais na bacia do Rio Doce. Uma obra que vai além das margens do rio.
Segundo Juliano Salgado, presidente da diretoria da Organização, “nessa nascente é a restauração que fazemos, plantando mais ou menos 500 árvores ao redor de cada nascente, criando pequenas bacias para a água assentar e ir até o lençol freático. Restauramos o lençol freático, salvamos as nascentes, trazemos árvores para a mistura agrícola e aumentamos drasticamente a renda dessas famílias.”
Estabelecido pelo acordo de ajustamento de conduta firmado entre as empresas causadoras do transtorno, o Estado e o Ministério Público, o trabalho não só voltará a ser o que era, o objetivo é ir mais longe.
“Estamos falando de uma bacia que já estava muito degradada e impactada, tanto pela ocupação quanto pelas atividades humanas. E agora temos a oportunidade de fazer reparos e deixá-lo aqui em melhores condições do que encontramos”, disse Juliana Bedoya.
Outro projeto é melhorar o sistema de esgoto da região. Segundo o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Doce, órgão vinculado ao governo federal, 69% de todo o esgoto gerado pelos municípios ribeirinhos não passa por tratamento e é despejado diretamente em córregos, rios e afluentes.
Mais de R$ 761 milhões foram disponibilizados para ações de saneamento. Obras em sete municípios foram concluídas e outras dezesseis cidades de Minas Gerais e Espírito Santo estão em andamento.
Além dos dados e estatísticas, a confiança da população em poder usufruir do rio também faz parte do regresso à normalidade.
“Fui uma das primeiras pessoas a ser remunerada e estou muito feliz por isso. E me trouxe um alívio, uma felicidade muito grande quando recebi, que tinha certeza que todas as outras artesãs também receberiam”, disse Terezinha Guês.
Conhecida como “Tetê”, ela é moradora de Baixo Guandu, município do Espírito Santo, afetado pela poluição de rios.
Ela foi a primeira a receber o pagamento pelo sistema de remuneração simplificado, denominado “novo”. A medida foi criada, após decisão judicial, para indenizar categorias que tenham dificuldade em comprovar os danos, como lavadeiras, carroceiros, pescadores e artesãos, como Tetê. Dos mais de 37 bilhões de reais desembolsados para obras de reparos, 17 bilhões foram destinados a indenizações.
Para Flamínio Guerra, secretário do CBH-Doce, “o rio ainda hoje está em condições muito adversas, mas temos que trabalhar para melhorar a condição de tê-lo todos os dias na nossa vida, certo? Isso pertence à sua comunidade, isso pertence à sua vida.”
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