A Câmara Municipal de Conselheiro Lafaiete (MG), cidade localizada a cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte, anunciou esta semana a “suspensão temporária” das obras envolvendo o livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo. A decisão foi tomada após reclamações de pais de alunos sobre a obra.
Nesta quinta-feira (20), a Secretaria de Educação do município divulgou nota negando ter retirado o livro das escolas. Segundo o ministério, a suspensão dos trabalhos da obra visa “reajustar melhor a abordagem pedagógica”, evitando assim interpretações erradas”.
“Ou seja, a suspensão foi apenas pelo tempo necessário para formalizar um plano de trabalho que evitasse qualquer dupla interpretação ou preocupação da comunidade escolar.”
A secretaria afirma que, na próxima semana, promoverá uma live com a comunidade escolar para discutir “aspectos abordados no trabalho”. “De 25 de junho a 1º de julho, as unidades escolares promoverão rodas de conversa entre professores e membros da comunidade escolar para esclarecer apontamentos sobre os temas abordados.”
“A Secretaria Municipal repudia qualquer declaração de censura e esclarece que preza pela liberdade de expressão, pela pluralidade e pelo respeito a todos, destacando que em nenhum momento foi cogitada qualquer ação que não fosse manter a obra em seu rol de livros e promover um debate mais amplo sobre os assuntos importantes nele abordados”, diz o ministério.
O livro de Ziraldo foi escrito em 1986 e conta a história da relação entre dois grandes amigos: o menino pardo e o menino rosa.
Veja trechos do livro:
Eles estavam juntos, praticamente, desde o dia em que nasceram, brincando, conversando, inventando coisas, brigando, rolando na grama, dando socos na cara um do outro, fazendo as pazes, brigando de novo, andando na praça, brincando na escola, sempre juntos, sempre rindo, sempre inventando moda. E nunca se preocuparam com o fato de um ser de uma cor e o outro de outra. Agora, eles queriam saber o que era branco e o que era preto e se isso diferenciava os dois.
Em determinado momento do livro, a autora relata uma situação em que uma idosa atravessava a rua e recusou a ajuda oferecida pelo menino pardo. Nos dias que se passaram, o menino chamou o amigo, o menino rosa, para ver a idosa caminhando em direção à igreja – caminho que ela fazia diariamente.
E aí apareceu a velha, de novo, indo para a missa. Os dois não disseram nada. Apenas observaram a velha atravessar a rua que dava para a praça e depois para a igreja. A velha desapareceu na vegetação da praça e os dois voltaram para casa. No dia seguinte, ele olha novamente para os dois ali, sentados na calçada, esperando a velhinha passar. No final de algumas manhãs, como o moreno não falava nada, o rosa resolveu perguntar: ‘Por que você vem todos os dias ver a velha atravessar a rua?’ E o moreno respondeu: ‘Quero ver ela ser atropelada’. Como pode durar esse jogo de deus e diabo no peito de um menino?
Em outro momento, o menino rosa cresce e, já adolescente, sai da cidade onde morava. Enquanto os dois se dirigiam para a rodoviária, eles se lembraram de uma brincadeira que faziam quando eram crianças. “’Temos que selar nosso pacto com sangue”, disse um deles.
O autor então lembra como surgiu o jogo do “pacto de sangue”: “Eles eram tão pequenos naquela época que nem lembravam onde tinham visto esse negócio de pacto de sangue. Veja, um deles ficou acordado até tarde e assistiu a um filme de espadachim na televisão tarde da noite. Não sei, às vezes o que a gente aprende vem com o vento, sem nenhuma explicação.”
Um deles foi até a cozinha pegar uma faca afiada para furar os pulsos e misturar o sangue de seus eternos amigos. Os dois permaneceram, os bracinhos estendidos, as mãozinhas cerradas para cima, os pulsos expostos, latejantes. A pequena faca na mão, esperando o pacto. Os dois ali, parados, sem um único sorriso, apenas o som da respiração ofegante, olhando-se firmemente nos olhos, sem piscar: pacto é pacto. E a pequena faca ficou presa no ar. Até que um deles resolveu a questão: ‘você não tem alfinete?’
Os meninos desistiram de fazer pacto de sangue e decidiram usar tinta vermelha. Não conseguindo encontrar tinta dessa cor, usaram azul. “Foi o menino moreno quem encontrou o frasco de tinta azul. Ele abriu, enfiou o dedo no copo e mandou o outro fazer o mesmo. Os dois acabaram com as pontas dos furadores cheias de tinta azul. Esfregaram os dedos, pegaram uma folha de papel e, juntos, assinaram seus nomes. Na verdade, eles não assinavam: escreviam com a mesma dificuldade que escreviam seus nomes naquela época.”
No final do livro, o menino moreno escreve uma carta para o amigo, que, naquele momento, já morava em outra cidade, e lhe diz:
Meu querido amigo, estive muito triste ultimamente, pois estava com muita saudade de você. Agora estou mais feliz porque acabei de descobrir algo importante: o preto é apenas a ausência do branco.
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