O juiz federal argentino Sebastián Casanello ordenou nesta segunda-feira (27) que o governo de Javier Milei forneça detalhes sobre as toneladas de alimentos armazenadas em diferentes armazéns do país e apresente, em até 72 horas, um plano de distribuição dos insumos.
Na semana passada, a Casa Rosada reconheceu a existência de 5 mil toneladas de alimentos, com diferentes prazos de validade, armazenados, apesar da grave crise económica que o país atravessa.
Na altura, o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, disse que os alimentos foram adquiridos pelo governo anterior e justificou o atraso com a auditoria que a administração realiza nos refeitórios comunitários que receberam ajuda do Executivo.
Segundo ele, os alimentos seriam distribuídos. Nesta segunda-feira (27), porém, Adorni afirmou que o governo Milei recorreu da decisão.
A CNNo Ministério do Capital Humano, que realiza as auditorias, disse que já entrou com recurso na Justiça contra a determinação.
“Consideramos que não se trata de uma questão de natureza judicial, mas sim de uma definição de política pública e a justiça não pode interferir”, afirmou o porta-voz, afirmando que “os alimentos são reservados de forma preventiva para emergências e catástrofes”.
Ele garantiu que das 5 mil toneladas: 3,1 mil toneladas são de erva-mate, para fazer o chimarrão argentino, e defendeu a política de Milei de cortar o envio de alimentos para os refeitórios populares. Segundo ele, a maioria desses locais que receberam ajuda governamental não existia ou diziam que atendiam mais gente do que realmente atendiam.
“Não há um único alimento sob nossos cuidados em risco de expirar, porque estamos controlando”, atestou.
O armazenamento de milhares de toneladas de alimentos num contexto de inflação anual acumulada de quase 300% e 55% da população na pobreza, segundo os últimos dados do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica da Argentina, gerou críticas, incluindo da igreja.
«Não consigo perceber as razões pelas quais são armazenados, mas penso que em tempo de emergência alimentar, isso deve levar-nos a refletir. Têm que ser entregues rapidamente”, afirmou em vídeo o presidente da Conferência Episcopal Argentina, monsenhor Oscar Ojea.
Além das críticas do padre, também houve questionamentos sobre a resposta de Javier Milei a uma pergunta sobre os argentinos que não conseguem fazer com que seus salários durem até o final do mês.
“Se as pessoas não chegassem no final do mês estariam a morrer na rua e isso é falso”, afirmou, reiterando quando novamente questionado: “Se não chegassem no final do mês, iriam já morreram.”
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