Com os atuais cenários de degradação ambiental, pensar em estratégias sustentáveis nunca foi tão necessário – inclusive no planejamento e execução de reformas.
“A sustentabilidade não deve ser vista apenas como uma tendência, mas sim como uma necessidade urgente de preservar o meio ambiente e garantir um futuro melhor para as próximas gerações”, aponta o arquiteta Mariana Monerrat, do ateliê Monerrat.
Pensando nisso, diversas estratégias operacionais e materiais sustentáveis têm sido utilizados pelos escritórios de arquitetura para projetar e executar obras. Confira alguns deles:
Selo de Sustentabilidade Material
Na hora de escolher um material com proposta sustentável para a obra, é importante ficar atento aos selos e certificados.
A certificação ISO 14001, por exemplo, é utilizada para identificar materiais que garantem qualidade e cujo modelo de produção garante proteção e redução de impactos ao meio ambiente.
“O grau de sustentabilidade de cada material varia e pode ser medido acompanhando e medindo todo o seu processo, com a pegada de carbono”, explica a arquiteta Viviane Cunha.
Madeira certificada, vidro, gesso que não seja papelão e até pedra podem ser considerados sustentáveis, pois não se deterioram facilmente e podem ser reaproveitados se necessário.
Trabalho seco
A Construção Energética Sustentável (CES), ou construção a seco, consiste em uma metodologia que evita ao máximo o uso de água.
Isso significa que materiais como cimento e argamassa não são incluídos na reforma, sendo substituídos por técnicas de drywall e estruturas de aço leve ou galvanizado (steel frame) e madeira in place (wood frame), principalmente.
“A construção a seco utiliza menos água e eletricidade em comparação com a construção convencional. Em contraste com as técnicas de concreto moldado no localdifundida no século XX com a arquitetura moderna, hoje entendemos que, apesar da exuberante contribuição estética para a arquitetura brasileira, é uma solução pouco sustentável e de baixa eficiência energética”, explica o arquiteto Frederico Sabella, do escritório Sabella Arquitetura.
Madeira de demolição
Extraída de demolições de casas antigas e armazéns, esse tipo de madeira é muito versátil e pode ser utilizada como piso, estruturas, revestimentos, painéis decorativos e muito mais.
“A vida útil de uma construção convencional em alvenaria e concreto armado é, em média, de 50 a 100 anos. A madeira de demolição não só aumenta o ciclo de vida do edifício reformado, como também participa do ciclo de vários outros”, explica a paisagista Sonia Infante, que utiliza madeira de demolição há 15 anos.
Madeira projetada
Outra técnica amplamente utilizada na construção a seco envolve o uso da chamada madeira projetada, como a madeira laminada colada (MLC).
“São madeiras que podem ser utilizadas em pilares, vigas, telhados, forros, escadas, painéis, pérgolas e, com acabamento adequado, não necessitam de acréscimo de revestimento, refletindo positivamente no impacto ambiental da construção”, comenta. Sabela.
Madeira de reflorestamento
Quando falamos em sustentabilidade logo vem à mente o trabalho de recuperação e preservação de florestas nativas. Com essa proposta, a madeira de reflorestamento passa a ser uma boa opção. Esse tipo de material é extraído de florestas cultivadas para esse fim e sem agredir as matas nativas.
São inúmeros os arranjos estéticos e construtivos possíveis, dada a variedade de madeiras disponíveis.
“Eeucalipto, pinheiro, macaúba, peroba, ipê, teca, sucupira e muitos outros são alguns deles. A sua aplicação varia de acordo com a resistência de cada madeira, algumas mais indicadas para coberturas e elementos estruturais, outras para carpintarias, bancadas e móveis”, orienta o arquiteto.
Energia renovável
A eficiência energética pode ser integrada desde o planejamento de reformas até a instalação de sistemas de painéis solares e iluminação LED, entre outras práticas.
“[Fizemos a obra] de uma casa de 120 m², que utiliza energia solar fotovoltaico para todos os equipamentos e iluminação. E funciona muito bem. O aquecimento solar de água é muito utilizado, já que a casa fica em uma região muito fria”, afirma Viviane.
É também importante realizar um estudo de viabilidade económica para avaliar o retorno do investimento em eficiência energética.
Tijolos ecológicos e concreto reciclado
A dupla mais conhecida do mundo da construção civil, tijolo e concreto, ganha versões ecológicas e recicladas visando a sustentabilidade.
“Esses materiais podem impactar positivamente na durabilidade do projeto, mas o principal é pensar na forma como a obra está sendo executada para diminuir a quantidade de resíduos utilizados, ou mesmo utilizá-los na criação/execução de peças arquitetônicas ”, diz a arquiteta Mariana, do ateliê Monerrat.
Gestão de resíduos
Como mencionado, o gestão de resíduos É fundamental para um trabalho sustentável – ambiental e financeiramente.
“Resíduos e entulhos são um grande problema na construção civil, pois a maior parte deles é descartada de forma incorreta. [Pensar na gestão dos resíduos] É uma prática sustentável não só para o meio ambiente, mas também mais atrativa financeiramente”, afirma Sabella.
A arquiteta Viviane indica como descartar os materiais corretamente:
- Os resíduos de paredes e estruturas de concreto devem ser encaminhados para reaproveitamento, pois são materiais que duram centenas de anos se depositados;
- O vidro e o ferro também devem ser separados porque podem ser reciclados;
- Gesso cartonado e tintas devem ter destinações específicas, evitando mistura com outros resíduos.
- Móveis, tecidos e luminárias podem ser encaminhados para empresas e associações que os recolhem e os reservam para reaproveitamento.
Reutilização de água
O foco na economia e no uso sustentável da água deve existir desde a concepção de um projeto de reforma – seja em casas ou em edifícios inteiros.
Este projeto deve considerar canalizações, torneiras, chuveiros e vasos sanitários com certificações de eficiência hídrica (como o selo Procel ou WaterSense).
“Também é importante considerar o reaproveitamento da água da chuva. Vários sistemas hoje, com preços cada vez mais competitivos, permitem aos proprietários calcular o retorno deste investimento num espaço de tempo muito curto, considerando a poupança nas contas de água que estes sistemas ecoeficientes irão gerar”, conclui Viviane.
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