Acusado de falta de transparência sobre os seus projetos e a situação das suas finanças, a ponto de irritar os dirigentes dos clubes onde investiu, o fundo de investimento americano 777 Partners está a gerar polémica e especial vigilância por parte das autoridades do futebol.
Na quarta-feira (15), a 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro retirou o grupo americano do controle da SAF do Vasco, que voltou ao clube associativo.
A equipa carioca manifestou “preocupações com a capacidade financeira” do acionista maioritário e pediu a recuperação do controlo para evitar que o fundo transfira as suas ações para outras “entidades externas”.
O grupo comprou do Vasco o controle de 70% da SAF em setembro de 2022 por cerca de R$ 700 milhões, com a promessa de acabar com as dívidas do clube e investir no futebol. Mas as relações entre os dois têm sido problemáticas há meses.
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—Vasco da Gama (@VascodaGama) 15 de maio de 2024
No campo esportivo, os maus resultados do time, que se salvou do rebaixamento para a Série B na última rodada do Campeonato Brasileiro do ano passado, e o início de temporada abaixo do esperado provocaram protestos dos torcedores vascaínos.
777 Sócios assumiram clubes de vários países: na Alemanha, com o Hertha Berlin, na Itália, com o Genoa, na Bélgica, através do Liège, e na França, com o Red Star.
Houve também um caso de resistência no clube belga. No dia 10 de maio, torcedores impediram a entrada de jogadores no estádio para a partida em casa do Campeonato Belga. O jogo não aconteceu.
Dois dias antes, o Liège anunciou que estava temporariamente proibido de assinar pela federação do seu país “por não ter conseguido fornecer todos os comprovativos de pagamentos solicitados nos prazos devidos”.
O dirigente do Liège, Pierre Locht, tentou tranquilizar a situação, afirmando que o clube “não está à beira da falência”. No entanto, o diretor e outro administrador renunciaram aos seus cargos “para não serem cúmplices do 777”, revelou quinta-feira o jornal Le Soir.
O fundo 777 também possui participações minoritárias no Sevilla e no Melbourne Victory.
“Esquema Ponzi”
As dívidas crescentes sobre a solvência da empresa dispararam com a recente revelação na imprensa internacional sobre processos judiciais contra ela nos Estados Unidos.
Uma delas datava do início de maio, para um empréstimo de US$ 350 milhões (quase R$ 1,6 bilhão no câmbio atual) amparado por garantias financeiras “inexistentes”, segundo a gestora de recursos britânica Leadenhall Capital Partners.
O denunciante acusa o fundo de comportamento fraudulento comparável a um “Esquema Ponzi”, ou seja, fazer compras de ativos enquanto se endivida antes de usá-los como garantia para comprar outros.
Segundo a empresa britânica, era assim que o fundo americano pretendia comprar o Everton. O projeto de aquisição havia sido anunciado em setembro de 2023, mas estava bloqueado no sistema de supervisão das autoridades britânicas sobre a solvência do comprador.
“É curioso que um fundo como este, que investe em absolutamente tudo, desde companhias aéreas a seguradoras, queira estar presente no futebol sem qualquer competição”, afirma o cientista político belga Jean-Michel De Waele, que também é sociólogo do desporto na Universidade Livre de Bruxelas.