Imagens de estádios cobertos de água e lama se espalharam pelo mundo. Sem locais para treinar ou jogar, após as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, Grêmio e Internacional só tiveram uma opção: se tornarem times itinerantes.
Carregando a dor de abandonar familiares e amigos em tempos difíceis, os gigantes e rivais ferozes de Porto Alegre deixaram suas casas para cumprir compromissos nacionais e internacionais.
Eles fizeram isso depois que vários de seus jogadores, como o atacante hispano-brasileiro Diego Costa, do Tricolor Rio Grande do Sul, ajudaram diretamente no resgate e atendimento às vítimas das enchentes, que tiraram mais de meio milhão de pessoas de suas casas.
“É muito tempo sem jogar, muito tempo de incertezas e sofrimento junto com o nosso povo gaúcho”, disse o capitão colorado, meio-campista Alan Patrick.
Após um mês de interrupção, em que se prepararam em São Paulo e Itu, a mais de 1.100 km de Porto Alegre, as equipes voltaram esta semana aos campos, onde fizeram diversas homenagens às vítimas da pior tragédia da história do Rio Grande do Sul.
O Inter perdeu nesta terça-feira por 2 a 1 para o argentino Belgrano, em Barueri, próximo à capital paulista, pela Copa Sul-Americana, enquanto o Grêmio venceu o The Strongest da Bolívia por 4 a 0 na quarta-feira, em Curitiba, a 740 km de Porto Alegre, pela Libertadores.
“Não é muito (podemos contribuir), mas vamos tentar minimizar um pouco o sofrimento do nosso povo”, disse Renato Portaluppi, técnico do Grêmio, após a vitória.
O certo é que estaremos com o Grêmio onde quer que o Grêmio esteja! Hoje é no Couto Pereira, pela retomada do #Brasileiro2024! Nessa energia, do campo às arquibancadas.
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— Grêmio FBPA (@Gremio) 1º de junho de 2024
Maratona de Viagens
Protagonistas daquela que é considerada a maior rivalidade futebolística do Brasil, os dois clubes estão tendo que improvisar para organizar sua logística fazendo longas viagens, até poderem retornar à sua cidade em data ainda a ser definida.
O Inter calcula que percorrerá mais de 15 mil quilômetros em 20 dias para disputar seis partidas, sendo duas essenciais para definir seu grupo no Sul-Americano. Nesse período, atuou como ‘local’ em Barueri, Caxias do Sul e Criciúma.
O Grêmio fará seis partidas em 19 dias. Ele será ‘dono da casa’ em Curitiba e Caxias, e viajará ao Chile para colocar a agenda da Libertadores em dia.
“O mais difícil é a situação das pessoas que perderam tudo. Falamos de futebol, do que temos que fazer, mas não ficamos alheios às dificuldades das pessoas”, disse o argentino Eduardo Coudet, técnico do ‘Colorado’, após o derrota para o Belgrano.
De dentro dos times, que apesar do antagonismo lançaram uma campanha conjunta para reconstruir o estado, são notadas dificuldades psicológicas dos jogadores, além do impacto físico, econômico e esportivo causado pela interrupção e por terem que jogar fora de Porto Alegre.
A catástrofe ambiental obrigou a suspensão do Campeonato Brasileiro por dois finais de semana. A retomada será neste sábado, mas a magnitude dos danos não deu tempo para que as instalações do Grêmio e do Inter ficassem utilizáveis.
“Unindo forças”
O gramado e parte das arquibancadas de seus estádios, Arena do Grêmio e Beira-Rio, ficaram cobertos de água marrom.
A avaliação é que as instalações esportivas só poderão receber jogos a partir de agosto, na melhor das hipóteses.
No momento mais crítico das enchentes, a única forma de entrar no centro de treinamento do Grêmio, a 20 km do estádio, era de barco.
Apesar de amarelados e danificados, agora é possível caminhar nos gramados. A sede foi menos danificada que a de seus arquirrivais, mas não está claro quando a equipe poderá retornar.
No centro de treinamento do Colorado, às margens do rio Guaíba, cujo transbordamento causou os estragos, tocar o solo foi quase impossível nesta quarta: apenas as traves não ficaram totalmente cobertas pela água.
As obras de limpeza do local, adjacente ao Beira-Rio, começaram na quinta-feira e devem ser concluídas em 120 dias.
“É muito difícil não nos emocionarmos e não imaginarmos o que precisamos. Temos que unir forças”, disse emocionado o presidente do Inter, Alessandro Barcellos, ao canal RBS.
Neste momento, os clubes desconhecem o impacto económico.
Os colorados estimam que precisarão de cerca de R$ 37 milhões para recuperar sua arena e centro de treinamento, valor semelhante ao que pagaram pela grande contratação de 2024, a do atacante colombiano Rafael Borré.
Os efeitos vão além do futebol.
Nos dias de jogos, há intensa atividade comercial fora dos estádios. Sem saídas e até alagamentos, o comércio fica reduzido ao mínimo.
“Dependemos do futebol (…) depois da enchente fomos esquecidos”, disse Orioplina Bechiln, 46 anos, vendedora ambulante que vende churrascos durante os jogos do Grêmio.
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