O porta-voz do Comitê Olímpico Internacional (COI), Mark Adams, afirmou nesta sexta-feira (2) em entrevista coletiva que a boxeadora argelina Imane Khelif, participante das Olimpíadas de Paris 2024, “nasceu mulher, foi registrada como mulher, vive sua vida como mulher, ela luta boxe como mulher, ela tem passaporte de mulher.”
“Esta não é uma questão transgênero”, acrescentou Adams.
Khelif é uma mulher cisgênero, o que significa que ela não é uma mulher trans, então sua identidade de gênero está alinhada com o sexo que lhe foi atribuído no nascimento. Apesar disso, ela tem sido alvo de múltiplas especulações sobre sua identidade de gênero.
“Não é uma questão transgênero”, explica o COI sobre a polêmica do boxeador.
Khelif venceu sua primeira luta olímpica nesta quinta-feira (1º), depois que sua rival, a italiana Angela Carini, deixou o ringue com apenas 46 segundos.
Carini declarou que desistiu devido a fortes dores no nariz após os primeiros socos, e a briga desencadeou uma avalanche de insultos na internet, com comentários transfóbicos chamando Khelif de “homem” por uma suposta vantagem física.
O COI esclareceu que “não foi um homem lutando contra uma mulher” e que “cientificamente há consenso sobre o assunto”.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que visitou atletas italianos na Vila Olímpica na quinta-feira, afirmou que “não foi uma luta igualitária”, acrescentando que desde 2021 se opõe a permitir que atletas com características “geneticamente masculinas” competam contra mulheres.
O COI afirma estar “em contato próximo com os atletas e sua comitiva” dada a quantidade de insultos que circulam na internet. Khelif não é a única sob escrutínio massivo por sua presença em Paris.
O boxeador taiwanês Lin Yu-ting também está em destaque após anos de competição amadora. Sua presença reacendeu o debate sobre a participação de mulheres com diferenças no desenvolvimento sexual ou DDS (Distúrbios de Diferenciação Sexual) nas competições femininas.
Existem muitos tipos de DDS, um grupo de condições raras que envolvem genes, hormônios e órgãos reprodutivos. Algumas pessoas com DDS são criadas como mulheres, mas têm cromossomos sexuais XY.
Em março de 2023, a Associação Internacional de Boxe (IBA), que teve o reconhecimento do COI retirado, desclassificou as atletas Lin Yu-ting e Imane Khelif do Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA, realizado em Nova Delhi.
A IBA divulgou comunicado nesta quarta-feira (31) afirmando que ambos os boxeadores “não passaram por teste de testosterona” no ano passado, mas foram “submetidos a um teste separado e reconhecido, cujos detalhes são confidenciais”. .
O porta-voz do COI, Mark Adams, rejeitou esta evidência, dizendo que “foi uma decisão arbitrária tomada durante a noite pelo diretor executivo”.
“Se começarmos a agir em cada questão, em cada alegação que surgir, então começaremos a ter o tipo de caça às bruxas que estamos a ter agora”, acrescentou.
O COI é responsável pelo boxe em Paris porque a IBA foi expulsa das duas últimas Olimpíadas devido a anos de problemas de governança, falta de transparência financeira e muitos casos de corrupção na arbitragem.
Sobre a questão mais ampla da participação de mulheres com DDS em competições, Mark Adams afirmou que “não há consenso científico ou político sobre a questão”, descrevendo-a como um “campo minado”, mas que o COI “estaria interessado em ouvir sobre tal uma solução ou tal consenso”.
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