Será possível nadar no rio Sena? A incerteza quanto ao local de algumas provas de natação no Jogos de Paris preocupa a atual campeã olímpica em águas abertas, a brasileira Ana Marcela Cunha, que defende um “plano B” que priorize a saúde dos atletas.
A cinco meses das provas de natação de longa distância, que se realizarão nos dias 8 e 9 de agosto, os organizadores continuam a lutar para melhorar a qualidade do emblemático rio francês, que também será palco das provas de triatlo.
Amostras de água coletadas entre junho e setembro do ano passado mostraram concentrações das duas bactérias que indicam contaminação fecal acima (em vários casos) dos níveis permitidos, segundo análises da Prefeitura de Paris enviadas à AFP.
“Não tivemos o evento-teste ano passado por causa disso, o que mais nos preocupa, porque eles insistem em querer fazer lá”, disse Ana Marcela, considerada uma das melhores atletas da história na modalidade, em entrevista com a AFP no final do concurso Rainha do Mar 2024, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Mudar o local das provas “não vai tirar a história que Paris tem, não vai tirar a história que o Sena tem. Entendemos a ponte Alexandre III, parte da Torre Eiffel. Acho que há vários pontos importantes para eles, mas acho que o atleta e a saúde vêm em primeiro lugar”, acrescenta o nadador.
Mais um dia de @anamarcela92 sendo incrível! Ela alcançou 17 medalhas no Campeonato Mundial com bronze em Doha nos 5km!
— Jogos Olímpicos (@JogosOlimpicos) 7 de fevereiro de 2024
“Nunca desista”
O trabalho de descontaminação poderá ser em vão em caso de chuva, pois o escoamento das ruas poderá poluir novamente o rio.
Apesar das dúvidas em torno do Sena, Ana Marcela segue focada no objetivo de repetir a medalha de ouro conquistada nos Jogos de Tóquio, em 2021.
A tarefa não parece simples. Nascida em Salvador e dona de sete medalhas de ouro em Esportes Aquáticos Mundiais (cinco nas provas de 25 km e duas nas de 5 km), a nadadora, que completará 32 anos no dia 23 de março, vai para sua quarta participação olímpica.
Em Paris, ela enfrentará campeãs mundiais e olímpicas, como a alemã Leonie Beck e a holandesa Sharon van Rouwendaal (ouro nos Jogos Rio 2016).
Inspirada em uma de suas músicas favoritas (‘Dias de luta, dias de glória’, da banda Charlie Brown Jr.), cujo título tatuou no braço esquerdo, ela diz que vai lutar.
“Vamos perder, vamos vencer, vamos lutar, mas nunca desistir. Acredito muito nisso e vivo essa música todos os dias”.
“O Sena não foi feito para nadar”
Pergunta: A situação no rio Sena preocupa você?
Resposta: “Tem que haver um plano B caso não seja possível, há outro local que sabemos onde pode ser feito. Cabe à organização aceitar que talvez, infelizmente, não consiga fazer o teste onde querem e se preocupam com a saúde do atleta, que vem primeiro para lutar”.
P: O que você pensa antes de competir em águas potencialmente sujas?
R: “Acho que é um antes e um depois. No dia da prova a gente não tem mais o que fazer, já está aí e é isso que a gente tem. E o depois, porque a gente sai e daqui a 15 dias o Podemos ficar doentes ou não, pode haver alguma coisa… Na hora de competir não nos importamos com isso, nos preocupamos depois”.
P: Você precisa tomar cuidados especiais para que seu esporte não seja afetado pela contaminação da água, em meio à crise climática?
R: “Nós precisamos e é um cuidado de todos, porque é assim que as coisas são, do jeito que são, talvez por causa das pessoas, pela forma como as pessoas há 50 anos têm piorado a situação, jogando plástico no mar, jogar plástico na rua. Tudo tem a ver com o que fizemos com a natureza, mas acredito também que tem a ver com a estrutura de Paris: o rio Sena não foi feito para nadar.”
P: Você se sente favorito pelo ouro?
R: “Sei que todo mundo espera isso, é algo que aguento sob pressão e expectativa. Mas tudo que passei, as mudanças, a cirurgia no ombro [realizada em novembro de 2022]. Eu acho que as meninas [adversárias] Eles me respeitam e eu chegarei sim, sendo bem cuidado, mas acredito que estou muito tranquilo”.
P: Esta será sua última participação nos Jogos Olímpicos?
R: “Eu falo que enquanto eu estiver feliz, evoluindo, não quero colocar data, porque parece que você está em contagem regressiva. Não quero ter data para parar. “