“É uma mistura de pornochanchada e filme policial” – é assim que o diretor Karim Aïnouz descreve seu novo filme “Motel Destino“. O longa-metragem brasileiro é um dos filmes que concorrem ao prestigiado Palma de Ouroo prêmio mais importante do Festival de Cannes.
O evento do cinema francês é considerado um dos mais importantes do setor no mundo, recebendo tanta atenção quanto o Óscar.A Palma de Ouro é o prêmio mais cobiçado entre os concorrentes; em 2023, “Anatomia de uma Queda” foi eleito o melhor filme do festival.
“Motel Destino” é um dos filmes brasileiros selecionados na competição. A CNNKarim Aïnouz falou sobre o processo e os temas do filme que estreou esta semana no festival e foi descrito como o “filme mais sexy de Cannes” pela imprensa internacional.
O thriller erótico é um filme policial que apresenta o gênero criado no Brasil na década de 1970: a pornochanchada, que mistura erotismo com comédia. Durante a repressão da Ditadura Militar, o gênero cinematográfico em alta no Brasil eram exatamente os filmes que pregavam a liberdade – neste caso, a liberdade sexual, ao refletir abertamente o erotismo na tela grande.
“Tem vários elementos, tem o senso de humor, a reverência e a ousadia da pornochanchada”, explicou Aïnouz. “Tem essa celebração do sexo pornochanchada, então a pornochanchada é uma grande fonte de inspiração para este filme e também para o cinema policial.”
“Achei uma mistura muito interessante porque a pornochanchada é um gênero tão nosso, que não existe em nenhum outro lugar do mundo – da mesma forma que o motel, a forma como a gente usa o motel aqui, não existe em qualquer outro lugar do mundo. mundo.”
Além da importância da pornochanchada, um dos fatores criativos de “Motel Destino” é o cinema policial: “É um lugar que é o lugar do desejo… então a diferença é que também tem elementos muito fortes de cinema policial, de cinema noir feito nas décadas de 40 e 50, um cinema que falava muito de personagens em situação de desamparo e de pós-guerra, que é como sinto que se faz aqui”.
“Sempre fiquei muito impressionado com esse cinema que falava de questões sociais muito relevantes naquele momento histórico, com personagens que traziam uma complexidade de moral duvidosa, então acho que essa tradição que inspirou o cinema francês e o cinema noir nórdico hoje, então o como é que se pode falar do estado de coisas que estamos vivendo”, disse, ao abordar como o cinema policial aparece no gênero “Motel Destino”.
Se a pornochanchada e o cinema policial predominam na estética do filme, outro tema ainda não explorado pelo diretor foi o realismo fantástico. “Acho que há uma coisa neste filme que sempre quis fazer e é o fantástico. Há muitas coisas fantásticas, elementos sobrenaturais que nunca usei antes e acho que é uma maneira incrível de mergulharmos na consciência de um personagem, que é um elemento que nunca usei antes.”
“Quando fazemos cinema no sul do Equador, parece que estamos condenados ao cinema sobre a realidade, por isso este filme, pela primeira vez, não está apenas no plano da realidade”, explicou.
Outro ponto é que o filme é um longa brasileiro, mas, acima de tudo, é um filme cearense. “É um filme cearense”, disse o diretor. “Tenho orgulho de dizer isso porque não é só feito no Ceará: sua paisagem humana Ceará. (…) É um filme desequilibrado – o que é uma forma mais sexy de dizer regionalismo.”