Em meados de maio, o Nubank anunciou o lançamento de uma operadora própria de telefonia celular — ainda sem nome —, com previsão de entrada em operação no terceiro trimestre deste ano, utilizando a infraestrutura da Claro.
Fintech é a terceira do seu segmento entrar no mercado de telecomunicações utilizando a infraestrutura de uma grande empresa do setor, em um modelo denominado operadora móvel virtual (MVNO).
Neste formato, o O Inter foi pioneiro com o Inter Cel, lançado em outubro de 2021, que utiliza a rede Vivo e oferece planos que variam de R$ 15 a R$ 70. Com 80 mil clientes ativos na base da operadora, para ser cliente o usuário precisa ser correntista da instituição.
O C6 Bank tem parceria com a TIM em um modelo que ajudou a levar os clientes de telefonia para o banco digital e, em troca, a operadora recebe a opção de subscrever ações do banco.
Serviços complementares
Nos MVNO, empresas que não são nativas do segmento de telecomunicações conseguem operar sem a necessidade de pagar pela infraestrutura padrão do segmento, como custo de torres e antenas.
Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), até fevereiro deste ano, o Brasil contava com 145 MVNOs.
“Um MVNO visa combinar ou complementar a oferta do seu serviço tradicional com conectividade móvel, e não cobrir uma lacuna [espaço] a prestação de serviços de telecomunicações”, diz Luciano Saboia, diretor de Telecomunicações da IDC Brazil, consultoria de inteligência de mercado.
Segundo o especialista, o modelo oferece vantagens ao consumidor, com melhor atendimento e contratação de serviços.
Além disso, ele destaca a expertise das fintechs na área de segurança digital, um dos grandes pontos de preocupação do setor de tecnologia atualmente.
“As vantagens destes novos MVNOs acabam sendo maiores para os bancos do que para as telecomunicações. É improvável que um MVNO bancário torne o serviço mais barato ou mais acessível. A comodidade e a combinação de produtos são os principais aspectos”, aponta Saboia.
Mesmo com a entrada de novas empresas no segmento, analistas ouvidos pelo CNN afirmam que as empresas nativas não devem se sentir intimidadas.
Pelo contrário, Moisés Moreira, ex-assessor e vice-presidente da Anatel, acredita que a criação de novas operadoras MVNO deverá impactar positivamente os consumidores, embora o efeito seja limitado.
“Acho que a tarifa pode ser reduzida pela concorrência de mercado, mas não muito, porque a telefonia móvel é um serviço caro e o Nubank vai precisar pagar pelo espectro [infraestrutura] que você está usando da Claro”, diz Moreira.
Na mesma linha, Saboia aponta o grau de eficiência que o próprio mercado exige dos participantes.
“Para ter sucesso, o operador virtual terá de implementar a máxima eficiência de serviço e uma elevada governação, caso contrário sucumbirá”, acrescenta.
Apesar das vantagens apresentadas pelos especialistas, Saboia destaca que a manutenção de um MVNO tem um custo elevado, incluindo aquisição por usuário, gestão, atendimento, entre outras despesas inerentes a uma telecom.
Para ele, no momento em que uma operadora móvel assume a prestação de serviços ao usuário final, é ela quem passa a arcar com todos esses custos, fazendo do cliente o ponto de contato.
Mercado de telecomunicações no Brasil
A receita líquida combinada das principais operadoras do Brasil — Vivo, Claro e TIM — atingiu R$ 121,5 bilhões em 2023, um aumento de 8,5% em relação ao ano anterior (R$ 112 bilhões), segundo o balanço das empresas.
Por outro lado, a Anatel recebeu 1,32 milhão de reclamações sobre serviços de internet em 2023, segundo dados da Superintendência de Relações de Consumidor (SRC) da Anatel, divulgados em abril deste ano.
De acordo com a última Pesquisa de Satisfação e Qualidade Percebida 2023 da agência, entre os Índices Gerais de Satisfação (ISG) dos consumidores, os celulares pós-pagos são os mais mal avaliados.
“Os serviços de telecomunicações terão um crescimento discreto de receita de quase 2% em 2023 em relação a 2022, impulsionado pelos serviços de banda larga e pelo uso de dados nas redes celulares”, afirma Saboia.
“A expectativa para 2024 é de crescimento próximo de 3%, o que evidencia o cenário de um mercado onde a consolidação de players, redução de custos e aumento de eficiência são as características mais evidentes”.
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