As vendas de máquinas agrícolas no Rio Grande do Sul pararam em meio ao desastre ambiental vivido pelo estado neste mês, quando cidades foram devastadas por enchentes históricas, disseram representantes do setor nesta terça-feira.
O Estado representa cerca de 7,5% das vendas e da produção de máquinas agrícolas no Brasil, disse o presidente da associação das montadoras, Anfavea, Marcio de Lima Leite, em entrevista a jornalistas.
“Esse mercado está praticamente parado”, disse o executivo. “As empresas estão gerenciando com o estoque que têm. Até agora não tem sido um problema tão dramático, pois as empresas (fabricantes de máquinas) estão conseguindo se organizar com alguns itens de estoque”, acrescentou.
Mas a situação ainda não está clara, disse a vice-presidente de máquinas agrícolas da Anfavea, Ana Helena de Andrade. “Até sexta-feira passada ainda chovia. Houve muitos ventos impedindo o escoamento da água e o escoamento maior só começou a ocorrer a partir desta segunda-feira.”
Segundo Leite, é até difícil ter acesso a essas empresas. “Alguns deles, alguns traficantes, nem sabemos a profundidade do que aconteceu e muitas vezes eles nem sabem.”
A situação varia desde fabricantes de máquinas parados devido a problemas diretos com a chuva, até aqueles que têm dificuldade de acesso a fornecedores que foram impactados pela água ou destruição de vias de transporte.
“Há quatro fornecedores que temos acompanhado mais de perto e que estão com dificuldades de produção. Porque houve alagamento na fábrica, outros estão com problemas logísticos”, disse o presidente da Anfavea.
O Rio Grande do Sul tem forte presença da agricultura familiar, segmento que tem menos força para adquirir máquinas e equipamentos em comparação a estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde predomina o agronegócio com mais capital para investimento.
Questionado se os produtores rurais do Rio Grande do Sul precisarão de incentivos adicionais para substituir seus equipamentos, Leite afirmou que “sem dúvida será necessário um plano de financiamento para os produtores de lá… estamos trabalhando diretamente para ajudar esse plano junto ao governo”, acrescentou.
Segundo a Anfavea, 4% a 11% dos fornecedores da indústria de máquinas agrícolas no Brasil estão localizados no Rio Grande do Sul.
Por sua vez, o presidente da fabricante de máquinas de terraplenagem Caterpillar no Brasil, Carlos Alexandre de Oliveira, afirmou que ainda é difícil mensurar as consequências da tragédia gaúcha para o setor, mas que a indústria nacional tem capacidade ociosa para atender a um possível aumento de demanda a ser gerado por obras no Estado.
“Lá haverá demanda adicional, as cidades terão que ser reconstruídas”, afirmou Oliveira. A Caterpillar possui fábricas em Piracicaba (SP) e Campo Largo (PR).
Mercado nacional
As vendas de máquinas agrícolas em abril caíram 1,7% em relação ao ano anterior, para 4.210 unidades, acumulando nos primeiros quatro meses uma queda de 11,6% em relação ao mesmo período de 2023, para 14.615 equipamentos.
Segundo a Anfavea, as máquinas rodoviárias, por sua vez, apresentaram salto de 30,8% no período, para 2.995 unidades, crescendo 12,8% de janeiro até o final de abril (10.834 equipamentos).
O destaque negativo no segmento de máquinas agrícolas foram as colhedoras, que tiveram queda de 37,7% nas vendas em relação a abril de 2023, caindo 41,2% no quadrimestre.
“É uma queda significativa (41%) nesse mercado porque tem um ticket (preço de venda) super alto”, disse Andrade. O executivo citou questões que incluem financiamento do Plano Safra, para o qual a Anfavea espera que uma nova edição seja anunciada a partir de meados de junho.
“Passamos um longo período do ano-safra, que vai de julho a junho, com o financiamento do Plano Safra fechado. Os recursos se esgotaram rapidamente”, disse Andrade.
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