Silvio Santos disse que tentava separar o empresário do artista. O homem que dirigia as empresas tinha a mesma perspicácia vista na televisão e era admirado pelo seu poder de negociação. Ele controlava um grupo que tinha quatro dúzias de empresas. Alguns funcionaram muito bem, outros não.
O empresário veio antes do artista. O senhor Abravanel começou sua carreira como vendedor ambulante, oferecendo canetas e capas para títulos de eleitor. Na tentativa de tentar vender mais, o artista ganhou destaque. O carisma que atraiu o público às barracas nas ruas do Rio de Janeiro foi o mesmo que, anos depois, manteve milhões em frente à TV.
O primeiro grande negócio de Silvio Santos veio anos depois: o Baú da Felicidade. Um projeto que, avaliado aos olhos de hoje, faz pouco sentido para o cliente porque se trata de uma linha de crédito ao contrário. O consumidor parcela hoje para receber um produto amanhã. No mundo real é exatamente o contrário: você pega o bem no presente e paga as parcelas no futuro. É verdade que o crédito ao consumo não era fácil naquela altura.
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Com mais de 60 anos de carreira, Silvio Santo ficou conhecido por diversas gerações de brasileiros Crédito: Divulgação/SBT
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Em 1961, Silvio Santos iniciou sua carreira na televisão; O primeiro programa que apresentou foi na TV Paulista e se chamava “Vamos Brincar de Força” Crédito: Divulgação/SBT
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De vendedor ambulante a bilionário, sua carreira é repleta de momentos memoráveis e programas que se tornaram clássicos na história da mídia nacional. Crédito: Divulgação/SBT
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Um de seus grandes sucessos, por exemplo, foi o programa “Tentação”, produzido pelo SBT em conjunto com o Baú da Felicidade Crédito: Divulgação/SBT
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Em 1964, Silvio Santos conquistou o primeiro Troféu Imprensa da carreira; Naquela época, o prêmio, que foi criado por Plácido Manaia Nunes, ainda não foi entregue por ele, tendo-o como mestre de cerimônias apenas a partir de 1971, dentro do Programa Silvio Santos Crédito: Divulgação/SBT
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O comunicador realizou o sonho de ter sua própria emissora em 14 de maio de 1976, com o lançamento do canal Studio Silvio Santos Cinema e Televisão Ltda., ou simplesmente TVS Crédito: Divulgação/SBT
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Silvio logo ficou conhecido por seus bordões, como “quem quer dinheiro?!” Crédito: Divulgação/SBT
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O apresentador esteve à frente do Programa Silvio Santos até 2022, quando foi substituído por uma de suas filhas Crédito: Divulgação/SBT
Mas o Baú da Felicidade do empresário Silvio Santos fez sucesso porque o artista vendeu algo mais: magia. A ideia de ter um baú cheio de presentes depois de pagar a última parcela emocionou os clientes. A fantasia cresceu ainda mais com a chance de estar com o ídolo no palco, diante das câmeras, para disputar um carro ou a tão esperada casa.
Silvio Santos sempre entendeu o que os brasileiros queriam. Ele também sempre teve muita certeza de qual era o seu sonho: uma rede de televisão.
Para atingir esse objetivo, o empresário percorreu um caminho sinuoso em um período turbulento. O Brasil vivia uma ditadura militar e o setor de comunicações sentiu o trauma da crise e da falência da TV Tupi.
A primeira emissora
Neste palco mal iluminado, conseguiu convencer os militares de que estava pronto a aceitar a concessão de uma televisão. Primeiro, com o canal 11 do Rio de Janeiro, onde surgiram os Estúdios de TV, TVS. Nasceu então, com parte do espólio Tupi, o principal negócio de Silvio Santos: o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT.
A conquista foi gigantesca e ele nunca escondeu sua gratidão a quem permitiu que o plano avançasse. E, para agradecer, o empresário nunca fez cerimônia para interromper o artista aos domingos.
O programa “Semana do Presidente” ficou famoso por mostrar as atividades – nem sempre importantes, nem sempre emocionantes – dos ocupantes do Palácio do Planalto. Foi a forma que Silvio Santos encontrou para bajular presidentes da República – do general ao intelectual – todos os domingos durante duas décadas.
Carros e móveis
O mascate, porém, nunca abandonou o artista que usou a mesma TV como trampolim para outras empresas. Foi a grande vitrine de todos os empreendimentos do grupo. E assim, carros da concessionária Vimave ou móveis da Tamakavy apareceram na tela do espectador durante a década de 1980.
Na década seguinte, no início da década de 1990, o SBT não viveu anos felizes. Atingido por repetidos planos econômicos, o grupo passou por anos difíceis e o empresário reconheceu que havia até risco de falência da emissora após o Plano Collor.
Para salvar o artista, o empresário usou a criatividade. Lançou um curioso plano de saúde com título de capitalização. O cliente pagava as parcelas, recebia atendimento médico e, muitos anos depois, receberia o dinheiro de volta. O encontro com um casal que perdeu o filho em um hospital conveniado, porém, cobrou seu preço e o empresário desistiu do negócio.
Desistiu do setor saúde, mas não da capitalização. E assim nasceu a Tele Sena.
A salvação da capitalização
O mais famoso título de capitalização brasileiro surgiu com a promessa de realizar o sonho de ficar milionário ou de ter casa própria. O cliente tenta a sorte e ainda tem a garantia do artista de que receberá metade do dinheiro de volta um ano depois.
As autoridades, no entanto, estavam desconfiadas. Na década de 1990, investigaram o produto com a suspeita de que se tratasse de uma loteria disfarçada. Numa mistura de empresário e artista, Silvio Santos escreveu uma carta anexa ao processo pedindo o fim da Tele Sena. Em 23 páginas escritas de próprio punho, ele disse que o título de capitalização salvou o SBT da falência – e saiu vitorioso na Justiça.
Mas nem sempre tudo deu certo. Ele tentou, sem sucesso, importar para o Brasil o sistema de vendas por telefone – que só se popularizou anos depois. A Tele Sisan (abreviação do nome do proprietário) existiu na década de 1990, oferecendo produtos que nem sempre agradavam ao gosto brasileiro.
Recentemente, a internet reacendeu uma tentativa de vender um estranho porta papel higiênico com rádio AM e FM. É a prova de que os gênios nem sempre acertam.
O fracasso pan-americano
Na década de 2000, o Brasil viveu anos de ascensão social e aumento do acesso aos serviços bancários. O empresário Silvio Santos surfou essa onda como poucos. Transformou uma pequena instituição financeira em uma grande instituição financeira nacional: o Banco Panamericano.
Conseguiu até atrair a gigante estatal Caixa Econômica Federal, que se tornou sócia do braço financeiro de Silvio Santos. Parecia que o SBT perderia a posição de principal gerador de receita do grupo.
O negócio, porém, sofreu um duro golpe meses após a chegada da Caixa. O Banco Central percebeu que o Panamericano registrou diversas vezes uma mesma transação. Assim, os números anunciados pelo banco foram muito superiores à realidade. O rombo foi de pelo menos R$ 2,5 bilhões. Até hoje há dúvidas sobre quem foi o responsável pela violação e se o empresário sabia de alguma coisa.
Hotelaria e perfumes
Silvio Santos livrou-se do banco cheio de problemas e a vida continua. Abriu um hotel de luxo no Guarujá e investiu em um novo negócio: cosméticos.
Na última década, o negócio que mais cresceu no grupo foi a Jequiti Cosméticos. O produto mudou, mas a receita continua rigorosamente a mesma para o empresário: usar a emissora para divulgar o negócio, atrair clientes com a promessa de prêmios milionários e ainda oferecer 15 segundos de fama na televisão.
Tem dado certo e, assim, Silvio Santos continuará na casa de milhões de brasileiros, seja como título de capitalização, sabonete ou perfume. Que esta essência dure muito tempo.
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