Com dados preliminares de produção já divulgados na semana passada, a Vale (VALE3) revelou na última quinta-feira (25) números do segundo trimestre de 2024 (2T24) considerados sólidos, mas que não surpreenderam tanto o mercado, embora haja opiniões divergentes sobre o pressão de custos sobre a empresa. Ainda assim, a alta do minério na sessão, o anúncio de lucros e o lucro acima do esperado (ainda que por fatores não recorrentes) são fatores que animam as ações. Às 10h48 (horário de Brasília) desta sexta-feira (26), as ações da empresa subiam 1,58%, cotadas a R$ 61,58 na B3.
Para a XP, a mineradora reportou resultados um pouco mais fracos do que o esperado no 2T24, com lucro ajustado pro forma antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) de US$ 4,0 bilhões, 6% abaixo da projeção da casa, mas praticamente em linha com o consenso.
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Lucas Laghi, Guilherme Nipes e Fernanda Urbano, analistas que assinaram o relatório, destacaram que veem os resultados fracos refletindo um desempenho de custos pressionado, com o custo caixa C1 da Vale (custo de produção da mina ao porto) por tonelada
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Isso se deveu em parte ao pior mix de volumes, às atividades de manutenção e ao maior custo de consumo de estoque durante este trimestre, que a Vale espera recuperar após o aumento dos níveis de produção no Sistema Norte no segundo semestre do ano (reafirmando sua orientação C1/t de US$ 21,50-23/t para o ano de 2024).
O Bradesco BBI, por sua vez, esperava custos mais elevados, avaliando que o EBITDA ajustado estava em linha com o consenso e sua estimativa – o banco observa que o desempenho de custos melhor que o esperado da casa compensou parcialmente os preços realizados mais fracos que o esperado.
“A melhoria sequencial do EBITDA pode ser explicada principalmente pelos volumes mais fortes de minério de ferro em uma base trimestral (+25%), parcialmente compensados por preços realizados mais baixos (-3%). Destacamos que a empresa apresentou um desempenho sólido, com os volumes de produção de minério de ferro no S11D atingindo nível recorde pelo segundo trimestre consecutivo”, aponta a equipe de análise.
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O BBI destaca que o custo caixa C1 (ex-compras de terceiros) aumentou de US$ 23,50 por tonelada no 1T24 para US$ 24,9/t no 2T24, mas ficou abaixo de sua expectativa de US$ 25,6/t. A Genial Investimentos também esperava custos mais elevados, com resultado ficando 1,6% abaixo do projetado; Além disso, o frete foi cotado a US$ 19/t, 5% abaixo da projeção. Os analistas da casa apontam que a receita líquida consolidada, de US$ 9,9 bilhões, ficou 3% abaixo do esperado, mas sua maior preocupação eram os custos.
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O suave arrefecimento das linhas de custos versus suas estimativas garantiu que, mesmo com receita um pouco menor, o EBITDA ficasse em linha com sua projeção, (+1,2% versus estimativa da Genial), devido ao efeito sazonal de melhor produção, devido à entrada de um período mais seco no Sistema Sudeste.
O lucro líquido, de US$ 2,76 bilhões, foi 46% superior à projeção da Genial e triplicou na base anual, consolidando uma grande surpresa positiva. “No entanto, destacamos que o motivo disso é uma situação não recorrente. Em suma, identificamos uma melhora em relação ao esperado devido à reversão da redução do valor recuperável dos ativos não circulantes, circunstância contábil (não operacional)”, avalia Genial.
Entre outros pontos, em relação à divisão de Metais Básicos, o EBITDA saltou expressivos 58% no trimestre (embora ainda acumule uma queda de 14% na base anual), explicado em grande parte pelos maiores preços realizados, mas parcialmente compensado por maiores custos. Houve, no entanto, um consumo de caixa de US$ 178 milhões no trimestre, impactado negativamente pela variação do capital de giro (US$ 1,1 bilhão). A dívida líquida expandida da Vale atingiu US$ 14,7 bilhões no 2T24 (contra meta de dívida líquida de US$ 10 a 20 bilhões), queda de US$ 1,7 bilhão no trimestre, impulsionada por recursos provenientes do acordo da área de metais básicos.
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Porém, o lucro acima do esperado, até mesmo pelo efeito da reclassificação não operacional e do anúncio de lucros são duas situações que podem provocar reações mais positivas dos investidores ao resultado, avalia Genial.
A Vale anunciou lucro de US$ 1,6 bilhão na forma de juros sobre capital próprio, ou JCP (relacionado à sua política de dividendos mínimos para o primeiro semestre – o que implica um retorno anualizado de 6,5%, aponta o BBI), enquanto o programa de recompra é agora 22% concluídos (ante 17% no 1T24).
“É possível que o anúncio dos dividendos, dado o atual nível de desconto das ações, dê suporte para atrair um fluxo de investidores temporários até a data ex-remuneração, em 5 de agosto”, aponta Genial. O Goldman ressalta que não espera lucros extraordinários ou uma recompra mais significativa antes que as incertezas em torno do acordo com a Samarco sejam reduzidas.
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Recomendações e o que ficar de olho
Vendo as ações descontadas, analistas da XP, Genial e BBI têm recomendação de compra ou equivalente para a empresa. “Reafirmamos nossa recomendação de compra para VALE3, que está sendo negociado a 4,0 vezes o múltiplo EV, ou valor firme/EBITDA esperado para 2024 (implicando um desconto de 29% em relação aos pares e 15% à média histórica aproximadamente)”, aponta o BBI.
Por outro lado, a Genial ressalta que sabe que muitos gestores de fundos (principalmente os locais) estão muito relutantes em se tornarem compradores consistentes da Vale neste momento.
Ainda assim, mesmo construindo o pior caso no seu modelo para visualizar para onde as ações poderiam ir, ele observa um desconto severo em relação ao que consideraria um preço justo para as ações no nosso modelo versus a avaliação de mercado. “Sabemos que os investidores estão muito preocupados com a economia chinesa e com possíveis estímulos governamentais, além de saliências [possíveis fatores de pressão para as ações com enxurrada dos ativos no mercado]que também não favorecem um sentimento otimista [otimista] neste momento”, avalia.
Assim, a Genial entende que a tese de investimento na Vale pode ser considerada muito mais pelo nível irracional de desconto do que por um sentimento positivo em relação ao ambiente macroeconômico, que controla o ciclo das commodities.
“Então é uma encruzilhada. Temos a impressão de que as ações, se reagissem positivamente ao resultado, principalmente pelo efeito dos dividendos, seria através de um efeito ‘fogo de palha’, sem que a alta durasse muito. Porém, principalmente por estar sendo excessivamente penalizada pelo mercado e por ser uma empresa com sólida geração de caixa neste nível de preço descontado, reiteramos nossa recomendação de compra”, finaliza.
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Com visão de resultado neutro, mas também com recomendação de compra para as ações, o Goldman Sachs avalia ficar atento às primeiras declarações do novo CEO da unidade de metais básicos, Shaun Usmar. As perspectivas da companhia para o preço do minério de ferro para o 2S24, dinâmica de demanda e perspectivas para o mercado chinês, perspectivas operacionais para metais básicos, mais detalhes sobre a renovação da concessão ferroviária de Carajás e mais detalhes sobre Mariana e o governo também estão no radar.