Depois de ter um dos piores desempenhos do mundo no primeiro semestre, o Ibovespa parece, pelo menos por enquanto, ter deixado o pessimismo de lado. O principal índice da Bolsa de Valores brasileira iniciou o segundo semestre com uma sequência de nove pregões consecutivos de altas, algo não visto desde fevereiro de 2018.
Nesta quinta-feira (11), o Ibovespa fechou com alta de 0,85%, aos 128.293,61 pontos. Assim, o ganho desta última sequência de aumentos é de quase cinco mil pontos. Além disso, o principal índice da bolsa brasileira não fecha acima dos 128 mil desde 17 de maio.
A recuperação observada surge após um primeiro semestre marcado por um cenário de aversão ao risco, motivado principalmente pela expectativa de taxas de juros elevadas por mais tempo nos EUA e por questões políticas internas. No início do segundo semestre, porém, os dois principais fatores que levaram à queda de 7,6% foram perdendo força.
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De qualquer forma, o que os especialistas têm comentado é que o Ibovespa, nos níveis em que estava há algumas semanas, estava muito descontado. A reversão de parte dos gatilhos negativos que vinham puxando o índice para baixo permitiu que investidores – locais e estrangeiros – voltassem a olhar para as ações brasileiras.
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Ibovespa foi descontado
“O mercado acionário brasileiro foi o pior mercado acionário do primeiro semestre, ficando muito atrás do desempenho de seus pares como o México, por exemplo. Além disso, o Brasil também sofreu uma forte desvalorização da sua moeda. Tudo isso favorece a alocação aqui para estrangeiros, pois é mais barato para eles comprarem”, explica André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.
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Enrico Cozzolino, chefe de análise do Levante, segue o mesmo caminho. Para ele, o patamar de 118 mil pontos, que o Ibovespa atingiu – em meados do mês passado – foi algo “fora da curva”.
“O mercado de ações brasileiro estava extremamente barato e atrativo, com uma relação de risco muito favorável. Agora, temos isto combinado com o facto de o ruído político local ter arrefecido, bem como com a visão de que a Reserva Federal [Fed, o banco central americano] poderia cortar os juros em setembro, ganhando força”, afirma o dirigente do Levante.
Interesse nos EUA
Parte dos primeiros seis meses deste ano foi marcada pela expectativa de altas taxas de juros nos EUA por mais tempo. Dados mais fortes levaram o mercado a ver que o Fed poderia manter a taxa de juros inalterada em 2024, sem cortes.
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As taxas de juro mais elevadas nos Estados Unidos reduzem a atractividade dos activos de risco, especialmente nos mercados emergentes, com os investidores a preferirem a segurança do rendimento fixo norte-americano.
No entanto, desde meados de maio, alguns dados enfraqueceram este receio. Isso também foi observado nesta quinta-feira (11), por exemplo, com o Ibovespa se beneficiando da divulgação do índice de inflação ao consumidor (IPC) norte-americano de junho, que ficou abaixo do esperado.
O número moderado, com deflação de 0,1% segundo especialistas, renovou a esperança de juros mais baixos em setembro. De acordo com o CME FedWatch, hoje 84,6% do mercado vê um corte de 25 pontos base no fundos alimentados na reunião do nono mês do ano. Há um mês, esse número era de 47,2%.
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Problemas brasileiros
Na esfera política, o mês de julho foi marcado pela suavização do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se em parte do primeiro semestre ele atacou o mercado e o Banco Central e sinalizou menos responsabilidade fiscal, nos últimos dias os discursos pararam e o governo afirmou que respeitará o marco fiscal, anunciando até cortes de gastos.
“Grande parte do desempenho negativo deveu-se ao ruído político, que não está correlacionado com a actual situação económica do país. As empresas registam lucros crescentes e as projeções para o futuro estão a ser revistas em alta”, refere Fernandes, da A7.
Game Over?
O cenário, com tudo isso, vem melhorando para os ativos de risco brasileiros — que tendem a se consolidar. Mas ainda há variáveis a serem monitoradas.
“Vimos agora a primeira deflação nos Estados Unidos há algum tempo, o que é claramente positivo. Mas permanece a questão se teremos mais eventos que sustentem a continuação deste aumento. Os indicadores de inflação devem continuar a ser acompanhados de perto”, aponta Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.
“No Brasil sabemos que, por exemplo, até dez dias atrás o governo dizia que ia gastar muito. De repente, porém, ele mudou de discurso. Mas apenas mudar o discurso não é um fato. Precisamos ver como ele realmente se comporta”, afirma.
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