A recente valorização do dólar em relação ao real gerou rumores de que algumas empresas exportadoras poderão se beneficiar do movimento cambial. A lógica desse pensamento, que surge quando a moeda local perde força, é simples: empresas que vendem seus produtos majoritariamente fora do país ganham mais no câmbio, mantendo seus custos em reais, o que aumenta as margens. Mas para os especialistas, o saldo de uma variação como a recente é mais negativo do que positivo.
A princípio, o que quem acompanha as empresas debate é que a alta recente foi mais especulativa —tanto que o dólar, que tocava R$ 5,70, agora opera abaixo de R$ 5,50. O que vimos nas últimas semanas foi, principalmente, bancos, fundos e empresas montando posições para se “protegerem” no caso de uma reviravolta na economia brasileira (um medo criado, em grande parte, pelas declarações dos políticos).
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Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), explica que o movimento é “comum”, pelo fato do mercado financeiro no Brasil ser relativamente desenvolvido. No entanto, ainda é negativo. “Estas convulsões cambiais não são úteis para o mundo produtivo. O mundo produtivo busca a previsibilidade, a confiança e a redução da incerteza”, contextualiza.
Os exportadores geralmente já possuem vendas contratadas
O fato da oscilação ter sido muito rápida também não beneficia as empresas. O dólar passou do patamar de R$ 5 no início de abril para, três meses depois, estar mais próximo de R$ 5,50.
“Há pouco tempo para os produtores. Estamos falando de quatro a cinco meses para as coisas começarem a rolar. Os contratos já estão assinados. Existem elos de fornecimento de produtos”, explica o especialista do IEDI.
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Muitas empresas já têm suas produções contratadas e não necessariamente deverão se beneficiar dessa alta da moeda. Para ele, é provável que qualquer insegurança gere mais uma “pausa” nas negociações, com as empresas aguardando a consolidação do cenário para, a partir daí, fechar negócios.
Negociação
“Um trader de commodities, por exemplo, pode até estar aproveitando o momento para ganhar dinheiro, aproveitando a oportunidade. Mas do ponto de vista do produtor isso atrapalha mais do que ajuda, pois cria um certo grau de incerteza e dificulta os cálculos”, explica o especialista do IEDI.
José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), segue o mesmo caminho.
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“O exportador não foi programado para isso. Não há nenhum fato econômico que justifique o aumento da tarifa cobrada. Então ele se prepara de duas formas: ou simplesmente aumenta o preço antecipadamente, antecipando qualquer surpresa que possa ocorrer, como aconteceu agora, ou simplesmente esquece e continua cobrando o mesmo preço”, diz de Castro.
Importação, custos e hedge
No caso das empresas de matérias-primas, poderão registar alguns ganhos de receitas, que se farão sentir dentro de alguns meses. Mas essas empresas, num cenário de câmbio mais elevado, costumam sofrer também com custos operacionais mais elevados (devido à participação de produtos importados em suas cadeias), com maiores despesas financeiras (devido ao endividamento em dólares, o que é bastante comum) e com dificuldades financeiras. ferramentas (hedge para evitar surpresas com oscilações, por exemplo).
“Você tem penetração de produtos importados, como produtos químicos, máquinas e equipamentos eletrônicos em basicamente todas as cadeias”, diz Rafael Cagnin. “As coberturas, por sua vez, são caras, e ficam mais caras nessas horas. Por fim, a pressão financeira, com a deterioração dos ativos, tende a ser mais rápida que os ganhos cambiais em receitas”.
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As empresas que trabalham com produtos manufaturados, além de custos e instrumentos financeiros mais elevados, ainda enfrentam pressão dos preços praticados.
“Essas oscilações muitas vezes geram pressão dos compradores. Eles sabem que quando a taxa de câmbio sobe, os produtores recebem mais dinheiro. De olho nisso, eles podem pedir um desconto no preço. Mas e se o produtor der o desconto e o preço cair? O importador não vai concordar com o aumento depois…” debate o executivo da AEB.
Se a taxa de câmbio fosse estabelecida, as empresas que trabalham com produtos manufaturados poderiam até colocar preços mais competitivos no exterior (ganhando mercado, mas com margens menores). Mas esse não é, por enquanto, o caso.
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“Não se pode adotar uma regra prática, mas a desvalorização cambial nem sempre é boa. O câmbio para a indústria hoje é uma variável que pode gerar ganhos, mas também pode gerar custos”, afirma Rafael Cagnin. “Tudo isso, hoje, significa mais insegurança jurídica”, comenta de Castro.
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