O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Monetária do município, Gabriel Galípolo, buscaram mostrar convergência de opiniões nesta quarta-feira (15), com ambos defendendo uma postura dura da autoridade monetária no combate à inflação, depois de divergirem na mais recente decisão sobre redução de juros do Comitê de Política Monetária (Copom).
Em eventos separados, em Brasília e em Nova York, os dois enfatizaram o firme compromisso do BC com o centro da meta de 3% para a inflação, com Galípolo chegando a afirmar que considera votar um corte de 0,25 ponto percentual nos juros básicos na reunião de este mês.
Ao falar em evento na sede do BC, Campos Neto disse que a discussão no Copom da semana passada foi centrada em argumentos técnicos, atribuindo “extrema relevância” à desancoragem das expectativas de inflação, com o colegiado avaliando por unanimidade a importância de buscar a reancoragem, independentemente de suas causas.
Campos Neto ressaltou que num debate sobre o trabalho do BC não se deve falar em faixa de tolerância para a meta de inflação, reforçando que a meta é de 3% e precisa ser perseguida.
Segundo ele, o BC já havia informado anteriormente que a orientação futura da política monetária tinha condições.
“Na reunião discutimos as condições, o debate foi sobre a gradação das condições, e não sobre a validade das condições e dos argumentos”, afirmou.
O BC cortou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual no dia 8 de maio, para 10,50% ao ano, reduzindo o ritmo de flexibilização monetária após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto.
A decisão foi tomada por 5 a 4, com voto favorável de Campos Neto e de outros quatro diretores que já ocupavam cargos desde o governo anterior, enquanto os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo Galípolo, discordaram e defenderam a manutenção do corte mais forte.
Em seminário promovido pelo Valor Econômico em Nova York, Galípolo disse “concordar” com comentários feitos anteriormente por Campos Neto, defendendo também que a meta de inflação “não se discute, se busca e se cumpre”.
“Cabe aos diretores [do BC] colocar a taxa de juros em patamar suficientemente restritivo e pelo tempo necessário para que a inflação convirja para a meta. Essa é a função do Copom e não há nenhum tipo de tergiversação sobre esse tema”, disse.
A meta de inflação é de 3% para este e os próximos dois anos, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. O mercado tem mantido persistentemente as expectativas para o período acima do centro da meta, com piora nas últimas semanas.
Galípolo disse que considera votar um corte de 0,25 ponto percentual e que teria ficado “confortável” com essa decisão.
Apesar de ter votado a favor de 0,5, disse que “ganha-se muito” ao reduzir o ritmo da flexibilização monetária, com o corte de 0,25 pontos a sinalizar um tom adicional de preocupação.
Na opinião do diretor, seria negativo se o conselho se movimentasse para formar algum tipo de consenso buscando exclusivamente se proteger de críticas.
Ele afirmou que a divisão na reunião do Copom sobre o ritmo de corte da Selic girou em torno do debate sobre os ganhos do aumento da cautela versus o custo de não seguir o “forward guidance”. [orientação] colegiado anterior.
Galípolo acrescentou que não foi consultado por Campos Neto antes do discurso do presidente do BC em Washington, em abril, no qual sinalizou que a autarquia poderia ter abandonado a orientação futura da política monetária.
Ele argumentou, porém, que não considera isso um problema, destacando que Campos Neto é um defensor da autonomia da instituição e de seus membros.
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