Item consumido em grande escala pelos brasileiros, o arroz vendido aos produtores já registrou alta de 4% desde o início das fortes chuvas no Rio Grande do Sul.
Do final de abril até esta terça-feira (14), o preço da saca de 50 kg subiu de R$ 105,98 para R$ 110,23, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).
Os dados são coletados do Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga), órgão da Secretaria de Agricultura do RS.
Segundo o instituto, um dia após a intensificação das chuvas, no dia 29 de abril, o valor dos grãos aumentou 1,08%.
O estado é responsável por cerca de 70% da produção nacional de alimentos.
Embora seja em relação aos preços para o produtor, o impacto pode acabar chegando ao bolso do consumidor, na opinião de especialistas.
“Dada a importância da produção de arroz do Rio Grande do Sul no Brasil como um todo, entendemos que um aumento de 20% nos preços no atacado poderia acontecer no curto prazo”, afirma Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena.
E o produto pode ficar mais caro não só no estado, mas em todo o país, segundo avaliação do economista e especialista em inflação da FGV/Ibre, André Braz.
Além disso, o aumento dos preços deverá ser ainda mais intenso devido ao desespero dos consumidores com a possibilidade de o arroz acabar nas prateleiras.
“Muita gente tem comprado o produto antecipadamente, justamente por medo de faltar. Isso não só ajuda a aumentar o preço, mas também esgota o produto mais rapidamente, porque as pessoas passam a estocar arroz”, destaca Braz.
“Isso não será positivo tanto em termos de preço quanto em termos de atendimento à maioria da população, que acaba sem o produto”, finaliza.
O economista do Ibre reforça que os preços têm tendência de alta no longo prazo devido à dimensão da catástrofe.
“Está tudo alagado, continua chovendo e a recuperação do solo após a enchente – permitindo um novo ciclo de plantio – vai demorar. Isso comprometerá o calendário de plantio da cultura e poderemos notar esse efeito por muitos meses”, ressalta Braz.
Pela potencial extensão do problema, segundo Ângelo, Warren elevou a perspectiva de aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do país, devido ao impacto na produção gaúcha. A estimativa da corretora passou de 3,8% em 2024 para 3,9%.
A XP também elevou as apostas e vê um cenário ainda mais pessimista para os preços dos alimentos no país, que devem subir 4,2% este ano. Anteriormente, a previsão era de 3,8%.
Colheita
Segundo levantamento do Irga, o RS tinha um total de 900.203 hectares de arroz a serem colhidos. Do total, estima-se que 84% da produção já foi colhida e que 2,5% das plantações foram perdidas.
Em relatório sobre os impactos, o Santander avalia que apesar do atraso na colheita da safra 2023/24, o RS esteve adiantado nesse quesito.
Porém, o relatório é preliminar e não considera perdas que possam ter ocorrido no produto já colhido.
“Mas quanto pode ter sido perdido nos silos? Portanto, haverá especulação no curto prazo, com pressão altista nos preços”, avalia a professora e pesquisadora do Cepea-Esalq, Andréia Adami.
Em relatório, pesquisadores do Cepea reforçam a preocupação com a perda de grãos já colhidos.
“Além disso, algumas estradas estão fechadas, o que também dificulta o carregamento do cereal. Esse cenário aumenta a incerteza em relação à produtividade da safra 2023/24”, pontua.
Do outro lado das análises que avaliam que as perdas ainda não podem ser estimadas, a Federação das Associações dos Produtores de Arroz do Rio Grande do Sul (Federarroz) avalia que a oferta do estado é suficiente.
Em entrevista com CNNO presidente da Fedearroz, Alexandre Velho, argumenta que o problema logístico que os produtores do RS enfrentam para escoar seus produtos não é motivo de grande alarido.
“NJá temos rotas alternativas [para fazer o transporte]. O que está a acontecer com o arroz é uma questão de logística. Não há risco de desabastecimento no país, considerando que até aumento da área de produção dentro e fora do Rio Grande do Sul”, afirmou Velho.
Velho diz que os problemas são específicos, principalmente dos produtores da região central do estado, onde há maior risco de inundações. Segundo o presidente da Fedearroz, o risco de deterioração do arroz colhido é baixo, uma vez que a maioria das áreas de armazenamento está em boas condições.
Antecipadamente, o governo federal já anunciou que poderá importar até um milhão de toneladas de arroz para atender a demanda e sustentar os preços do arroz.
Importar
Segundo Fedearroz, as importações pressionarão os preços, desanimando os produtores gaúchos na próxima safra. Há pontos de atenção nessa transação, como custos de importação, frete e também câmbio, segundo análise de Adami, do Cepea.
Para André Braz, a recente alta dos preços do arroz no mercado internacional em decorrência dos cortes nas exportações da Índia também é um ponto de atenção.
Porém, para garantir que os preços não subam ainda mais, a ideia do governo é subsidiar parte dessa compra.
O objetivo é que o pacote de cinco quilos não ultrapasse o valor de R$ 20.
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