O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu os juros em 0,25 ponto percentual (pp) nesta quarta-feira (8), levando a taxa Selic para 10,50% ao ano. O movimento marca a desaceleração no ritmo dos cortes após seis reduções consecutivas de 0,50 ponto e coloca a taxa básica no menor nível desde o final de 2021.
A declaração do colegiado mostra que a decisão foi dividida. Cinco membros, incluindo o presidente Roberto Campos Neto, foram a favor do corte de 0,25 p.p., enquanto quatro diretores — todos indicados pelo governo Lula — votaram a favor da manutenção da alíquota de 0,50 ponto.
“O Comitê, por unanimidade, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por atividade resiliente e expectativas não ancoradas exigem maior cautela. Enfatiza também que a política monetária deve permanecer contracionista até que não só o processo de desinflação seja consolidado, mas também a ancoragem das expectativas em torno dos seus objetivos”.
O colegiado também não indicou previsões para as próximas reuniões, ao contrário do que foi publicado nas últimas reuniões.
“O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação dos futuros ajustes nas taxas de juros serão ditadas pelo firme compromisso com a convergência da inflação à meta.”
Os membros do Copom também destacaram que o ambiente externo apresenta mais desafios diante da incerteza com o início da queda dos juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed).
“Os bancos centrais das principais economias continuam determinados a promover a convergência das taxas de inflação para as suas metas num ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário continua exigindo cautela por parte dos países emergentes”.
No âmbito doméstico, o BC destacou que “os indicadores da atividade econômica e do mercado de trabalho têm mostrado um dinamismo maior do que o esperado”.
Mercado já esperava corte de 0,25 ponto
A decisão segue as apostas da maioria dos analistas, que previam a perda de fôlego com a flexibilização monetária, segundo dados do Boletim Focus publicados nesta segunda-feira (6).
A percepção de redução no ritmo dos cortes se acentuou na semana passada depois que o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) manteve os juros entre 5,25% e 5,5% — a faixa mais alta em mais de duas décadas —, e descartou a possibilidade de início de queda nas taxas de juros nos próximos meses, uma vez que os dados de inflação permanecem acima do esperado.
No cenário interno, a pressão vem do lado fiscal depois que o governo alterou a meta de 2025 para déficit zero —o mesmo esperado para este ano—, ante a expectativa de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
A previsão para 2026 também foi alterada, de 1% para 0,25%. O excedente de 1% só está previsto para 2028. Desta forma, adiando a possível estabilização da dívida pública do país.
A mudança reforçou a desconfiança do mercado na responsabilidade da União em promover o ajuste das contas e evitar o aumento dos gastos públicos, tendendo a pressionar as expectativas cambiais e de inflação.
A diretoria iniciou o atual ciclo de queda dos juros em agosto de 2023, quando a taxa passou de 13,75% para 13,25% ao ano —a primeira redução desde 2020.
Esta foi a terceira edição do Copom em 2024, que se reúne a cada 45 dias para debater os rumos dos juros no país. A próxima reunião está marcada para os dias 18 e 19 de junho.
Cenário aponta para novas reduções
Analistas do mercado financeiro projetam novos cortes nas próximas reuniões do Copom, dando continuidade ao processo de flexibilização monetária destacado nas últimas reuniões do colegiado.
Os dados do Focus apontam para que a taxa terminal em 2024 esteja na faixa de 9,63%, e 9% em 2025.
O corte mensal da pesquisa mostra que em junho, quando o Copom se reúne pela terceira vez neste ano, as taxas de juros voltaram a cair 0,25 p.p., caindo para 10,25%.
O cenário inflacionário também deixa espaço para apostas na manutenção do ciclo descendente, com a redução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caminhando em direção à meta do BC.
Em março, o indicador oficial de inflação interna desacelerou para 0,16%, ante um salto de 0,86% em fevereiro. Nos últimos 12 meses, a variação de preços aumentou 3,93%.
Para este ano, a autoridade monetária persegue o centro da meta de 3%, com margem de 1,5 pp para cima ou para baixo (1,5% — 4,5%).
Em 2023, o indicador oficial de inflação brasileiro encerrou com alta de 4,62% após ultrapassar o teto da meta imposta ao BC em 2021 e 2022.
Compartilhar: