O Brasil vive uma seca histórica que traz de volta aos produtores de soja memórias arruinadas da colheita passada, mas expectativas de que as chuvas voltem.
E tornar-se mais volumoso a partir de outubro traz otimismo em relação à produção em 2024/25, que poderá aumentar 14% em relação a 2023/24, segundo pesquisa da Reuters com números de dez analistas e instituições do setor.
Mesmo com o plantio atrasado um pouco devido à estimativa severa, a colheita cresceu para 168 milhões de toneladas, pela estimativa média, ante 147,4 milhões de toneladas no ano anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Este crescimento seria graças a uma recuperação da produtividade, fortemente afetada em vários Estados pelas intempéries em 2023/24.
As preocupações dos produtores com a safra que começa a ser plantada neste mês, por enquanto, estão mais ligadas às menores margens de lucro devido aos preços mais baixos, o que deve limitar o crescimento do plantio no país, maior produtor e exportador de soja.
Segundo pesquisa da Reuters, a área plantada com soja no Brasil foi estimada, pela média de oito casas de análise, em 46,6 milhões de hectares, ainda um recorde, mas apenas 1,3% acima da temporada anterior.
Esse índice também indica o pior desempenho desde 2006/07, quando o total plantado se recuperou em relação ao ano anterior.
“Será um crescimento muito inferior ao que temos visto nos últimos anos, em média crescemos 5% nos últimos anos.
Vai crescer menos pelas margens mais apertadas, a soja tem preços mais baixos…”, disse o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque, da consultoria que tem expectativa de produção maior entre as instituições de pesquisa, com 171,5 milhões de toneladas.
Os preços da soja no índice de referência de Chicago estão oscilando perto dos níveis mais baixos em cerca de quatro anos, em meio a expectativas de uma colheita recorde nos Estados Unidos, principalmente.
“Naturalmente, há menos incentivo para avançar para novas áreas”, acrescentou Roque.
Gabriel Faleiros, gerente de pesquisa LATAM da S&P Global Commodity Insights, disse que o cálculo de “nivelamento de preço para abertura de novas áreas no Brasil”, para conversão de pastagens em farinha de soja, gira em torno de US$ 9,50 por bushel.
Há pelo menos cerca de quatro anos em Chicago, alcançado em meados do mês passado, está em torno desse patamar de preços, o que não é incentivo para o produtor ampliar área no Brasil, acrescentou Faleiros.
Já ambos os analistas avaliam que as chances de recuperação da produtividade são grandes, considerando que os modelos climáticos apontam para uma melhora nas condições de chuvas a partir de outubro, quando maior parte do setor inicia o plantio.
Segundo Faleiros, as chuvas abaixo da média em setembro não são muito preocupantes, porque até o final deste mês, pela média histórica de cinco anos, o Brasil planta apenas 4% de sua colheita.
“Provavelmente não veremos um ritmo (de plantio) mais rápido do que esse neste período”, disse o especialista da S&P Global Commodity Insights.
“Mas em outubro vemos uma colheita normal, pouca influência do La Niña, um La Niña fraco, tendendo à normalidade. Portanto, não vejo nada muito alarmante”, acrescentou.
Apesar da confiança na recuperação da produtividade, a S&P Global Commodity Insights tem uma das projeções mais baixas para a produção, com 165 milhões de toneladas.
“Falar de produtividade neste momento é um pouco cedo, temos que seguir o regime climático.
O ponto importante agora também é a definição de área, o quanto o produtor vai expandir”, afirmou Faleiros, lembrando que a S&P Global Commodity Insights projeta a menor expansão de área em cerca de 15 anos.
Roque, da Safras & Mercado, não considera que o clima “esteja assustando” o setor soja.
“O produtor vai se lembrar dos problemas da safra passada, mas o início de setembro, ainda seco, não é grande coisa. As chuvas começam a chegar a partir de meados de setembro, devem demorar um pouco, mas os mapas estão mostrando regularidade de chuvas para outubro.”
O fato é que o clima será fundamental para a rentabilidade do setor, que precisará de uma boa produtividade média num ambiente de preços baixos, disse a analista Daniele Siqueira, da AgRural.
“A perspectiva de rentabilidade para a nova safra se deve justamente à expectativa de produtividade normal”, afirmou.
Siqueira considerou que em anos de La Niña, como esperado para esta temporada, o maior produtor mato-grossense em geral tem tido boa produtividade, o mesmo acontecendo com os estados do Norte e Nordeste, embora o Sul esteja mais sujeito a períodos de seca.
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