Dados do Tesouro Nacional indicam que o governo Lula terá R$ 138 bilhões de espaço extra para gastos em 2025. A parcela do Orçamento disponível para a gestão federal escolher em que gastar — a chamada discricionária — deverá ficar em torno de R$ 11 bilhões , no entanto.
O novo marco fiscal permite que as despesas governamentais, de um ano para outro, cresçam até 70% da variação da Receita Líquida Ajustada (RLA). Esses dados são medidos ao longo do período de 12 meses, de julho a junho (e, portanto, já estão encerrados). A regra, porém, limita esse adiantamento a 2,5% das despesas do ano anterior.
Com o forte avanço do RLA neste ano, o governo garantiu um aumento de 2,5% das despesas para o próximo ano. Dessa forma, o Executivo terá limite de gastos de R$ 2,162 trilhões em 2025, R$ 138,3 bilhões acima do teto deste ano, de R$ 2,024 trilhões, segundo dados obtidos pela CNN.
Cálculos do economista da XP Investimentos, Tiago Sbardelotto, mostram que cerca de R$ 127 bilhões desse espaço (92%) devem ser consumidos por despesas obrigatórias — restando pouco mais de R$ 11 bilhões para o governo escolher onde gastar. Desse valor, R$ 4,6 bilhões serão “investimentos mínimos” em saúde e educação, e o restante será gratuito.
A participação dos obrigatórios é impulsionada, por exemplo, pela correção do salário mínimo acima da inflação, política de Lula que deve levar seu valor para R$ 1.502 em 2025. O salário mínimo reajusta uma série de benefícios sociais e previdenciários , como o Benefício de Prestação Continuada (BPC, antiga aposentadoria por invalidez) e o abono salarial.
Não está descartado, porém, que o espaço para gastos discricionários seja ainda menor. Sbardelotto vê o avanço das obrigações obrigatórias subestimado pelo governo e acredita que os bloqueios poderiam comprimir ainda mais as despesas que o Executivo controla.
Especialistas e entidades como a Instituição Fiscal Independente (IFI) têm alertado sobre o avanço das exigências obrigatórias no Orçamento. No seu mais recente relatório mensal, a IFI indicou mesmo “a possibilidade de um estrangulamento fiscal em 2027”, devido ao “crescimento progressivo das despesas primárias obrigatórias”.
Murilo Viana, especialista em contas públicas, explica que esse gargalo não significa que as contas discricionárias chegariam a zero. Mas indicariam um Orçamento rígido, uma vez que algumas das restantes disposições discricionárias “assumiriam uma componente quase obrigatória”, como os pisos da saúde e da educação, por exemplo.
De olho nesse movimento, o governo federal anunciou uma revisão dos benefícios sociais e previdenciários, que já vem sendo implementada por ministérios e autoridades. Mudanças nas regras estruturais, como a indexação dos pagamentos ao salário mínimo, foram por agora descartadas pela equipa económica.
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