Os trabalhadores têm medo de se desconectar durante as férias, o que pode ter consequências a longo prazo
Para muitos, o mês de julho marca o início das férias e o momento de se desligar das obrigações profissionais.
No entanto, muitos trabalhadores vivenciam o fenómeno do “Medo de Desligar” (FOSO) — medo de se desligar, que pode ter consequências como queda de produtividade e esgotamento, segundo Robert Half, uma consultora de recursos humanos.
Em vez de descansar, os profissionais permanecem “ligados” ao trabalho e até disponíveis para conversas ou reuniões, com medo de prejudicar o andamento das demandas e, consequentemente, sentirem maior pressão no retorno.
Segundo Maria Sartori, diretora associada da Robert Half, esse comportamento é um dos legados da pandemia, quando as fronteiras entre a vida pessoal e profissional praticamente desapareceram.
“Muitos profissionais faziam as refeições durante o trabalho, ampliavam o horário e levavam as coisas para o final de semana”, diz.
Nesse cenário de excesso de trabalho aparecem outros sintomas, como ansiedade, insônia e depressão, além de falta de energia, mau humor e outros danos físicos e psicológicos de longo prazo, alertou Sartori.
Carolina Terra, pesquisadora e professora da USP, destaca que esse movimento vem crescendo nos últimos anos devido ao uso excessivo de plataformas sociais e dispositivos que “nos deixam conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana”.
Hiperconexão
FOSO é semelhante ao “Fear of Missing Out”, em que a pessoa sente medo de não acompanhar atualizações, acontecimentos ou tendências. Os dois têm em comum a hiperconexão, que atinge diferentes camadas da sociedade, principalmente os mais jovens.
“Os jovens estão muito mais suscetíveis ao FOMO e a essa ideia de que vai faltar alguma coisa se não estiver hiperconectado”, explica Michelle Prazeres, fundadora e pesquisadora do Instituto Desacelera.
Prazeres acrescenta que “estas tecnologias têm um modelo de negócio lucrativo baseado no facto de que quanto mais tempo gastam em tecnologia, melhor para estas empresas (…) e é uma narrativa que nem sempre é declarada, é velada”.
Segundo o especialista, esse estilo de vida leva ao esgotamento dos indivíduos e acaba levando ao resultado desejado.
“A verdade é que não é conectar, é desconectar as pessoas de um modo de vida mais humano”, avaliou o pesquisador.
A desaceleração como alternativa
Robert Half afirma que garantir um período de descanso completo é importante para garantir que a saúde física e mental continue em ordem e, assim, também seja possível entregar bons resultados no trabalho.
“As lideranças devem dar um bom exemplo. Se eles se desconectarem durante as férias, suas equipes provavelmente farão o mesmo. Defina expectativas em
em relação ao período e é recomendável compartilhar essas informações com o restante da equipe”, disse o diretor da Robert Half.
Outra alternativa foi encontrada por Michelle Prazeres: desacelerar.
“Quando vivemos um problema sistémico, não podemos pensar apenas em soluções individuais, embora seja muito importante trabalharmos com os indivíduos para que possam mudar tanto as suas próprias vidas como os contextos em que trabalham”, indicou. ela.
Para o fundador do Instituto Desacelera é preciso pensar que os corpos não são máquinas e que cada indivíduo tem direito ao descanso, à pausa e à reflexão sobre a vida.
“Desacelerar não é ser lento. Desacelerar significa deixar de ser o automático, o ininterrupto e anestésico que é este tempo, e nos perguntamos quando a velocidade faz sentido e quando a velocidade não faz sentido”, concluiu.
*Sob supervisão de Gabriel Bosa
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