O Banco da Inglaterra (BoE) destacou que os ajustes ao ambiente de altas taxas de juros ainda não estão completos no Reino Unido, em seu Relatório Trimestral de Estabilidade Financeira, divulgado nesta quinta-feira, 27. Os bancos britânicos estão bem capitalizados e têm uma forte posição de liquidez para apoiar famílias e empresas caso as condições económicas se deteriorem.
O relatório concluiu que o ambiente geral de risco para o setor financeiro praticamente não se alterou face ao primeiro trimestre: os mercados continuam a precificar um cenário económico benigno e as famílias e empresas estão resilientes, apesar da pressão causada pelo aperto monetário.
Por outro lado, o BoE observou a necessidade de abordar os riscos associados ao sector imobiliário a nível global. Particularmente no Reino Unido, o relatório do banco central observou que o impacto total do aperto monetário ainda não foi transferido para as hipotecas. Os efeitos podem variar entre aproximadamente 35% e 50% nos aumentos de pagamento de empréstimos refinanciados, por exemplo.
Outro risco destacado pelo BoE é o rápido crescimento do sector de private equity, que desempenha um papel significativo no Reino Unido na alavancagem de empresas e foi avaliado em 8 biliões de dólares em 2023.
Segundo o BC britânico, esses riscos e outras vulnerabilidades identificadas em relação ao posicionamento em hedge funds serão analisados nos seus próximos testes de estresse bancário, em conjunto com os órgãos reguladores do Reino Unido.
O Conselho de Estabilidade Financeira do BoE anunciou ainda que manterá a taxa de reserva de capital anticíclica na sua configuração neutra de 2%.
Eleições
No mesmo relatório divulgado esta quinta-feira, o BoE afirmou que a onda global de eleições aumenta os riscos geopolíticos e pode afetar o setor financeiro do Reino Unido. O BC britânico alerta ainda que os mercados financeiros estão vulneráveis a uma “forte correção”, dados os elevados preços das ações e rendimentos dos títulos.
O ambiente político incerto a nível global pode gerar “volatilidade nos mercados financeiros” e aumentar as pressões das dívidas soberanas existentes, dos riscos geopolíticos e da fragmentação comercial. “Todos eles são relevantes para a estabilidade financeira do Reino Unido”, aponta o relatório.
O BoE destaca, por exemplo, a resposta dos mercados ao anúncio de eleições parlamentares em França, que elevou os spreads de juros entre as obrigações francesas e o Bund alemão a 10 anos para o nível mais elevado desde 2017.
Ao mesmo tempo, o BC britânico observa que houve uma diminuição dos prémios de risco para os ativos norte-americanos, sugerindo que os investidores continuam a “colocar menos peso” nas ameaças ao cenário macroeconómico. “Isto deixa os mercados vulneráveis a uma correção desencadeada pelo enfraquecimento das perspetivas de crescimento, pela inflação persistente ou pela deterioração das condições geopolíticas”, observa o relatório.
Além dos ativos e obrigações, este cenário poderá afetar a disponibilidade de crédito no Reino Unido, tornando mais caro e difícil o refinanciamento da dívida das empresas, reduzindo o valor das garantias e afetando uma “parte relevante da economia britânica”. De acordo com o BoE, há uma grande proporção de empréstimos alavancados e dívida empresarial de alto rendimento que vencem até ao final de 2025.
Outro impacto no crédito poderá ocorrer através de perdas por parte dos participantes no mercado alavancados, reduzindo a apetência pelo risco ou aumentando a procura líquida face ao aumento das vulnerabilidades.
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