Após a sanção da lei que permite os jogos online no Brasil, o setor registrou um aumento significativo de apostadores na modalidade, superando inclusive o número de investidores na Bolsa de Valores brasileira, a B3.
Levantamento da Associação Brasileira de Entidades de Mercado (Anbima) mostrou que, em 2023, cerca de 22 milhões de brasileiros, o equivalente a 14% da população, participaram de apostas online, enquanto apenas 2% investiram na bolsa de valores no mesmo período.
Especialistas apontam para uma mudança no comportamento brasileiro e debatem se esse fenômeno reflete uma tradição cultural arraigada ou se as pessoas estão vendo as apostas como uma forma de investimento, visão que tem sido desencorajada pelas plataformas.
Edson Lenzi, CEO da PayBrokers, empresa especializada em soluções de pagamentos para o segmento de iGaming e Loterias no Brasil, prevê um aumento no número de apostadores com o avanço da regulação do mercado no país.
“O principal objetivo do jogo é proporcionar entretenimento e diversão. Com maior segurança e confiança, principalmente nos pagamentos, mais pessoas se sentirão confortáveis em participar dessas atividades, o que contribui para o crescimento do mercado”, afirma.
Ícaro Quinteiro, do Grupo Esportes da Sorte, atribui o aumento ao fácil acesso e à adequação dos valores às possibilidades da maioria dos brasileiros, algo que contrasta com os altos valores necessários para investir na bolsa.
“Acreditamos que no mercado de apostas, até porque os valores são extremamente voláteis na escolha do usuário, é muito mais fácil ter um investimento que se adeque à realidade da maioria dos brasileiros, enquanto qualquer investimento em bolsa implica números que normalmente são muito maiores do que a maioria da sociedade consegue participar”, ressalta.
Marcos Sabiá, da galera.bet, alerta que comparar o volume das apostas com os investimentos na bolsa pode gerar mal-entendidos sobre a natureza das apostas online. Ele destaca ainda que estes devem ser tratados como entretenimento e não como investimento.
“Comparar o volume de apostas com o de investimento em bolsa leva ao entendimento incorreto de que apostas e jogos eletrônicos são formas de investimento. Esse entendimento deve ser veementemente combatido, pois as apostas e os jogos online fazem parte da indústria do entretenimento e devem ser tratados como tal pelas empresas, pelos consumidores e pela sociedade em geral”, alerta.
Ricardo Bianco Rosada, fundador da consultoria brmkt.co, destaca os fatores que impulsionam as apostas, como facilidade de pagamentos e acessibilidade aos jogos, ao mesmo tempo que critica o distanciamento da bolsa em relação à população comum.
Ele também prevê um marco de 28 milhões de usuários até 2024.
“A facilidade e menor atrito nos métodos de pagamento, a simplificação de alguns jogos iGaming com crash games e mini slots, e o ticket de entrada ‘baixo’, são alguns dos pontos que aumentam a entrada de novos usuários. A Bolsa vem tentando há anos, e infelizmente em vão, trazer mais investidores para o mercado, apesar de investir constantemente em educação, mas sem mudar a abordagem para atrair mais clientes”, destaca.
Cristiano Maschio, da Qesh, observa o crescimento entre os apostadores mais jovens e destaca a busca por diversão e renda extra nas apostas esportivas.
“Vemos esse aumento nas pessoas entre 28 e 36 anos, representando a principal faixa etária entre quem aposta. A prática tem sido amplamente adotada entre aqueles que querem apenas dar mais emoção às partidas de futebol e acabam fazendo aquela coisinha, com tarifas baixas. Mas, também há casos em que se busca, de fato, gerar renda extra por meio de apostas esportivas”, afirma.
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