O conteúdo do comunicado divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após manter a Selic em 10,5%, em reunião nesta quarta-feira (19), reforçou a percepção no mercado financeiro de que a taxa básica deve permanecer neste patamar. nível até o final do ano.
Este é o cenário projetado por 35 de um total de 42 casas (83%) consultadas pela Projeções Broadcast.
O fato de a decisão ter sido referendada por todos os conselheiros também foi bem recebido pelos agentes de mercado, que acreditam que o movimento poderá corrigir a “desancoragem” das projeções de inflação, ou seja, aproximá-las da meta oficial de inflação. inflação.
“Por enquanto, reduziu muito do ruído que restou da última reunião”, afirma o sócio e economista sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.
Ele se refere à reunião do Copom de maio, quando os quatro diretores do BC já indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votaram pelo corte de 0,5 ponto percentual na Selic.
A posição dos outros cinco diretores prevaleceu por um corte de 0,25 ponto, mas o episódio levou o mercado a projetar o risco de um BC mais brando com a inflação após a saída do atual presidente, Roberto Campos Neto, em dezembro.
Para 2025, porém, a retomada da flexibilização continua em jogo, segundo o economista da Tendências, que prevê taxa básica de juros de 9,50% no final do próximo ano.
Ele ressalta que esse cenário está condicionado à materialização dos cortes de juros nos Estados Unidos ainda neste ano e às iniciativas do governo federal para maior controle fiscal, além de uma “transição bem feita” no comando do BC.
A avaliação é, em grande parte, corroborada pelo economista Danilo Passos, do WHG. Ele, que já previa estabilidade da Selic em 10,50% até o fim de 2024, avaliou o comunicado divulgado pelo Copom como neutro e equilibrado.
“A comunicação do BC mostra que a estratégia que eles vão adotar, pelo menos nas próximas reuniões, é realmente manter a Selic parada por um tempo para observar o desenvolvimento externo e interno”, afirma. O WHG prevê que os cortes da Selic voltem em 2025, levando a taxa para 9,75%.
‘Moderação’
No comunicado divulgado após a reunião, o Copom afirmou que “as circunstâncias nacionais e internacionais” justificam atualmente “serenidade e moderação”.
“A situação atual, caracterizada por uma fase do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, um aumento na desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, exige serenidade e moderação na condução da política monetária.”
No caso da economia doméstica, o comunicado destaca que o mercado de trabalho continua a “mostrar maior dinamismo do que o esperado” e que há “maior resiliência na inflação dos serviços”.
A questão tributária foi citada novamente pelo Copom:
“O comité reafirma que uma política fiscal credível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para ancorar as expectativas de inflação e reduzir os prémios de risco sobre activos financeiros, impactando consequentemente a política monetária.”
Algumas empresas, porém, não veem espaço para a retomada da flexibilização ainda em 2025, como Banco Citi, Itaú Unibanco e XP Investimentos.
Em relatório, o Citi avaliou que a inclusão de um cenário alternativo por parte do BC foi o principal destaque do comunicado, e reforçou a visão “mais agressiva” que o banco tem para a política monetária.
O economista-chefe da XP, Caio Megale, destacou, em áudio enviado aos clientes, que o ambiente “ficou mais complexo” desde a reunião de maio, com destaque para a deterioração dos “fundamentos ligados à inflação”, o que sugere maior cautela do BC .
“O Copom sinalizou claramente que essa taxa de juros deve permanecer nesse patamar por muito tempo, para garantir a convergência à meta”, disse Megale, mencionando ainda que essa visão foi reforçada pela apresentação do cenário alternativo de inflação do colegiado.
Lula
Um dia após a decisão do Copom, Lula voltou a atacar a política monetária mantida pelo Banco Central.
Segundo ele, a decisão “foi uma vergonha” para o país. O presidente também acusou os bancos privados de preferirem “ganhar dinheiro com taxas de juro elevadas” em vez de aumentar a oferta de crédito.
As novas declarações foram dadas em entrevista à Rádio Verdinha, do Ceará, e repercutiram no mercado de câmbio.
“Então, foi uma pena. Foi uma pena o Copom ter mantido (a Selic), porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro.
Porque quanto mais pagamos juros, menos dinheiro temos para investir aqui.
E isso tem que ser tratado como despesa”, disse Lula. “Não vejo o mercado falando de gente que precisa do Estado.”
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